Um mês depois.
Ellen...
Milagrosamente a neve havia dado uma trégua mais cedo esse ano, de modo que dispensei meus cachecóis para o fundo do armário de onde por mim eles nunca sairiam, não gosto do frio excessivos do inverno britânico, a neve derretendo na roupa e ensopando tudo, o nariz doendo de frio, membros dormentes, o tira e bota de casacos, a gente se sente congelando na rua e quente dentro de algum ambiente aquecido. Embora também não seja fã do calor excessivo, daquele que faz suar a roupa e o cabelo grudar na pele, eu acho que o ano inteiro deveria ser preenchido por temperaturas amenas, nem frio que dê vontade de entrar no forno e nem calor que dê vontade de entrar na geladeira.
Dentro do banheiro o vapor do banho quente embaçou o vidro do box e os espelhos, passei a mão no espelho observando o meu reflexo ainda sonolento, enrolei uma toalha no corpo depois de me secar e sequei meu cabelo contente pelo ar quente que saia do secador. Voltei para o quarto e vesti a roupa que eu tinha separado uma calça preta colada de tecido simulando couro, uma bota de cano curto da mesma cor, uma blusa branca simples e soltinha e um suéter preto aberto.
Quando cheguei na cozinha Carol já saíra para o trabalho, tomei café da manhã sozinha encostada ao balcão me lembrando das vezes que fiz isso com Meg ao meu lado sentada em um dos bancos e reclamando por eu comer de pé. Sinto muita falta da minha amiga morando comigo, eu nunca poderia imaginar que a noite antes de eu viajar para a Índia seria a última de nós como colegas de apartamento. Hoje ela está casada e morando em uma casa enorme, eu fico muito feliz por ela ter encontrado o amor, mas isso não quer dizer que eu não sinta sua falta aqui.
Terminei de tomar meu café, levei a louça até a pia e voltei para o quarto, escovei os dentes, peguei minha bolsa e sai do quarto, peguei um casaco vermelho e luvas da mesma cor ao lado da porta, vesti tudo subi o capuz e sai do apartamento. Dirigi até parar em frente a Ilumine, subi direto para o estúdio, em breve os modelos chegariam e eu queria ajeitar tudo antes, a equipe já se encontrava na sala organizando o material, essa é a melhor parte de trabalhar com pessoas competentes e que lhe conhecem, eles sabem o que fazer antes de eu falar, assim não só facilita pra mim, como faz o trabalho fluir muito melhor.
Vou fotografar para uma campana publicitária de uma empresa de tecnologia feita pela Sund. Pouco depois que os modelos chegaram, John apareceu, é o segundo ensaio que ele comparece no último mês, não é comum que o dono da agência compareça em ensaios, mas como ele é um amigo não achei que tivesse nada demais nisso, se fosse algum problema ele certamente falaria.
- Todos prontos? – Os modelos balançaram afirmativamente a cabeça. – Vamos fazer primeiro as fotos e depois os vídeos ok? – Mais uma vez confirmação. – Ótimo, primeiro você.
Posicionei a primeira modelo com o aparelho na mão, fiz o mesmo com os outros dois, fazendo fotos individuais, em dupla ou os três juntos de vários ângulos diferentes até encontrar alguma que se encaixasse melhor dentro da proposta da campanha. As vezes a foto perfeita custa a sair e outras vezes ela aparece logo nos primeiros clikes.
- Temos. – Falei olhando para o rolo da câmera. – As fotos ficaram ótimas. – Entreguei a câmera a um dos rapazes que me auxiliava para que ele descarregasse as fotos. – Depois do almoço faremos o clipe, mas quem vai fazer a gravação do clipe será a Victória. – Tenho um ensaio de fotos de uma grávida famosa a tarde por isso não gravarei a propaganda, além do mais Victória é a melhor com esse tipo de coisa. – Até a próxima. – Sorri saindo do estúdio, ouvi a porta se abrir e passos ecoaram em minha direção.
- Ellen. – Me virei vendo John se aproximar vestindo um terno de três peças cinza escuro que realça o verde de seus olhos. – Posso lhe acompanhar no almoço? – Ele sorriu galante, me fazendo pensar em qual a reza que esse santo quer. – Você está indo comer e eu também por que não fazer isso junto? - Dei de ombros.
- Tudo bem. – Falei não conseguindo encontrar uma desculpa para dispensar.
- Ótimo, conheço um bom restaurante não muito longe daqui.
- Certo, vou apenas até a minha sala pegar umas coisas. – Ele assentiu e eu caminhei até o elevador.
Peguei as câmeras que precisaria mais tarde e sai da minha sala, quando abri a porta Heitor estava encostado em uma mesa conversando com uma Ana muito sorridente, olhei para eles e sai descendo. John esperava por mim pacientemente no hall de entrada do prédio mexendo no celular.
- Vamos? – Perguntei tirando as chaves de dentro da bolsa.
- Vamos. – Ele se levantou guardando o celular e pegando o casaco escuro e as luvas que estava no banco ao lado.
- Eu te sigo no carro. – Ele apenas assentiu.
**
Ellen...
Menos de quinze minutos depois estávamos entrando em um restaurante italiano de aparência aconchegante e familiar, nos sentamos, o garçom nos serviu vinho, agradecemos e analisamos o cardápio em silêncio até um garçom absurdamente alto vir anotar os pedidos.
- Vou querer Risoto alla milanese e queijo parmegiano empanado na farinha panko. – Falei vendo John com os olhos postos em mim.
- Vou querer ravióli de carne e tomate seco. – John falou.
- Sim senhor, senhora. – O homem sorriu e saiu.
Ficamos novamente sozinhos e eu o encarei sem saber ao certo o que falar, não éramos tão próximos para que mantivéssemos uma conversa despretensiosa.
- Sabia que eu já tinha lhe visto antes de nós conhecermos formalmente no lançamento? – Ele falou quebrando o silêncio.
- Ah, na Luxis. – Falei me lembrando de Meg dizendo que naquele dia ... havia visto ele, Henry e Tyler. – Aquele não é um dia do qual eu me orgulhe. – Odeio o fato de ter chorado em público e ter mostrado para todos o quanto isso me afetou. – Foi um livramento sem dúvida, mas não é algo que eu goste de falar ou relembrar.
- Não estava falando daquele dia na Luxis. – Ele disse pegando a taça com vinho. – Eu estava com Tyler e Henry no pub onde ele conheceu a Meg e você entrou com a Natalie.
- Como você se lembra?
- Você era a mulher mais bonita daquele lugar. – Ele sorriu e manteve contato visual até eu desviar o olhar. – Quando voltei a te ver lhe reconheci imediatamente.
- Você é bom de fisionomia. – Comentei, não era necessariamente uma pergunta, mas ele respondeu.
- Com quem me interessa sim. – Ele sorriu.
Não o falei nada, comecei a brincar com a taça a minha frente. Os pedidos chegaram e eu me ocupei de comer.
- Então me diz por que fotografia? – Perguntou depois de um tempo de silêncio.
- Pra falar a verdade não sei direito. – Devolvi os talheres ao prato. – Eu sempre gostei de teatro, inclusive foi assim que eu conheci a Meg na escola, mas em algum momento antes dos 15 anos eu percebi que gostava mais de fotografar a peça do que de participar dela. – Comecei a falar animadamente. – Desde que eu peguei em uma câmera pela primeira vez eu gostei de fazer fotografias, então um dia eu percebi que queria isso para a minha vida. Sinto que através da lente eu conheço as pessoas que eu tenho uma ótica diferente do mundo.
- Seus pais apoiaram sua decisão?
- Sempre, eles são ótimos. – Falei com orgulho, pegando novamente os talheres. – E você? Publicidade é negócio de família?
- Não. – Ele rio. – Meu pai é dono de uma imobiliária, o hotel onde normalmente faço os eventos da Sund, o prédio onde funciona o escritório e o prédio onde fica meu apartamento fazem parte dos imóveis da imobiliária. – Ouvi ao que ele falava atentamente imaginando como isso deveria ter causado atrito. – Eu sempre gostei de publicidade, era a parte mais interessante da empresa, então quando fui pra faculdade resolvi seguir o que eu queria. – Deu de ombros.
- E como foi a reação dos seus pais?
- Eles custaram a aceitar que o herdeiro da família queria seguir outro caminho, mas eu não desisti. – Ele suspirou. – Principalmente minha mãe, ela pode ser difícil as vezes quando tem uma coisa na cabeça, mas meu pai depois de um tempo me ajudou com ela. – Ele fez uma pausa e eu percebi que talvez ele tivesse problemas com a mãe. – Quando ela viu a Sund crescer e percebeu que era o que eu quero para a minha vida acabou aceitando.
- Você é feliz com o que faz? - Perguntei curiosa.
- Eu sou muito feliz. – Ele sorriu orgulhoso. – É muito bom trabalhar com o que a gente ama.
- Sim, é a melhor coisa.
- Seus pais trabalham com o que? – Ele quis saber.
- Meu pai é oficial do exército, já minha mãe é professora, a mudança de cidade as vezes a atrapalhou no exercício da profissão, mas ela nunca desistiu.
- Nossa filha de militar, seu pai é muito minha dura?
- Um pouco, mas ele é muito carinhoso também, os dois são.
- Que bom. – Ele interrompeu o que ia falar quando a sobremesa chegou. – Você é de Manchester? – Perguntou depois que o garçom se afastou.
- Não, eu nasci em Bristol, depois quando meu pai foi transferido duas vezes até que fui pra Manchester. – Falei e praticamente esqueci o que eu dizia quando provei o tiramisú que havia pedido de sobremesa, gemi baixo e percebi que ele me olhava sorrindo de lado. – Quando estávamos no último ano da escola meu pai foi transferido para Liverpol onde moram até hoje.
- Muitas mudanças.
- Vida de militar. – Dei de ombros. – Você viveu a sua vida inteira aqui?
- Sim, nascido e criado em Londres.
Continuamos conversando sobre nossos pais e as cidades onde crescemos, era até estranho como foi fácil conversar com ele, mesmo sem termos intimidade, apreciamos velhos conhecidos.
**
John...
Enquanto conversava com Ellen fui percebendo a mulher incrível que ela é, ela me parece mais bonita a cada instante, muito além da beleza física. Eu gostaria de passar o resto do dia ao seu lado conversando com ela, mas cedo de mais ela pediu a conta dizendo que precisava voltar ao trabalho.
- Deixa que eu pago a conta. – Falei quando ela fez menção de pegar a carteira dentro da bolsa.
- De maneira alguma vamos dividir. – Ela teimou abrindo a bolsa.
- Deixa que eu pago. – insisti.
- Não precisa.
- Mas, eu quero, me deixa fazer essa gentileza. – Toquei sua mão lhe impedindo e no instante que nossas peles se tocaram eu desejei mais contato. – Faz assim, da próxima vez que a gente sair para almoçar deixo você pagar a conta.
- Está bem. – Ela falou depois de me olhar como quem diz “quem disse que vai ter próxima vez?” – Só não vou insistir pra não acabar me atrasando. – Falou fechando a bolsa.
O Garçom sorriu disfarçadamente de nossa discussão e pegou o cartão que eu lhe entreguei e passou na máquina, agradeci lhe dando gorjeta e sai com ela ao meu lado.
- Obrigada pelo almoço foi muito agradável. – Ela falou enquanto nos dirigíamos para nos carros.
- Não tem de que. – Sorri. – Foi um prazer ter a sua companhia.
- Igualmente. – Ela sorriu com gentileza. – Até mais. – Se virou para o carro.
- Ellen. – A chamei segurando seu braço coberto por um casaco vermelho, e soltei assim que ela se virou. – Que tal sairmos pra jantar qualquer dia? – Tentei parecer o mais casual possível, sorrindo depois de pronunciar as palavras.
- Jantar? – Ela pareceu desconfiada.
- É jantar. – Falei dando um passo em sua direção. – Sabe, nos fazemos parte do mesmo círculo de amigo agora e você passou o último ano fora de modo que não tivemos a oportunidade de nos conhecer, eu adoraria conhecer você melhor. – Falei a verdade, pelo menos parte dela.
Ela sorriu e inclinou a cabeça para a direita como se estivesse medindo minhas palavras a fim de decidir se acreditava ou não.
- Também gostaria de conhecer você melhor. – Ela disse depois de alguns segundos quer pareceram tanto tempo que eu tinha começado a ficar nervoso.
- Ótimo. – Sorri animado. – Me passa seu número.
Trocamos os números dos nossos telefones e depois me despedi dela, a vi entrar no carro e arrancar saindo pela rua. Guardei o celular de volta no bolso e me dirigi ao meu carro.
Não sei por que, mas eu me interessei por ela desde a primeira vez que a vi, e cada vez que me aproximo só me interesso ainda mais, sinto vontade de conhece-la mais um pouco, a mente e a alma além do corpo.
Balancei a cabeça afastando os pensamentos da mente e liguei o carro dirigindo na direção da Sund, tenho uma reunião em uma hora e com certeza tem coisa para fazer já que passei a manhã fora, supervisionando o ensaio.================
Vão jantar juntos? 😏
Será que o John tem costume acompanhar os ensaios ou ele quer mesmo é uma desculpa pra ver a Ellen?
Até sexta. 😘😍
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Um Toque de Confiança - Meu Clichê (Livro 2) (Concluída)
RomantizmEllen Williams é uma mulher romântica, e protetora que ao longo dos seus 28 anos de idade se viu pular de um relacionamento ruim para outro, parecia que era somente ela se apaixonar que o príncipe virava sapo. Depois do seu último namoro que termino...