Capitulo 41 - Parte I

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    Chego finalmente a casa. Paro o carro na garagem e, após fechar a mesma, dirijo-me para a frente da casa, na direção da caixa do correio.

  Posso recolher algumas cartas, mas há um pequeno papel que chama a minha atenção. Era uma folha dobrada em quatro.

  As minhas sobrancelhas unem-se em incompreensão e decido finalmente entrar em casa. Passo e deixo sem qualquer preocupação o meu casaco, mala e ainda o pequeno saco da farmácia com a medicação passada por Dr.Dixon e sento-me numa das almofadas do sofá, nunca retirando os olhos daquela carta.

  Pouso as outras a meu lado, após perceber que seriam contas para pagar.

  Abro o papel. Os vincos perpendiculares a tomarem conta da folha, assim como uma caligrafia profissional a preto sobre a folha branca.

  "Querida filha, talvez já saibas da minha ausência através da Ellen, mas de qualquer forma eu não poderia deixar de te escrever. Talvez seja covarde um pai deixar a filha e partir para outro país sem qualquer contacto, informação ou um simples adeus antes disso, aliás, é mesmo algo covarde, mas eu sei que tu ficarás bem.

  Os meus motivos são fortes, algo pessoal e que espero ficar resolvido em breve. Prometo ir ter contigo assim que voltar e, se tudo correr bem, poder finalmente ser o pai que devia ter sido durante todos os últimos 18 anos. Espero que me compreendas, apesar de isso ser algo difícil. Amo-te, acredita em mim.

  Um beijo,

  Pai."

  Os meus lábios estavam separados, algumas possíveis rugas na minha testa e um tremenda confusão na minha cabeça. O meu pai tinha saído do país? Mas como? Aliás, porquê? Não posso deixar que a ideia do assassino de minha mãe tome conta da minha mente. Era algo possível, mas o meu pai tinha certamente muitos outros problemas. Eu não sabia de nada.

  Posso, então, agarrar o meu telemóvel. Vejo que tinha uma chamada não atendida de um número fixo e apercebo-me que era o da empresa do meu pai. Era a primeira vez que podia ter o registo do número, desde há anos a morar em Oxford.

  "Muito boa tarde, daqui Ellen Jones, secretária na empresa Worcess em Oxford"

  "Boa tarde. Eu tinha uma chamada não atendida deste número. Não sei se se lembra de mim, mas sou a Blair Morison"

  "Sim, recordo-me" ela responde com uma certa rapidez "Desculpe o incómodo, mas o seu pai mandou avisá-la de que iria estar fora por tempo indefinido" suspiro

  "Eu sei. Será que me podia dizer para onde ele foi?” tenho esperança de que ela tenha mais alguma informação

  “Eu lamento, mas Mr. Morison não deu quaisquer informações sobre o local, tempo ou assunto a tratar na viagem” sinto-me de certa forma aborrecida

  “Obrigada na mesma Ellen”

  “Não tem de quê, menina. O resto de um bom dia”

  “Obrigada e igualmente”

  “Com licença” ela é educada e o telefonema dá-se como terminado

 Pouso de novo o telemóvel. Porque é que agora que eu precisava do meu pai para algo de extrema importância, ele não pode estar cá? O pior é que eu não podia esperar o fim do tempo de ausência dele, pois o mesmo era indefinido. Tanto podia ser uma semana, como meses.

  Bufo e mando-me para trás no sofá. Abro com pouco interesse as outras cartas e posso ver as contas que teria de pagar. Ainda íamos a meio do mês de novembro, portanto ainda iria demorar até ter finalmente o meu ordenado. Apesar de tudo, eu sabia que tinha ainda um certo dinheiro na minha conta. O meu pai transferia dinheiro para ela em cerca de 3 em 3 meses, até eu pedir para ele deixar de me ajudar, era das únicas coisas que ele fazia por mim e eu contava ainda com a maioria da quantia total que se encontrava no banco.

  Iria então pagar as contas, mas antes disso decido ir até ao escritório de meu pai, pensando em mandar um mail ao homem da imobiliária onde encontrara a casa que teria visto.

  Pensara melhor e talvez continuar naquele lugar era o mais sensato. Por muito que eu estivesse a passar naquele momento, aquela continuava a ser a casa que os meus pais escolheram em Oxford, continuava a ser a casa pela qual a minha mãe se apaixonou e sempre tratou dela com todo o cuidado.

  Eu tinha recordações ali. Isso podia ser algo bom ou mau. As recordações são sempre assim, boas ou más. Mas eu não queria que tudo aquilo perdurasse apenas na minha memória, queria estar naquele lugar e, para além do mais, uma mudança naquele momento da minha vida ia ser algo talvez não aconselhável.

  Minutos depois podia ter finalmente o meu mail enviado para o destinatário escrito na minha agenda, sendo como o da imobiliária.

  O meu olhar pára na gaveta fechada. Os meus dedos mantinham-se sobre a secretária, a cadeira já afastada da mesma e o meu olhar filtrado na madeira retangular.

  A chave. Aquela chave que eu encontrara em Nice só podia ser dali, se isso não acontecesse, então eu estava novamente no meio de um grande labirinto.

  Quando volto da sala, os meus dedos agarravam firmemente a chave. Posso colocar o objeto na fechadura e rezo mentalmente para que tudo dê certo.

  Os meus dedos rodam sobre o pequeno objeto entre as minhas mãos e eu não posso deixar que o meu peito se encha quando eu posso ouvir o trinco da fechadura.

  Um pequeno sorriso forma-se no meu rosto, por momentos, mas o mesmo cessa seguidamente. Apesar de tudo, eu não sabia o que iria encontrar ali.

  Abro lentamente a gaveta e o meu coração parece cair-me aos pés quando eu posso observar um plástico em volta de algo prateado e ainda uma nova carta.

  Engulo em seco e sinto-me imediatamente sem forças. Eu não devia estar a fazer aquilo, tinha-me sido aconselhado descansar, mas era impossível quando eu tinha uma morte suspeita na minha vida.

  Agarro no plástico e a minha respiração parece parar quando eu percebo que o conteúdo dentro do mesmo era um punhal. Um punhal bem decorado e com sangue seco na sua ponta.

  Deixo aquilo cair no chão. Aquilo foi o que matou a pessoa mais especial na minha vida e estava ali o seu sangue. Os meus olhos ficam molhados e dou por mim com uma lágrima a escorrer pelo meu rosto, sem eu mesma ter dado conta de que iria chorar.

  Viro-me novamente para a carta. Aquela era preta. Engulo em seco, a minha pulsação a mil e a minha mente pesada e confusa.

  Agarro no papel A4. As letras eram brancas, grandes e gordas.

  “Agora pudeste ter as certezas de que eu sou capaz de tudo para ter o que quero. Despacha-te a dar-me o que deves ou tudo ficará pior para o teu lado”

  E era só isso que estava escrito na carta. Tão pouca coisa mas tão doloroso de ler. Eu tinha cada vez mais certezas de que o meu pai tinha ido em busca da resolução deste problema e eu apenas me perguntava como é que tudo poderia ficar bem, depois de eu saber quem este homem realmente era.

  Hey! Pequenino, eu sei, mas eu não consegui mesmo mais.

  Este fim-de-semana não vou conseguir publicar mais, eu lamento por isso, e o mesmo vai acontecer durante a semana. Só sexta é que poderão ter o resto deste capítulo. Tenho três testes e são todos realmente bastante difíceis.

  Espero que me compreendam e eu peço-vos desculpa por mil vezes.

  Adoro-vos

 

  JMCarmo

The Shadow-HauntedOnde histórias criam vida. Descubra agora