RECEITA DE FAMÍLIA

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Mais uma vez Júlio Alvarenga saiu a noite para caçar. Vestiu uma jaqueta preta que lhe caia bem. Passou o gel no cabelo preto lustroso. Para àquela noite, usou um perfume cativante, sexy. Não era nenhum Brad Pitt, mas Júlio tinha lá o seu charme.

Montou em sua Hornet preta e acelerou. Pelas ruas movimentadas da capital a noite, encontrou várias presas. Mas uma em especial fez seu membro pulsar entre suas pernas.

– Nossa, mas que bela ruiva – disse ele, desacelerando e já encostando a moto perto as mesas lotadas de um restaurante muito requintado. – É ela.

A ruiva estava acompanhada de mais duas garotas, uma loira e uma morena. Todas belas e atraentes, como modelos de capa de resista. Mas Júlio só tinha olhos para a ruiva. Tirou o capacete e arrumou o cabelo, sem tirar os olhos da mulher. Ela o reparou. Riu para as amigas e cochichou algo no ouvido da loira. As três riram maliciosamente.

Júlio era um mestre da sedução. Bastou apenas um piscar de olhos e a ruiva veio em sua direção. Ela usava um vestido verde muito colado e se equilibrava perfeita e sensualmente em cima de um salto assustadoramente alto, vermelho.

Depois de um breve cumprimento ela disse:

– Vem se juntar a mim e minhas amigas. Peça um drink e seremos uma excelente companhia para um homem tão interessante como você. Que tal?

Júlio se manteve sério. Passou levemente a mão pelo rosto quadrado, a barba perto de ser feita. Ele tinha um furo no queixo que lhe deixava irresistível. Ficou coçando com os dedos justamente ali para a ruiva perceber.

– Como se chama? – Perguntou olhando dentro dos olhos esmeraldinos dela.

– Amanda – respondeu a ruiva sem conseguir desviar o olhar.

– Belo nome. Mas não estou interessado em bebidas nesta noite – disse ele descendo o olhar, passando pelos seios dela e descendo até suas coxas brancas de fora. – Podemos pular esta parte?

Amanda logo corou e deu uma risadinha sem graça. Depois passou a mão pelos fios vermelhos e mordeu o lábio. Olhou para as amigas que acompanhavam tudo de longe. Depois voltou a fitar o estranho e ousado, parado à sua frente, capacete à mão, o corpo todo jogado como numa fotografia de um rock star dos anos 80.

– Quer ir para algum lugar mais reservado? – Indagou ela ainda com o rosto tão carmesim quanto seus cabelos.

– Sim. Eu vim aqui justamente para isso.

– Nossa – ela suspirou antes de montar na traseira da Hornet. Colocaram os capacetes e a moto roncou alto antes de sair deixando as amigas de Amanda com o queixo caído.

Amanda abraçou forte o estranho pois ele corria como um leão atrás de uma presa, cortando carros e furando sinais vermelhos, displicentemente. O coração da ruiva estava numa crescente. Quando pensou que enfartaria, chegaram no motel mais luxuoso da capital.

Os cabelos da ruiva estavam em pé.

– Querido, como você corre!

Ele descansou a moto na garagem do motel e tirou também o capacete.

– Eu vivo perigosamente.

Ele deitou–se na cama e ficou fitando–a com um olhar de predador. Amanda corou novamente. Não estava acostumada com este tipo de homem. Mas havia algo de misterioso e sexy nele que a deixava completamente molhada.

– Ainda não sei seu nome – disse ela subindo sobre ele.

– Não precisa.

Ela levantou o vestido e se encaixaram. Amanda sentiu uma leve ardência, mas logo relaxou e o prazer veio com volúpia, crescendo a cada movimento.

– O que vai fazer comigo, senhor misterioso?

Ela fez uma cara sensual, bem travessa. Mas logo todo a sua libido se desmanchou em seu semblante. O estranho tinha uma faca em suas mãos agora. Ela tentou gritar, mas uma mão extremamente forte tapou sua boca. O golpe acertou em cheio o seio esquerdo. Amanda ainda teve tempo de olhar o lençol branco da cama de motel beber seu sangue. Logo o tecido estava todo vermelho. Como seu cabelo. A visão ficou turva e o quarto ficou escuro de repente.

Júlio fez um excelente trabalho ali. Como sempre. Passou a pernoite inteira picando o corpo da sua mais nova vítima, até virarem pequenas postas de carne. A cabeça ele colocou numa sacola de lixo. Depois jogaria fora. Era sobra.

Voltou para casa bem cedinho. Guardou as postas de carne num freezer onde haviam mais uma dezena de embrulhos congelados. Todos pedaços de belas mulheres. Enquanto guardava metodicamente os novos embrulhos, Júlio Alvarenga chorava.

– Papai nunca deveria ter feito aquilo com a senhora...

Foi a muito tempo atrás. Seus pais brigavam muito. Ciúmes, dinheiro, qualquer coisa. Um belo dia, a senhora sua mãe pegou o marido de caso com uma jovem em sua própria cama de casal. Uma tragédia. Ela tirou o revólver da bolsa, pois passara a andar com a arma depois de tantas brigas. Não era lá flor que se cheira também. Dois tiros. No patife e na puta. Depois mirou o cano do revólver no céu da boca e sem hesitar, disparou. Sangue para todos os lados. Assim disseram os peritos.

Júlio amava muito sua mãe. Ela era muito linda e ele amava sua beleza. Uma top model aposentada. Tinha envelhecido, é verdade, mas ainda continuava charmosa e bonita. Júlio nunca entendera como seu pai fora capaz de traí–la. E não tinha sido a primeira vez, depois descobrira. Seu pai tinha um gosto peculiar por mulheres novas e lindas. Para Júlio, nenhuma mulher era mais linda que sua mãe. Definitivamente, nenhuma. Passou a odiar a beleza feminina que não fosse a da sua mãe.

Agora ele caçava, implacavelmente, todas as mulheres que ousavam ser mais linda que a senhora sua mãe.

Dormiu pela manhã e pela tarde. Quando acordou já estava perto do anoitecer. Sua barriga roncava. Fritou os pastéis do lote daquela noite e comeu pelo menos uns três, lambuzando–se de ketchup e mostarda. Preencheu a caixa térmica com cinquenta pastéis de carne. Colocou na garupa da Hornet e saiu para vender. Ele não precisava do dinheiro. Mas fazer aquilo lhe dava um prazer tremendo.

Na esquina de uma rua bastante movimentada, num bairro nobre, Júlio Alvarenga encostou sua moto. Meia dúzia de pessoas já o aguardavam com dinheiro na mão.

– Calma pessoal – disse ele descendo da moto e arrumando o ponto para começar a vender. – Tem pastel para todo mundo.

Mais e mais pessoas chegavam procurando os famosos pastéis de Júlio Alvarenga, aquele jovem vistoso e simpático. Logo, todos os pastéis haviam sido vendidos.

– Nossa, mas que pastel gostoso – disse um gordo se empanturrando de pastel. – Devo confessar que a fama destes pastéis faz mesmo jus. São uma delícia. Mas me desculpe a indelicadeza. Que carne suculenta é essa? Boi ou porco? Meu paladar não consegue decifrar.

Júlio Alvarenga se limitou apenas a sorrir enquanto guardava as coisas. Respondeu o de sempre:

– Receita de família. Não posso revelar.

Então voltou para casa e descansou. Mais tarde voltaria a caçar.

SOMBRAS DA NOITEOnde histórias criam vida. Descubra agora