Capítulo 13.

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Ellen...

Toquei a campainha e esperei até a porta ser aberta, passei as mãos ajeitando minha saia soltinha, Natalie mudou o peso de uma perna para outra ao meu lado e virou a cabeça olhando em volta enquanto esperávamos.

- Bom dia meninas. – Henry falou quando finalmente atendeu a porta, ele estava com uma calça de moletom, blusa preta e de pés descalços. 

- Bom dia. – Abraçamos ele rapidamente e entramos.

- Meg está na cozinha. – Ele falou. – Já que vocês chegaram podem ajudar ela enquanto vou ao escritório olhar uns contratos.

- Tudo bem. – Deixei minha bolsa sobre o aparador ao lado da porta e segui para a  cozinha.

Natalie fez o mesmo e me seguiu,  da cozinha exalava um maravilhoso perfume de comida e das boas. Nos cumprimentamos e não demorou pra ela nos colocar de ajudante, Meg sempre gostou de cozinhar e de fazer todos de ajudante. Como é fim de semana ela e Henry se viram sozinhos em casa, os funcionários só trabalham até sexta, no fim de semana apenas uma equipe de segurança permanece na casa anexa.

- Conta logo como foi o jantar. – Natalie falou enquanto mexia um molho no fogo, eu sabia que ela estava curiosa desde que saímos de casa.

- Isso mesmo, pode começar a contar. – Meg apontou uma mulher de pau em minha direção como se estivesse me ameaçando. 

- Foi bom. – Dei de ombros enquanto cortava alguns legumes. Quando levantei a cabeça elas me fitaram esperando por mais. – Tudo bem. – Ergui os braços em sinal de rendição. – A gente foi a um restaurante moderno, conversamos bastante, sobre meu período na Índia, sobre família, sobre nós.

- E? – As duas perguntaram impacientes.

- Ele foi me deixar em casa e nos beijamos. – Elas ficaram em silêncio por alguns instantes.

- E como foi? – Natalie quis saber curiosa. – Foi bom?

- Como você se sentiu? - Meg perguntou.

- Foi muito bom, ele beija bem... demais. – Reprimi um palavrão. Era verdade o beijo foi muito bom. – Quando ele se aproximou eu queria me afastar, mas não consegui, meu corpo queria o contato com ele, minha mente mandava eu ir embora, mas meu corpo queria, então me entreguei ao beijo, foi carinhoso e faminto ao mesmo tempo do tipo que você fica entorpecida. – Sorri sem graça. – Eu me senti... eu me sinto confusa. – Só de pensar no beijo no toque uma corrente elétrica corre pelo meu corpo.

- Confusa como assim? – Meg indagou.

- Eu quero de novo, quer o senti-lo, mas também quero manter distancia.

- Você não quer  se envolver. – Natalie mais confirmou do que perguntou.

- Exatamente. – Falei.

Elas continuaram me fazendo falar sobre o beijo e sobre como me sinto, felizmente não tardou muito e Iam e Henry adentraram a cozinha cessando os comentários sobre o jantar da noite anterior. Fiquei contente com a mudança de assunto e agradeci mentalmente por eles terem chegado.

- Meus pais vem me visitar no próximo final de semana. – Falei depois de um tempo, estou muito empolgada com a visita dos dois, sinto muita falta deles, ficamos meses sem nos ver.

- Que bom, estou com saudade deles. – Meg falou animada, ela sempre gostou muito dos meus pais. – No casamento eu nem tive tempo de dar atenção direito pra eles.

- Eles entendem.

- Eu sei, mas vai ser bom vê-los. – Ela sorriu.

John chegou mais ou menos 30 minutos depois, estava vestido de maneira simples e mesmo assim e estava tão bonito quanto de terno. Ele sorriu pra mim quando nossos olhos se cruzaram, seus olhos focaram por alguns segundos em meus lábios antes de desviar, as lembranças dos beijos da noite anterior me invadiram e eu quase pude sentir seu toque, seu gosto.

**

John...

Quando cheguei na cara de Henry e Meg faltava somente eu, todos eles estavam reunidos na cozinha conversando animadamente. Assim que meus olhos caíram sobre Ellen um sorriso se espalhou pelo meu rosto, ela me sorriu de volta e eu tive vontade de a abraçar e beijar naquele momento. 

Quando eu desviei meus olhos do seu rosto vi Henry me olhando como quem diz que depois eu terei de me explicar, pois ele me conhece a ponto de saber por um olhar que algo aconteceu entre nós. Colocamos a mesa e depois sentamos em volta para almoçar.

Comemos em meio a uma conversa leve e divertida sobre as nossas infâncias e alguns micos que já passamos nessa vida, que não eram poucos. Depois do almoço tiramos a mesa, demos um jeito na louça e nos esparramamos nos sofás e poltronas da sala. 

A tarde estava muito bonita, a luz do sol entrava pela parede de vidro iluminado o lugar, a temperatura estava agradável, nem frio, nem quente, uma brisa suave soprava pela porta que dava pra piscina e estava aberta.

- Ellen ontem eu vi o Adam andando com um homem pela calçada. – Iam falou em um tom de fofoca. – Ele está de namorado novo? – Na mesma hora eu o encarei, como assim namorado?

- Meu Deus Iam como você é fofoqueiro. – Meg falou rindo.

- Só um pouco. – Ele disse. – E então? – Perguntou a Ellen.

- Não aquele não é um namorado. – Ellen falou rindo. – É o irmão dele que resolveu aparecer depois de 12 anos de abandono. – Ela falou em um tom de reprovação.

- Abandono? – Henry quis saber.

- Quando os seus pais descobriram que Adam é gay o expulsaram de casa com apenas 16 anos, na época seu irmão estava na faculdade e simplesmente se afastou, foi viver a sua vida sem se importar em como o irmão adolescente ia se virar sozinho no mundo, nunca mais se falaram até dias atrás. – Eu estava perplexo com toda aquela história, como a família podia virar as costas pra alguém por sua orientação sexual? Mas uma parte de mim se sentia aliviado, pois ele sendo gay significava que ele e Ellen não tinha envolvimento romântico, e nem terão, me sinto horrível por estar pensando isso numa hora dessas, mas é mais forte do que eu.

- Expulsaram um garoto de 16 anos de casa? – Falei incrédulo. – Pra onde ele foi?

- Uma tia o acolheu, se não fosse por ela não sei o que seria dele. – Ela falou em um tom sombrio. – Mas, enfim ela o acolheu e cuidou dele, ela era sozinha e bondosa, ele se formou e cresceu na vida sem seus pais e irmãos e hoje o Liam aparece arrependido. – Sua voz soou cética.

- Talvez ele realmente tenha se arrependido. – Meg falou e Ellen a olhou com cara de quem desconfiança e tudo ficou em silêncio. 

- Por que as pessoas acham que tem o direito de se meter na vida dos outros? De julgar a pessoa por sua orientação sexual? – Natalie falou pensativa. – O importante é o amor, é a pessoa ser feliz. – Ela refletiu. – Deixem as pessoas se amarem.

- Exatamente. – Iam se pronunciou. – O mundo é cheio de preconceito, chega a ser nojento. - Ele disse com desgosto.

Não sei como uma fofoca se tornou uma conversa sobre preconceito, mas enveredamos nesse assunto muito interessante. Não vou negar e fingir que não tenho erros, inclusive quando mais jovem sendo um idiota como era, fui homofobico, fiz comentários machistas, ou algo do tipo, mas eu mudei e busco constantemente mudar, melhorar, evoluir, me desprender dos preconceitos. Falamos também sobre privilégios, nessa hora Meg falou.

- Vocês dois sabem bem o que é privilégio. – Falou apontando pra mim e Henry.

- Por que? – Perguntei.

- Homem, branco, cis, heterossexual, rico, bonito. – Ellen enumerou. - Vocês  basicamente os elementos do privilégio e da passassão de pano.

- Sim, por que a sociedade adora passar pano pra macho. - Meg falou revirando os olhos.

- Parece que quando se tem esses privilégios pode tudo. - Natalie acrescentou.

- Realmente. – Pensei sobre o que ela falou e ela tem razão.

- O Iam também é homem, branco, cis, heterossexual, bonito. – Henry falou.

- Mas não sou rico. – Ele respondeu. – Já pode tirar um privilégio daí.

- Nós então... – Meg falou balançando a cabeça.

- Eu pior. – Ellen completou.

- Você já sofreu racismo? – Perguntei a Ellen.  

- John eu sou uma mulher negra o que você acha? – Ela falou me olhando nos olhos,  e eu senti uma raiva crescente dentro de mim e um aperto em meu peito, pensei em todos os episódios racista que já vi em algum lugar e me lembrei que poderia ter acontecido com ela. "Como as podem ser tão cruéis?"

- Quando nos conhecemos. – Meg falou depois de alguns minutos de silêncio onde todos nós refletimos sobre o assunto. – Eu gorda e Ellen negra nós duas sofríamos com comentários na escola, acho que o fato de lidarmos com preconceito nos uniu em um primeiro momento. – Ela fez uma pausa. – Embora fossem por motivos e em graus diferentes, longe de mim querer comparar. - Ela acrescentou.

- Sim, sabíamos a dor do preconceito.  – As duas amigas  se olharam de uma maneira cúmplice. – Sabemos.

- Eu sou padrãozinha, então não sofro preconceito quanto a isso e nem nunca sofri. - Natalie falou. - Mas sofro preconceito quanto a o que eu faço com o meu corpo, as pessoas se acham no direito de me julgar e condenar por minha atitudes, por eu fazer o que qualquer homem hetero faz.

- Machismo é nojento. - Meg acrescentou e ficou um pouco pensativa.

Por alguns minutos continuamos falando sobre o assunto, sobre preconceitos, a medida que falávamos eu percebia cada vez mais o tanto de privilégios que eu disponho em minha vida e as vezes me percebo o quanto sou privilegiado, tomo isso como normal.

**

Ellen...

Fui até a cozinha tomar água, falamos tanto que eu acabei ficando com a garganta seca, o que só piorou depois da minha última crise de riso que tive quando relembramos o dia que Natalie vomitou em Iam. Nossa conversa passeou por tanto a aspetos que eu nem como um assunto se ligou a outro.

Abri a geladeira peguei uma jarra com água e um copo no armário e o enchi bebendo em seguida, quando estava devolvendo a jarra depois de beber a água ouvi passos na entrada da cozinha e me virei vendo John  passar por ela.

- Eu vi você entrando aqui e tentei me controlar pra não vir atrás. – Ele falou se aproximando. – Claramente eu falhei nisso. – Sorriu de lado.

- Por que você quis vir atrás de mim? – Ele se aproximou a ponto de quase me tocar.

- Por que desde que eu cheguei eu quero te tocar. – Ele passou os dedos pela minha bochecha.

- John... – Sussurrei quando seus dedos se entrelaçaram em meus cabelos da nuca inclinando um pouco minha cabeça.

- Sentir seu cheiro. – Ele passou o nariz pelo meu pescoço me fazendo arrepiar. – Seu gosto. – Sussurrou contra meu pescoço.

Afastou a boca do meu pescoço e trouxe até minha boca, parando a centímetros dos meus lábios, me olhou nos olhos antes de acabar com a distância entre nós.

Sua língua pediu passagem e eu dei de bom grado, senti o gosto do whisky que ele havia tomado misturado ao gosto de chocolate da sobremesa formando uma combinação interessante, sensual e saborosa. Ele segurou meu quadril me empurrando até minhas costas tocassem a bancada entrelacei meus dedos em seus cabelos o puxando mais para mim. O ouvi gemer em minha boca quando eu mordi seu lábio inferior, quando ficamos sem ar ele começou a distribuir beijos em meu pescoço me arrancando gemidos e fazendo minha intimidade formigar e ficar úmida.

- Eu estava... – Ouvimos a voz de Meg entrando na cozinha e nos separamos, eu a olhei envergonhada e John sorria. – Nossa, sinto muito ter atrapalhado.

- Tudo bem. – Falei sem graça.

- Vou deixar as duas conversando. – John sorriu selou nossos lábios e saiu da cozinha.

Meg me olhou sorrindo de lado e caminhou em minha direção, pelos seus olhos eu sabia que ela ia querer falar o assunto e não tinha como eu fugir. Suspirei e ajeitei meus cabelos que ficaram um pouco bagunçados.

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Agora que o John sabe que Adam é gay ele para de ter ciúmes ?

Muito bom quando amigos conversam educadamente sobre assuntos sérios.

Esses dois se agarrando na cozinha dos outros. .

Até sexta. 😍😘

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Um Toque de Confiança - Meu Clichê (Livro 2) (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora