The Shadow-Haunted

Capitulo 62

  Estava frio, o meu corpo antes quente conseguiu proteger-me disso nos primeiros minutos aqui, mas esse efeito foi rapidamente anulado. O ar parecia estar cada vez mais gélido e eu sentia os meus dedos extremamente frios, conseguia alcançar uma ou duas frieiras. Mexo as mãos uma na outra, tentando aquecê-las.

  Sentia-me suja depois daquilo que me pareceram horas a dançar. Podia sentir-me diferente das outras mulheres, não por ter sido chamada para a frente de todas elas, mas pela comparação de aspetos, eu pude ter atenção a isso quando cada uma de nós saía daquele local, eram talvez uma centena para puder comparar. O meu cabelo estava oleoso, um pouco despenteado, mas isso não se comparava ao emaranhado e já a tomar um cheiro não suportável das outras. Nós tínhamos tomado banho há relativamente pouco tempo, mas ainda assim parecia que a última vez que elas lavaram foi há semanas. Algumas estavam tão magras e com tantas forças, pareciam escravas da própria vida.

  Eu tinha fome e lembro-me do saco debaixo da cama. Antes de tudo, eu dispenso a comida e escolho o meu caderno. Não podia haver um dia em falta, precisava de ter noção da passagem dos mesmos. Traço um pequeno risco novo e olho a folha de cima a baixo. Esperava não ter de usá-la completamente.

  Ouço o som de passos no corredor, chaves a baterem umas nas outras, possivelmente em cada passo, era algo ainda um pouco longe. Apresso-me a esconder tudo de novo. Preparava-me para empurrar o saco mais para o fundo, contra a parede debaixo da cama, mas posso ver uma espécie de buraco no cimento, pouco visível devido à cama. Puxo-a um pouco para a frente e dou com o espaço na parede. Os passos pareciam-me ter finalmente chegado ao fundo do longo corredor. O caderno cabe na parede e eu empurro novamente a cama. Sento-me no colchão e finjo dormir, a maioria das mulheres parecia estar a fazê-lo.

  "Blair Morison"

  Outra vez eu? Será que também chamam as outras mulheres assim tantas vezes?

  O barulho da cela a abrir-se é ouvido e eu supostamente acordo. Sento-me sobre o colchão e encaro a figura à minha frente. Ele tinha uma barriga de cerveja e conseguia não ser tão alto e intimidador como os outros.

  Levanto-me e caminho para o corredor. Espero que o homem feche a cela e depois de ele o fazer sigo-o. Os meus olhos caiam nas celas de cada lado. Muitas mulheres dormiam, como eu calculava, mas consigo ver algumas, poucas até, sentadas na cama, escondidas no seu pequeno buraco onde agora pertenciam, tão tristes e imóveis que podiam ser confundidas com as paredes. Choravam?

  Paramos à frente de uma porta. Os chuveiros, eu podia ter quase a certeza disso mas se assim fosse as outras deveriam estar também espalhadas no corredor.

  O homem entrega-me uma toalha amarelada, um saco fechado e uma caixa pequena e retangular. Não há nenhuma palavra trocada entre ele e eu e entro no espaço amplo, os chuveiros. Estes não me pareciam como da outra vez, eu nem pude captar bem o espaço com a quantidade de pele nua, branca, mulata, escura e nua há dois dias atrás.

  À minha frente, logo na entrada, haviam lavatórios espalhados por toda a parede, talvez dez. Uma espécie de corredor a seguir, algo retangular onde chuveiros ocupavam todas as paredes do espaço assim como azulejos antes possivelmente azuis mas agora já com um tom escuro.

  Porquê só eu aqui? Respiro fundo, eu não tinha um bom pressentimento de tudo isto.

  Aproximo-me de um chuveiro aleatório e abro na água, na esperança de que esta pudesse aquecer apenas um pouco, apesar de isso ser algo que pouco se ia notar.

  O meu olhar lança-se para o lado oposto aquele onde me encontrava. Num azulejo meio partido e estalado, posso ver uma pequena faca. A água corria atrás de mim e ela estava fria, algumas gotas batiam nas minhas costas. "Mudar o meu próprio eu... Eu não era realmente eu aqui... completamente desencontrada, perdida e abandonada... isolada..." e à medida que os meus pensamentos apareciam de novo na minha mente eu dou por mim a agarrar a faca no chão e a dirigir-me para a frente de um lavatório.