E X T R A

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Quando as rajadas chegaram para me derrubar eu segurei tão forte quanto você segurou a mim

ASHLEY

O amor havia destruído a minha vida.

Tive a certeza disso quando aos dez anos de idade vi meus pais morrendo na minha frente. Tudo havia acontecido rápido demais, uma hora estávamos todos rindo e brincando e na outra estávamos de cabeça para baixo. 

O carro havia capotado.

O sangue escorria no topo da cabeça da mamãe, ela estava desacordada ao contrário de papai que tentava desprender o meu sinto, pude ver o desespero nos olhos dele ao tentar salva a minha vida...se eu soubesse que aquela seria a última vez que eu os veria, talvez permanecesse naquele carro junto com eles.

Com lágrimas nos olhos papai disse que me amava, não pude me despedir deles, não, o carro explodiu antes disso.

Eu vi meus pais serem enterrados em uma cova e não consegui derramar uma única lágrima, eu parecia anestesiada, não sentia nada, não falava nada.

Minha tia segurou em meus ombros e me conduziu até o carro quando o enterro tinha terminado, muitos haviam chorado, minha avó era uma delas.

Em todo o momento eu só conseguia me concentrar em seu rosto, sem acreditar como ela tinha a coragem de chorar quando era a culpada daquilo ter acontecido...

Horas antes do acidente, minha avó pela milésima vez discutiu com a mamãe reclamando do papai, dizendo que ele deveria arrumar um emprego de verdade ao em vez de querer ser músico, pois aquilo não colocaria comida na mesa, quando vovó foi embora, mamãe começou a chorar baixinho, ela não aguentava mais as afrontas da minha avó, mas não podia fazer muita coisa pois morávamos em sua casa.

Na mesma hora vi papai chegar com o violão nas costas, assim que viu minha mãe chorando ele soube de imediato que era por causa da vovó, todos os dias ela dizia que papai não prestava, que amor não enchia barriga e que mamãe deveria ter casado com o filho da sua amiga Vilma em vez de um vagabundo como ele.

Papai sempre foi um homem paciente, sempre aguentou todas as reclamações calado, mas naquele dia algo estava diferente, ele parecia decidido enquanto enxugava as lágrimas da minha mãe e dizia para eles fugirem daquele lugar, eu observava tudo, mamãe olhar para ele com descrença e perguntar do que eles sobreviveriam e papai dizendo para ela que o amor deles poderia vencer qualquer barreira, mas papai estava errado. O amor poderia superar muitas coisas, menos a morte.

Naquele dia, quando entrei no carro da minha tia para ser levada até sua casa esperando que decidissem com quem eu ficaria a partir daquele momento, eu havia tomado uma decisão, jamais cometeria o mesmo erro que meus pais, jamais amaria alguém ao ponto de me tornar irracional, jamais teria filhos para nunca ter que fazê-los passar pela mesma coisa que eu.

Tudo que eu precisava era de mim mesma e mais ninguém, mas então todos os meus planos foram por água abaixo em apenas uma noite, uma maldita noite, e eu descobri que estava grávida.

Oque eu faria agora? Nem mesmo cuidava de mim direito, ter uma criança sobre a minha responsabilidade era perigoso demais, eu não podia fazer aquilo.

Agora eu estava em uma mesa de cirurgia, grávida de nove meses, em breve eu conheceria a minha filha, será que ela vai gostar de mim? Será que serei uma boa mãe para ela? Será que seria capaz disso?

Eu estava apavorada, espantada com tudo aquilo, finalmente a ficha havia caído. Eu seria mãe.

Olhei para todos os profissionais que estavam na sala cirúrgica, e mesmo com eles por perto eu ainda me sentia sozinha, como na vez que vi meus pais partindo, uma criança completamente assustada...

A porta da sala se abriu e uma figura conhecida adentrou por ela, fui atraída como um imã para o homem moreno de olhos claros, era o Joe, ele vestia uma roupa parecida com a dos demais e eu pude sorrir pela primeira vez quando vi que estava tão assustado quanto eu, seus olhos se encontraram com o meu e ele mordeu o lábio inferior apreensivo. 

O médico disse para que ele segurasse a minha mãe e me ajudasse naquele momento, foi quando as mãos dele tocaram a minha e seus olhos se fixaram nos meus que eu percebi que poderia fazer aquilo, eu não estava sozinha como naquela época, eu tinha a Broken, meus amigos, tinha o Joe e agora a América, finalmente eu havia encontrado a minha família.

Ouvi pela primeira vez o choro da minha menininha, a enfermeira a pegou para levar até mim, eu estava com os olhos embaçados pelas lágrimas, mas pude ver o quanto minha filha era linda, o choro havia cessado quando a peguei, os olhinhos fechados e as mãos pequenininhas me davam vontade de colocá-la dentro de um potinho.

-Nossa bebê é linda...-Disse Joe entre lágrimas e eu sorri olhando para ela.

-É sim...

-América.- Ele disse com a voz melosa.- O papai e a mamãe te amam muito, perdoa a gente e o nosso jeito atrapalhado de ser, pode ter certeza que vamos cuidar de você com muito amor.

Ergui meus olhos desviando a minha atenção da minha filha que sorria com a boca banguela para Joe enquanto ele falava, eu tinha certeza que ele seria um bom pai, não havia dúvidas disso, a forma que ele cuidava de mim e que fazia planos pensando em quando a América nascesse.

Com o tempo e a nossa aproximação fui percebendo qualidades nele que eu jamais havia visto antes, ao mesmo tempo que percebia mudanças nele eu também tinha percebido algumas em mim, a vontade de matá-lo quando estava com alguém e os sustos que meu coração me dava quando ele era carinhoso comigo, todos os avisos na minha cabeça me diziam que eu deveria parar por ali, mas era tarde demais.

Eu estava apaixonada, sim, por uma menina, minha filha América.

E pelo pai dela. Joe.

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Eu shippo muito esse casalzão! Agora vai emmmm

Até o próximo capítulo!

Até o próximo capítulo!

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O cupido é uma criança mimada - Broken Heart Onde histórias criam vida. Descubra agora