HOMENS DE PRETO

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Era verão de 1997 e estávamos patrulhando a Beira Rio como de costume por volta das 2 horas da manhã quando recebemos no rádio um pedido para investigarmos um determinado caso num bairro próximo, Vila Rica. Eu e meu parceiro engolimos as bolachas e o achocolatado pelando e aceleramos o mais rápido possível.

A informação que tínhamos era que um homem na idade dos 40 estava assustado pois haviam "pessoas estranhas" do lado de fora da sua casa querendo entrar. Mais um caso de psicose, pensamos. Era comum em nosso turno noturno. Eu já estava ficando cansado daquela profissão. Mas eu não tinha muita escolha. Atirar era o que eu sabia fazer de melhor e havia três bocas para sustentar.

Depois de subir um morro absurdamente íngreme e singrar por ruas fantasmas, ladeadas por mato alto, finalmente chegamos ao ponto da suposta ocorrência.

Desliguei o carro e fomos investigar. A casa informada ficava no final de uma rua lamacenta e sem pavimento, lixo transbordando para todos os lados. Seguimos a pé e não encontramos viva alma na rua ou mesmo na casa número 1022. A porta estava aberta, mas não havia nenhum sinal de qualquer pessoa. Então, patrulhamos os arredores da casa e o que encontramos nos deixou totalmente perplexos.

Havia um objeto no formato de um sino parado no quintal, uns trezentos metros da casa. Era metálico ou de vidro, não sei dizer ao certo, mas captava a noite, a lua, as estrelas e nossa lanterna como reflexo. Sacamos as armas e nos aproximamos. Quando estávamos a uns cinco metros o objeto levantou-se "cambaleando" e pensei que ia cair novamente. Mas luzes acenderam e rodopiaram em sua estrutura. Descarregamos bala mas nosso poder de fogo era efêmero contra a nave. Começamos a afastar a medida que o objeto ganhava os céus e lembro de perceber que meus pelos do braço estavam eriçados.

Então ele parou pouco mais de uns duzentos metros do chão e ficou imóvel por alguns segundos, planando sem fazer barulho algum. Descarregamos mais balas e nada. Ouvíamos nossa munição acertar o alvo como se estivéssemos atingindo uma estrutura metálica. Uma luz esverdeada caiu sobre nós e senti a pele ferver. Gritei de dor pois nunca havia sentindo uma dor como aquela, pois queimava até meus ossos. Quando a luz se dispersou o objeto havia sumido e quando olhei para o lado, meu parceiro também. Procurei por toda parte e não o achei.

Voltei para a base e relatei o acontecido, mas meus superiores pareciam tensos e eu não sabia se eles estavam acreditando na minha história ou não. Eu estava numa sala vazia e apertada quando dois homens de terno preto adentraram, expulsando todo mundo. Eles não eram do nosso departamento e só podiam ser gringos. Estavam sérios, óculos escuros e chapeu preto. Eram grandes e misteriosos. Ainda bem que eu tinha uma noção de inglês ou não entenderia porra nenhuma. Não gostei daqueles caras, mas eles pareciam superiores e respondia a tudo que me perguntavam. Uma centena de vezes. Eles ficavam me perguntando a mesma coisa várias vezes como se quisessem encontrar alguma falha no meu relatório.

No final disseram para eu esquecer tudo, para não contar nada a ninguém ou então eu seria morto. Mas eu resolvi contar agora, cerca de vinte anos depois e estou com uma 12 carregada. Quero ver eles se meterem a besta comigo de novo.

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