C I N Q U E N T A E Q U A T R O

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Nosso olhar se cruzou e o cupido me atingiu.

HEART

Não dormi durante a noite, estive a madrugada inteira pensando em Crystal e rezando para que não demore a retomar a consciência. Também pensei em Dean, em como sua mente deve estar turbulenta, sei muito bem como é ter medo de perder a pessoa que ama, pois senti o mesmo quando a vi naquele leito de hospital, inconsciente e ligada a aparelhos. Olhar para ela naquele estado só me fazia sentir pequeno e inútil, não havia nada que eu poderia fazer para amenizar a sua dor, confiar nos médicos era minha única opção.

Acordei duas horas antes do combinado com Dean, lhe mandei mensagem avisando que chegaria daqui a pouco. Tomei um banho, vesti minhas roupas e fui até a cozinha tomar café da manhã, ao chegar lá me deparei com meu avô cozinhando algo no fogão, a cena era tão estranha quanto familiar, me remeteu a lembrança da minha juventude, quando vovô ainda podia ser independente de si mesmo.

-Ele acordou dizendo que precisava preparar o seu café da manhã.- Ouço Luciula falar atrás de mim.- Tentei impedi-lo, mas teimoso do jeito que é...

-Não tem problema.- Digo sentindo o cheiro dos ovos mexidos e da vitamina de banana, tudo era tão nostálgico que aquecia meu coração.- Eu já estava com saudades do café da manhã do vovô.

-Oi meu neto!- Ele se dá conta da minha presença.- Venha cá! Terminei de fazer seu café da manhã, coma rápido antes que se atrase para ir a escola.- Ele sorri mostrando a boca quase sem dente.

-Obrigado vovô.- Falei alegremente, mesmo sabendo que sua memória está falhando novamente, pelo menos se lembra de mim hoje.- Venha Luciula, tome café da manhã conosco também!

Arrastei a cadeira para que ela pudesse sentar, apesar de concordar posso ver sua desconfiança.

-Prometo que não vai se arrepender.

-Mulheres.- Disse meu avô.- Sempre desconfiando dos homens na cozinha.

Damos risada.

-Oque? Agora estão os dois contra mim?- Ela tenta se defender.

-Jamais amor, sempre estarei ao seu lado.- Diz meu avô para Luciula, ele trás a frigideira até a mesa e põe o prato para ela primeiro.

-Hoje ele acordou pensando que sou sua avó.- Ela explica.

-Vamos deixar assim por hoje.- Eu a tranquilizo.- Daqui a pouco terei que ir ao hospital, provavelmente voltarei só amanhã de manhã, ok?

-Tudo bem, desejo melhoras para ela! Tomara que se recupere logo!

-Prontinho! Pensou que eu tinha esquecido do meu neto favorito?- Meu avô interrompe nossa conversa quando se aproxima para por o café da manhã no meu prato, dou risada quando vejo que desenhou um rosto com ovos e bacon. Se eu pudesse, congelaria momentos incríveis como esse ao lado do vovô...

Apesar do Alzheimer ter nos pego desprevenidos, com o tempo eu comecei a me acostumar com as ausências e esquecimentos do meu avô, as vezes eu me sentia solitário e na maior parte do tempo eu sentia falta do seu antigo eu, porém com o passar do tempo fui me acostumando e sabendo lidar com seu novo jeito de agir e muitas vezes entro na onda junto com o vovô.

-Estava uma delícia!- Me levanto e recolho meu prato.- Infelizmente terei que ir agora, vovô você cuida da Luciula para mim?

-Ué, você já vai embora assim?- Ele me adverte e eu paro instantaneamente, me viro para olhá-lo.- Sem nem ao menos dar um abraço no seu velho? Essas crianças de hoje em dia, mau crescem e se acham donos de si!- Ele balança a cabeça.- Venha cá!- Meu avô abre os braços esperando por mim, eu me curvo quando ele me envolve com seus braços trêmulos dando tapinhas nas minhas costas.

O cupido é uma criança mimada - Broken Heart Onde histórias criam vida. Descubra agora