O JARDINEIRO

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Depois que Athena perdeu o bebê, ela praticamente entrou em depressão. Pediu dispensa do emprego, tentou malhar, bordar, mas nada adiantava. Não saía de casa para nada, nem para ir ao mercado ou ver seus parentes. Passava a maior parte do tempo no quarto e dizia que sua barriga estava crescendo. Talvez estivesse gravida, mas a doutora havia me garantido que ela nunca mais poderia ter um bebê. Comecei a ficar preocupado e com o tempo comecei a partilha de algumas de suas paranoias. Quando chegava à noite eu acordava, assim do nada, com choro de criança. Corria até o quarto que tinha sido preparado para a chegada do nosso bebê e não tinha ninguém lá.

– O que foi? – Perguntou minha mulher quando voltei para a cama numa noite daquelas.

– Nada – eu disse.

– Você está pálido.

– Não é nada. Já disse.

– Ok então.

– Não se preocupe comigo.

Mas aquilo não era normal.

Então, naquele verão de 2009 resolvemos passar um fim de semana num hotel de montanha que fica no interior do Espirito Santo. Aproveitamos a promoção e saímos da capital bem cedo para aproveitar o máximo que poderíamos. Athena relutou um pouco no início, mas depois que pegamos a estrada, seu rosto começou a se iluminar. A viagem não durou mais que três horas. Chegamos lá antes do almoço e aproveitamos para conhecer o hotel. Era pequeno, meio pitoresco, mas aconchegante. E tinha uma vista maravilhosa dos vales e montanhas. Tinha piscina, restaurante, sauna e bar/longe. Até wi–fi grátis eles forneciam como cortesia. Depois do tour, fomos para nossos aposentos descansar da viagem. Abaixo da janela do nosso quarto havia um jardim florido, aparentemente muito bem cuidado. O perfume que exalava era magnifico. Passei um bom tempo abraçado com minha esposa olhando à vista dali.

– Nossa, como é lindo ver os vales daqui de cima – disse ela – Acho que não quero voltar para a cidade.

– Podemos ficar aqui.

– E seu trabalho?

– Eu estava brincando. Temos que voltar a realidade, minha princesa.

Ela refletiu por um instante.

– Acho que não gosto da realidade.

– Eu também não.

Nos beijamos.

O sábado passou rápido e tranquilo. Almoçamos no restaurante e depois passamos a tarde toda na piscina. O tempo estava ameno e a água estava morna. Mais tarde, à noite, passamos no bar, tomamos algumas cervejas e conversamos sobre coisas triviais. O estranho era que o hotel tinha poucos hóspedes. E aquela hora da noite era só eu e minha esposa no bar. Porém, percebi o quanto Athena parecia estava se divertindo. Seu humor tinha melhorado muito, ao que tudo indicava.

– Sabia que você fica muito linda e sexy quando sorri?

– Para seu bobo – ela disse.

– Mas é verdade.

– Então continua a me fazer rir, ué?

Esvaziei o copo de cerveja numa golada e disse:

– Não sou muito bom nisso.

– Você é bom em muitas coisas e não sabe.

Ela encheu nossos copos e ficou me olhando em silencio por um bom tempo. Por um breve instante, pensei ter visto uma melancolia no fundo de seus olhos cor de mel. Mas então sumiu.

– Hora de voltar bonitão – disse ela me despertando daquele breve devaneio.

– Verdade. Mas a noite só está começando.

SOMBRAS DA NOITEOnde histórias criam vida. Descubra agora