Capítulo 48.

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Ellen... 

Hoje é  domingo, dia que eu vou conhecer os pais de John, estou uma pilha de nervos, pensando se eles vão gostar de mim, se eu vou cometer alguma gafe ou falar alguma besteira. Agora eu entendo o nervosismo do John no dia que ele conheceu meus pais,  pois nesse momento estou sentindo algo igual ou pior.

Para tentar dissipar um pouco desse nervosismo fui tomar banho frio, depois de tomar banho escovei os dentes, sequei os cabelos deixando eles com cachos bem abertos, me sequei, coloquei  um robe e fui me maquiar. Acabei fazendo algo bem natural, só pra da uma escondida nas olheiras, passei um tint avermelhado e gloss por cima. Vesti uma lingerie branca simples, coloquei uma blusa preta lisa e uma saia longa de cintura alta estampada que possui uma fenda na perna esquerda. Estava terminando de me arrumar quando a porta do meu quarto se abre e John passa por ela usando uma calça jeans e uma blusa polo azul turquesa.

- Minha linda você está perfeita. – Ele falou vindo até mim.

- Você também está perfeito. – Falei envolvendo seu pescoço com os braços e lhe deixando um beijo rápido nos lábios.

- Está pronta?

- Você diz emocionalmente ou se estou arrumada? – Me afastei pra lhe olhar nos olhos. – Porque se for arrumada eu só falto por a sandália, mas se for emocionalmente estou longe de estar pronta. – Dei um sorriso nervoso. – Estou muito nervosa.

- Calma minha linda. – Ele passou uma mão em meu rosto. – Vai da tudo certo, meus pais vão lhe adorar, você é maravilhosa e nada do que acontecer hoje vai mudar nada entre nós.

- Parabéns, você acaba de me deixar mais nervosa. – Me afastei dele. – Como assim “nada do que acontecer hoje”?

- É só jeito de falar meu amor, vai ficar tudo bem, o almoço vai ser ótimo. – Ele falou segurando meus ombros e depois me abraçando. – Eu te amo e estarei ao seu lado o tempo inteiro.

- Eu te amo. – Afundei meu rosto em seu peito.

Depois que nos afastarmos eu calcei minha sandália de salto cor de caramelo e nós  saímos, nos despedimos de Carol que estava jogada no sofá e descemos em direção ao carro dele que estava estacionado em frente ao prédio. Quando me acomodei no banco do passageiro comecei a pensar se a sandália que calcei era demais para a ocasião, talvez não precisasse de um salto tão alto.

Durante todo o trajeto ele tentou me distrair falando sobre trabalho, sobre as fotos de Ella que Etan tinha visto ou sobre o prédio que o pai dele mandou construir para comportar a imobiliária e a agência em um só lugar, mas nada funcionou, eu permaneci o tempo inteiro dispersa e nervosa.

Entramos em um condomínio residencial com várias casas grandes, belas e luxuosas não muito longe de onde Meg e Henry moram, ele dirigiu pela rua ampla até para em frente a uma casa que parecia saída do século 19. Ela é grande, em estilo clássico, com fachada de pedra acinzentada, o telhado era um tanto anguloso e na frente grande a portas de madeira trabalhada chamavam atenção. O jardim frontal era tomado por uma grama verdinha com canteiros de roseiras. 

- Está tudo bem. – John falou chamando a minha atenção.

- Sim, estava apenas apreciando. – Falei focando meu olhar nele. – Estava  as apreciando,  a casa é linda.

- Obrigada. – Ele sorriu. – Fui criado aqui, a antiga casa dos Green fica um pouco mais a  frente e a casa dos pais do Tyler fica um pouco mais atrás.

- Que legal vocês cresceram todos perto.

- Sim, isso foi muito bom. – Ele sorriu com a cabeça longe. – Vamos?

- Vamos. - Assenti sem convicção.

Saímos do carro e caminhamos na direção da casa, John apertou minha mão a fim de me confortar enquanto esperávamos a porta ser aberta. Não demorou muito e  porta se abriu revelando um homem alto de cabelos negros e olhos castanhos, incrivelmente parecido com o filho exceto pelos olhos. Reconheci o homem do dia que o vi em um restaurante.

- É um prazer revê-la minha querida. – Ricard falou assim  que pôs os olhos em mim.

- O prazer  é meu senhor Brolin. – Falei apertando a sua mão.

- Me chame de Ricard menina, somos família. – Ele fechou a porta atrás de nós. – Nunca vi o John tão apaixonado assim.

- Nunca estive mesmo. – John me abraçou de lado beijando meus cabelos. – Onde está a mamãe?

- Jô foi na cozinha vê como anda o jantar, vamos até a sala.

Eles nos conduziu até a sala da casa, o lado de dentro era tão bonito quanto o lado de fora, com mobília clássica em tons neutros e algumas pinturas enfeitando as paredes brancas. A sala de estar é grande ao fundo podemos ver escadas que dão acesso ao outro piso, dos dois lados portas que dão para corredores, ao lado da porta por onde entramos tem uma lareira grande de pedra com uma poltrona preta próxima a ela, um pouco mais a frente tem um sofá grande com algumas poltronas dos lados e uma mesa de centro elegante.

Estava apreciando a decoração quando uma mulher de estatura mediana, loira de olhos verdes com um vestido rosa claro na altura dos joelhos entrou na sala, ela aparentava ser jovem demais para ter um filho da idade do John. A mulher estava sorridente quando entrou na sala, mas assim que seus olhos pousaram sobre mim uma expressão de surpresa tomou conta do seu rosto, ela me olhou de cima a baixo. Ainda com os olhos esbugalhados ela esboçou um sorriso amarelo, sua reação durou uma fração de segundos, mas foi suficiente para eu perceber o seu desconforto e ficar desconfortável com aquilo.

- Mãe, essa é a mulher da minha vida, minha namorada Ellen Williams. – Ele falou me pegando pela mão e aproximando da mãe. – Ellen, essa é Jô Brolin minha mãe.

- Prazer em conhece-la senhora Brolin. – Falei forçando um sorriso e lhe estendendo a mão. Se eu posso aguentar esse tipo de coisa pelo trabalho, posso aguentar pelo John.

- O prazer é meu querida. – Ela ignorou minha mão e me abraçou rapidamente. – Fico feliz em finalmente conhece-la, meu menino fala muito de você. – Ela disse sorrindo simpática e tentando esconder seu espanto.

- Vamos sentar. – Ricard nos chamou.

Sentei no sofá ao lado de John e seus pais sentaram em poltronas perto do sofá, um pequeno silêncio se formou entre nós enquanto nos encarávamos, algumas palavras foram trocadas sobre o clima, mas logo o silêncio voltou a se instalar.

- Então você é fotógrafa Ellen? – Jô perguntou.

- Sim, eu sou. – Falei olhando pra ela.

- Fiquei sabendo que você fez uma exposição do seu trabalho pouco tempo atrás. – Balancei afirmativamente a cabeça. – Meus parabéns, deve ser muito bom ver seu trabalho reconhecido.

- Obrigada, sim é muito bom. – Falei orgulhosa. – É muito bom ver que meu trabalho está dando frutos.

- Você tem algumas fotos aí no celular para nos  mostrar? – Ricard falou de forma interessada. – Já vi algumas campanhas fotografadas pelo seu estúdio, mas não dá pra saber quem fotografou.

- Tenho algumas.

Andei até o hall de entrada onde eu tinha deixado minha bolsa, peguei o celular e voltei pra sala entrando na galeria e abrindo uma pasta com algumas fotos que eu faço não profissionalmente. Me aproximei deles e mostrei algumas delas, as mais recentes.

- Esse parque é lindo. – Ricard comentou olhando algumas fotos.

- Sim, é o meu lugar preferido em Londres. – Sorri. – Gosto de ir pra lá as vezes pensar ou fotografar.

- Ficaram ótimas, você tem muito talento.

- Obrigada.

- Você é muito boa. – Jô falou olhando algumas fotos de modelos. – Acho incrível você dar espaço para a sua gente. – Ela completou olhando para a modelo negra na tela.

- Minha gente? – A fitei recolhendo o celular. – Bem, eu tenho orgulho e valorizo a cultura e a luta do meu povo, dos meus ancestrais. – Completei a fim de parar por aí com os comentários dela.

- O John me falou que você esteve na Índia. – Ricard se apressou em mudar de assunto antes que a esposa falasse algo mais e o clima ficasse mais pesado do que o que já estava. John olhava para a mãe com uma expressão de surpresa.

- Sim, passei o último ano lá, fazendo um curso de aperfeiçoamento em uma das melhores instituições do mundo. – Falei aceitando a mudança de assunto.

- Nossa, isso parece ótimo, como foi a experiência.

Comecei a contar um pouco sobre minha estada fora do país e o clima pesado e constrangedor que havia se instaurado aos poucos se dissipou e todos participaram alegremente da conversa. Não demorou muito para o almoço ser servido, nos acomodamos a mesa e continuamos a conversa. A sala de jantar seguia o mesmo padrão do hall e da sala de estar,  paredes brancas com alguns quadros e móveis escuros,  tinha um aparador com tampo de vidro apoiado em uma das paredes, no centro da sala tinha uma mesa de jantar grande retangular de mogno com cadeiras de acento e encosto almofadado.

A comida estava deliciosa e sofisticada, a apresentação parecia saída de um restaurante de alta gastronomia. Depois do almoço voltamos para  a sala de estar, desta vez os pais de John me contaram algumas de suas aventuras me fazendo rir e o fazendo passar vergonha.


John...

Era meio da tarde e apesar do episódio de mais cedo tudo estava correndo bem, aproveitei que Ellen foi ao banheiro é fui até a cozinha tomar um copo de água, quando estava voltando para a sala ouvi meus pais falando. 

- Avisado o que Jô? – Meu pai falava em um tom bravo.

- Você sabe, sobre ela, pra eu já está preparada e não ficar tão surpresa quando ela apareceu.

- Pelo amor de Deus, você está se ouvindo? – Meu pai levou as mãos aos cabelos no momento em que eu passei pelas portas. – É inacreditável.

Antes que eu pudesse falar algo Ellen entrou na sala alheia ao que acontece ia ao seu redor. Segurei sua mão e a levei aos lábios.

- Nós precisamos ir. – Anunciei chamando a atenção de todos. – Minha linda você pode por favor esperar no carro? – Falei tirando as chaves do bolso e entregando pra ela.

- Tudo bem querido. - Me olhou sem entender, mas não questionou.

- Vou só falar com meus pais rapidinho e já lhe encontro. – Ela acenou em concordância.

- Senhor e senhora Brolin, foi um prazer conhece-los. – Ela disse em direção aos meus pais.

Se despediram e eu a olhei sair e só me pronunciei quando tive certeza de que ela tinha saído da casa.

- Mãe o que está acontecendo aqui? – A olhei. – Eu nunca esperava que você fosse racista. - Quase cuspia palavra.

- Eu não sou racista. – Ela se defendeu.

- E o que foi tudo isso? – Gesticulei com uma mão.

- Eu só fiquei surpresa não sabia que ela...

- Você entende que isso é preconceito? – Passei uma mão pelos cabelos. – Você não tem que se surpreender por ela ser negra, por que você não devia presumir que ela fosse branca, como se ser branco fosse o normal ou o certo.

- Mas, eu... - Mais uma vez não a deixei terminar.

- Mas nada mãe, ela podia ser branca, negra, amarela ou lilás que isso não ia importar, não tem nada demais na cor da pele e não é nenhum espanto. Pessoas tem características diferentes, não somos um bando de clones cinzas. – Falei a fitando. – A coisa que você tem pra se surpreender é o fato de ela ser incrivelmente bela e talentosa. – Custava a acreditar que minha mãe era capaz disso. – Estou decepcionado com você. 

- Eu sei, me desculpe, é só que foi mais forte do que eu, saiu  como algo natural. – Ela tentou se explicar. – Eu não fiz por mal.

- Não é a mim que você deve desculpas. – Respirei fundo. – Eu espero que isso não se repita eu não vou permitir que destrate a mulher que eu amo. – Passei as mãos nos cabelos. – Pense em tudo isso, em como o seu comportamento é errado. Até depois.

Antes que falassem mais algo eu saí da sala em direção a porta da rua, segurei a maçaneta e respirei fundo me acalmando antes de me dirigir ao meu carro. Ellen estava sentada no banco do passageiro olhando para a frente, entrei ao seu lado me sentei e me inclinei sobre o espaço entre os bancos para abraça-la, ela envolveu meu pescoço com os braços e beijou meu rosto.

- Me desculpe por tudo que aconteceu hoje. – Me afastei olhando no fundo dos seus olhos. – Estou muito envergonhado com toda essa merda. - Eu poderia fingir que nada aconteceu, mas não quero começar uma relação assim.


- Você não tem pelo que se desculpar. – Ela acariciou meu rosto. – E também não precisava falar com ela, ela não chegou a me ofender.

- Claro que eu precisava, ofendendo diretamente ou não o que ela fez foi uma tremenda falta de respeito, foi errado. – Coloquei minhas mãos em seu rosto. – Eu sei que você não falou mais nada para não discutir com a minha mãe. – Ela ficou calada e baixou os olhos. – Eu nunca vou deixar que uma pessoa lhe destrate não importa se é um desconhecido, a minha mãe ou a rainha, eu estarei ao seu lado. – Ela abriu seu lindo sorriso pra mim.

- Obrigada meu querido, eu te amo. – Ela se inclinou beijando meus lábios.

- Não precisa agradecer. – Beijei seu rosto dos dois lados. – Eu te amo. – Voltei a lhe olhar nos olhos. – Eu juro que não fazia ideia que ela agiria dessa forma, ela nunca demonstrou ser assim.

- E com quantas pessoas negras que não estejam em posição de subordinação ela convive? – Puxei pela memória e não consegui lembrar.

Como eu pude ser tão cego e não perceber esse tipo de coisas?

- Você tem razão. – Foi tudo que eu disse. – Me desculpe. – Eu não vou tentar inventar desculpas pelo que minha mãe fez, ela agiu errado e eu sei muito bem disso.

- Está tudo bem. 

- Não está nada bem, você ficou incomodada que eu sei.

- Eu fiquei, não vou negar, mas vou superar também, já passei por coisa assim ou pior antes e superei. – Ela falou sem esmorecer. – Eu não quero ficar remoendo esse assunto agora.

- Tem certeza que não quer falar sobre? – A olhei em busca de qualquer traço.

- Eu tenho sim, não quero falar sobre isso, pelo menos não hoje.

- Tudo bem e o que você quer fazer? – Perguntei segurando suas mãos.

- Acho que ir no cinema e tomar sorvete.

- Seu desejo é uma ordem.

Beijei seus lábios rapidamente em um selinho demorado e cheio de amor e me virei colocando o cinto, ligando o carro e guiando na direção do shopping mais próximo dali. Parei o carro no estacionamento do estabelecimento, andamos pelo shopping de mãos dadas, era uma sensação maravilhosa.

Tivemos um ótimo fim de domingo, assistimos a um filme de heroínas, fazendo uma leitura diferente e divertida de um grupo de heroínas. Depois passeamos pelo shopping, comemos hambúrguer com batata frita, passeamos mais um pouco e por fim tomamos sorvete.

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Espero que a mãe do John mude essa postura racista dela.

Claro que o John ia ficar do lado da mulher que ama .

O almoço poderia ter sido bem mais desastroso.

Fiquei muito feliz por que "acaso do destino" o primeiro livro da série Meu Clichê alcançou 100k de visualização hoje. É uma conquista que me deixa incrivelmente feliz e realizada, tenho a agradecer a todos. Esse capítulo estou postando como forma de comemoração. Espero que gostem.

Até domingo 😘🥰

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Um Toque de Confiança - Meu Clichê (Livro 2) (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora