S E S S E N T A E N O V E

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Quando alguém que você precisa aparece, chamamos de destino.

ETHAN

Eu estava me sentindo estranho ao entrar em meu escritório, tudo parecia exatamente igual, as paredes brancas, o ambiente minimalista, a janela com vista para a avenida movimenta, os quadros alinhados perfeitamente na parede, tudo exatamente igual. Menos eu.

Algo em mim estava mudado, eu sabia disso, dentro de mim eu podia sentir...

Minhas amigas invadiram o escritório como sempre faziam todos os dias, elas estavam rindo de alguma coisa que eu desconhecia, Ingrid carregava dois copos de expresso e me entregou um, peguei mesmo sem vontade de tomá-lo e com um sorriso amarelado agradeci, na mesma hora ela parou, com o copo ainda em mãos, ambos segurando de cada lado dele, era uma situação estranha, eu esperava que soltasse, mas ao em vez disso Ingrid me olhou.

Estava mais para uma analise, os olhos puxados mais estreitos que o normal vasculhavam meu rosto procurando por alguma pista.

-Você está estranho. - Ela enfim soltou o copo me entregando totalmente.- Bora, conta aí.

Tive vontade de rir, mas não consegui pois ela estava certa, eu me sentia estranho.

-Eu não quero conversar sobre isso agora.- Fui direto ao assunto assim como ela fez. Sim, sem enrolação, como quando a gente arranca o band-aid de uma só vez e sente aquela dorzinha rápida.

-Então tem alguma coisa.- Ela batucou o dedo indicador contra a boca, Ingrid andava de um lado para o outro estalando o salto contra o piso, eu e Jô a acompanhamos com os olhos, até que por fim ela parou novamente de frente para mim, sendo que dessa vez se dirigindo a Jô.

-Vamos tomar uma cerveja?

- Às nove da manhã?- Disse Jô, suas sobrancelhas ruivas quase pulando em órbitas junto com os olhos esbugalhados.- Sabe que beber antes de meio dia já é considerado alcoolismo, certo?

-Esse cara.- Ela apontou para mim.- Vai prender a fofoca até o final do expediente e você sabe que comigo começou tem que terminar.- Ingrid colocou a mão na cintura e concluiu.- Só uma cerveja gelada para arrancar alguma coisa desse aí.

-Você ta querendo embebedá-lo?- Jô riu da namorada.

-Sim.

-Ótima ideia.- Ela considerou, Ingrid sorriu fazendo com que pequenas rugas se formassem nos cantos dos seus olhos escuros e estendeu a mão para que Jô batesse.

-Vocês sabem que eu to aqui, né?

Cada uma delas se colocou ao meu lado, Ingrid no esquerdo e Jô no direito, elas enlaçaram seus braços nos meus e eu saí do escritório praticamente arrastado de lá, hoje com certeza seria um dia longo.

-VOCÊ O QUE?- Ingrid gritou no meio do bar que por incrível que pareça estava lotado, hoje teria jogo de futebol e éramos os únicos sem a camisa do flamengo.

-Dá para falar mais baixo?- Falei olhando em volta, ninguém tinha prestado atenção em nossa conversa, todos estavam focados na cerveja barata e suas apostas sobre quem ganharia o jogo de hoje, Jô era uma delas, ela estava discutindo feio com um dos torcedores.

-É isso mesmo.- Falei.- Já tomei minha decisão, só queria que vocês fossem as primeiras a saber.

-Ethan...porque isso agora? De onde você tirou essa história de largar tudo e se mudar?- Sua intonação de voz tinha mudado, Ingrid estava triste, eu conseguia ver isso e sentia o mesmo, ambos sabíamos que não nos veríamos por um bom tempo, eu precisava me afastar de tudo e de todos, precisava refazer a minha vida e pensar com mais clareza, tudo o que aconteceu até hoje foi justamente porque eu estava fora de mim.

O cupido é uma criança mimada - Broken Heart Onde histórias criam vida. Descubra agora