Os meus dentes roçavam nervosamente na unha do meu mindinho. O sonho que tive era algo incapaz de eu esquecer e não me podia parar de perguntar se tudo aquilo que aconteceu é verdade, que não existiram dois anos ou um sítio diferente. Agora a minha cabeça procurava e voltava a procurar alguma ideia para conseguir alcançar a ala onde eu estava antes. Mas o que mais me intrigava era eu ainda me puder lembrar que, quando encontrei o mapa naquele escritório, havia a ala D onde eu estava. Agora também estava nessa ala, então supostamente estaria a poucas alas da minha anterior mas... este lugar tinha algumas diferenças e de uma ala para a outra elas não deviam haver, eu acho. Atiro os meus pés para fora da cama, o meu corpo sentado a escorregar um pouco no chão e a minha unha a partir-se. Eu não aguentava mais, nunca me senti tão nervosa como nos últimos tempos, tão irritada e frágil. A maneira como nos tratavam irritava-me tanto que eu tinha de me controlar para não fazer algo do qual me arrependeria depois e todo este peso, toda esta confusão e falta de liberdade, este sufocamento, estava a meter-me doida. Só me apetecia... morrer... ou talvez nem isso, apenas dormir durante meses e acordar com a minha vida fora daqui, mas eu sabia que isso era impossível. A morte parecia ser o único lugar onde eu poderia estar finalmente em paz, descansada, mas eu sei que lutarei até ao fim, eu seria incapaz de desistir, tudo aquilo que me fizeram deu-me mais forças para lutar ainda que eu ache que nada vá resultar, mas a ideia de haver uma hipótese e eu decidir acabar a minha vida, desperdiçando essa chance, mantem-me viva.
Saio da cama e em segundos as minhas mãos rodeiam as grades da entrada da cela. Tinha de arranjar maneira de sair daqui, de encontrar a ala A se ela realmente existir e depois puder tirar conclusões concretas, se passaram mesmo dois anos ou não. Depois, consoante a resposta, eu iria fugir, por muito que eu não acreditasse em mim mesma e tivesse o meu estômago aos trambolhões pelas milhares de vezes que a derrota caía na minha mente. Mas tentar ia ser a maneira de descobrir a minha tal possível hipótese, então eu ia começar agora.
"Alguém" chamo
Espero por um homem. Um, dois, três, quatro, cinco, seis... se ninguém chegar aos dez, chamarei de novo, mas isso não acontece porque nesse instante o alguém ocupa uma parte do corredor vazio.
"O que queres?" voz grossa
"Eu preciso de ir comer" é a primeira coisa que me ocorre
Ele analisa as horas no seu relógio de pulso. Não fazia a mínima ideia de quanto tempo passara desde a nossa refeição. Essa, tanto podia ser um pequeno-almoço como jantar, a comida era sempre a mesma, a luz era sempre a mesma, todo o aspeto deste lugar era sempre o mesmo.
"Ainda falta" dito isto começa a andar pelo lado que viera
"Espere" desespero
Suspiro de alivio quando ele para e apenas me olha, nada de voltar atrás.
"Eu..." finjo estar sem forças, prestes a cair, e agarro mais fortemente as grades "Não aguento, por favor" tinha de conseguir
Ele parece analisar o meu caso. Olha-me de cima abaixo por duas vezes, enquanto eu o observo pelo canto do olho. A minha mão pousa na minha cabeça e eu contorço-me um pouco, começando a fechar os olhos e fingindo uma luta por mantê-los abertos. O som de chaves é como a liberdade para mim. Ele está a rodar o metal na fechadura e eu não posso deixar de soltar um sorriso, enquanto vejo a porta ser aberta através dos meus olhos semicerrados.
"Anda. Ninguém pode saber disto, é só desta vez" cochicha ao meu ouvido, agarrando o meu braço
Abano a cabeça afirmativamente e continuo um pouco torta enquanto ando, deixando que o homem me agarra-se e, encarando o chão, fingindo-me ainda de muito mal.
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The Shadow-Haunted
RandomEsta é a história de Blair, uma rapariga que, na pior fase da sua vida, passa a sofrer de algo surreal, e Harry, um rapaz aparentemente normal, mas com um grande segredo, capaz de destruir todo o amor que ele possa criar. Eles vão mudar a vida um d...