MALDITA LUA CHEIA

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Eusébio virava de um lado para o outro sem conseguir cair no sono. Seu corpo era todo espasmos e dores musculares. Era sempre muito complicado quando ele dormia nas ruas, calçadas e praças públicas. Ele tinha casa, família...mas estava cada vez mais frequente para ele dormir fora. Ele não se importava desde que conseguisse dormir.

Ele desviou o olhar de uma vidraça. Eusébio estava parecendo um animal, todo pelos e músculos. Ele odiava estar daquela forma. Seus companheiros de rua não dormiam mais perto dele. Todo mundo tinha se afastado. Que triste fim para um homem que havia sido tão expansivo, trabalhado numa grande multinacional, lidando com comércio exterior e trader...

Agora nada mais importava para ele. Já não conseguia mais se controlar. Sua mulher já não o reconhecia mais. Os filhos tinham medo dele. Isso era o que mais doía no coração do velho Eusébio. Não poder mais chegar perto de seus amados filhos. Ele tinha perdido tudo.

E aquela maldita lua cheia no céu.

Eusébio já estava quase dormindo, no seu último esforço para lidar com toda aquela pressão quando se aproximaram dele, cinco adolescentes. Estavam bêbados, provavelmente saindo de algum rock louco. Usavam piercings, tatuagens e correntes. Eusébio sentiu o cheiro da maconha que eles tragavam e sentiu repugnância.

— Vamos quebrar esse mendigo — disse um deles depois de prensar um baseado e passar para os demais. Ele tinha cabelos longos e um soco inglês nos punhos, pronto pra ação.

— Mas ele não fez nada com agente.

— Que se foda. A presença deste filho da puta nas calçadas da minha cidade é uma ofensa. Tem de morrer.

— Isso — reagiram outros.

Eusébio sentiu frio. Não queria nada com aquelas pobres crianças. Mas eles vieram. Sacaram porretes, correntes e canivetes. Por sorte a lâmina não era de prata.

— Morra filho da puta!

Eusébio aparou o chute como se não fosse nada. Com uma força sobre humana empurrou um dos adolescentes cerca de cinco metros. Ele voou por sobre a rua, caindo por sobre um carro, do outro lado. Desacordado.

Os outros arregalaram os olhos. Mas ao invés de correrem resolveram atacar o mendigo. Se deram muito mal, pois aquela altura, Eusébio já não se importava mais em se controlar. Deixou que a licantropia tomasse conta de seu sistema nervoso. De uma hora para outra, seu semblante se transformara em uma cara de lobo, os olhos vermelhos e presas enormes. Ele ganiu poderosamente e os adolescentes largaram seus instrumentos de tortura e correram. Cada um para um lado diferente.

Mas Eusébio foi atrás apenas do que tinha o soco inglês. O filho da puta implorou quando se viu encurralado, mas Eusébio era todo fera agora. Com uma força bestial, partiu o infeliz em dois enquanto saboreava os últimos gritos de sua vítima. Depois de saborear o sangue daquele infeliz, Eusébio fugira para o meio do mato. Ele odiava ter que matar, mas quando estava naquela forma, Eusébio não tinha muitas escolhas. E quando começava ele não conseguia mais parar.

No dia seguinte, Eusébio amanheceu nas areias da praia, as roupas cortadas, os pés descalços e a unhas tingidas de sangue. O amaldiçoado Eusébio, chorou.

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