Capitulo 52

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  O meu corpo é rodado sobre o banco e eu encaro Harry agachado à minha frente.

  "Blair, o que é que se passa?" agarra fortemente as minhas mãos e a temperatura das suas não parece ser muito diferente das minhas

  Só consigo alcançar o seu belo rosto, os seus belos lábios, os seus belos cachos, os seus belos olhos. Eu ia perdê-lo? Isso não podia acontecer, mas eu acreditava agora que algo de mau ia realmente acontecer. Perco-me por meros segundos em como é que seria possível tudo isto. Mas fazia sentido, ela parecia aparecer sempre por causa dele. Uma lágrima involuntária percorre a minha bochecha e eu tento apressar-me a abraçá-lo.

  Ele estava preocupado e isso não podia acontecer. Mas naquele momento eu não conseguia pensar em mais nada senão na sensação de o puder perder. Ele parecia ser a única coisa que eu tinha na minha vida agora. Era como a minha única fonte de amor. Eu não tinha o meu amor materno e eu sentia que ele, de certa forma, tinha conseguido esconder esse buraco no meu coração e ocupá-lo por aquilo que me fazia sentir por ele, por nós.

  "Blair, por favor, explica-me o que se está a passar"

  Eu conseguia sentir os meus ossos estalarem ao seu aperto, mas isso era-me fútil porque eu era capaz de estar a fazer a mesmo pressão no seu corpo. Não podia dizer-lhe a verdade mas o meu cérebro parecia ter parado e eu não captava qualquer desculpa. Então, ele também me omite as coisas, sem ter de me mentir, certo?

  "Por favor, fala comigo" os seus olhos causam uma pressão ardente nos meus

  Não posso. Sinto a minha cabeça latejar e pressiono fortemente os meus olhos.

  "Eu preciso de me deitar" apoio-me na bancada a meu lado, preparando-me mentalmente para me levantar

  "Blair, tu devias comer"

  Não era fraqueza. A fome tinha-se tornado até algo dispensável, enquanto pancadas cada vez mais fortes iam de encontro às laterais da minha cabeça. Harry é rápido a apoiar o meu corpo quando este deixa o assento. Ele leva-me então para fora da cozinha.

  Paramos no fundo da escadaria, quando dou um passo em errado logo no primeiro degrau. Perco o equilíbrio mas Harry facilmente me estabiliza. O chão deixa de suportar o meu peso e esse passa para dois fortes braços. Luto contra mim própria para abrir os olhos, apenas para encontrar o seu exuberante rosto.

  Solto um sorriso rápido. Não um sorriso que o faria sorrir também, se me observasse naquele momento, mas um sorriso pelo deplorável e doloroso futuro próximo que certamente nos aguardava. Um sorriso contra a desilusão da vida.

  Porquê sorrir pela dor? Porque acima de tudo, o seu rosto concentrado e visivelmente preocupado, os seus braços a carregarem-me como ele sempre me carregou desde que nos conhecemos, o inimaginável amor que eu sentia por ele, tudo isso era mais forte que tudo o que me pudesse abater. Um sorriso pela recordação de tudo o que vivemos até então. Se não fosse ele, eu nunca teria forças para resistir à pressão da minha vida, nunca teria até forças ou algo que me prendesse à vida.

  Ele era o meu herói. Eu era dele, assim como ele era meu. Ele seria sempre meu, por mais de mau que acontecesse, porque eu nunca pensei ser possível amar assim tanto alguém.

  Encosto-me no seu peito, ouvindo a batida acelerada do seu coração. Naquele momento, eu não me conseguia lembrar de algum som tão bonito e poderoso como aquele.

  "Amo-te"

  Ele não me ouvira, nem eu mesma me ouvira, mas ele sabia que eu o amava a todo o tempo, se calhar não imaginava a dimensão desse sentimento, mas ele sabia-o e eu não queria que ele alguma vez duvidasse disso.

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