Capitulo 3

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 Um sono profundo. Um sono profundo foi aquilo em que entrei. Estaria eu morta? Será que Deus achou que eu não conseguia viver mais? A única coisa que eu conseguia ver era a mesma imagem de há momentos atrás. Escuro. Uma onda interminável de escuridão, e a dor de cabeça ainda era sentida apesar de não ser tão forte.

 Mas num momento, todo o silêncio e escuro que predominavam em mim mudaram, transformaram-se. Ouvi algo do meu lado direito. Era como uma rajada de vento. Virei-me para o local do som, ainda que continua-se a ver a mesma coisa. Nada. O som repetiu-se, mas desta vez do lado oposto. Aquilo que se parecia com rajadas de vento tornou-se cada vez mais frequente, continuava a ser repentino e a mudar sempre de localização, mas o intervalo em cada som ia diminuindo até que num momento o tempo que separava cada ruido sessou por completo e a minha cabeça, que naquele curto espaço de tempo tinha andado sempre à roda, na direção do barulho, parou, tal como os estranhos ruídos. A dor que sentia tornou-se mais forte, mas apesar de tudo era como se aquela dor de cabeça não fosse a mesma de à de instantes antes. Era como se em vez de uma dor superficial fosse uma interior ainda que localizada no mesmo sitio e foi aí que toda a escuridão foi substituída por uma imagem. Os olhos. Aqueles olhos carregados de preto, carregados de raiva, de medo, a aproximarem-se de mim. Eu estava a reviver aquele momento outra vez, mas em vez de sentir a dor do veículo a bater-me, a imagem foi parada nesse preciso momento e trocada por uma voz a chamar pelo meu nome. Era uma voz delicada, suave e amável. A voz da minha heroína. A voz da minha mãe. Mas ela tinha algo por detrás dela. Tinha alguma rouquidão, algo que não era normal. Parecia que uma outra voz tinha entrado na da minha mãe e a tivesse transformado. Era algo esquisito e difícil de explicar, apenas quem passava por aquilo que eu estava a passar, que possivelmente não era quase ninguém, é que sabia o que aquilo era.

 Tentei abrir os olhos, mas estes estavam demasiado pesados para mim. Consegui sentir alguma luz. Foi como se finalmente tivesse acordado daquele terrível pesadelo. Estaria eu no céu? Teria o meu único medo atravessado novamente a minha vida?

  “Calma, não tente fazer esforços” um homem falou. Seria Deus ou alguma espécie de anjo da guarda?

  “Você é Deus? Ou o meu anjo da guarda?” como sempre deixei que os meus pensamentos fluíssem por entre os meus lábios

  “Bem, eu não lhe chamaria isso, mas se quiser…” ele disse enquanto deixava soar algumas gargalhadas “Sou médico” afirma momentos depois com um tom mais sério, talvez por perceber que eu não estava a entender o que se passava e eu percebo o quão ridícula a minha pergunta foi “Mas por pouco que não nos deixou. Você foi uma rapariga muito forte” este finalizou

 Calma, então eu não morri? Eu continuo neste Mundo onde não tenho basicamente ninguém? Porquê? Eu não sou feliz, não agora sem protecção, sem amor, sem alguém que cuide de mim. Podia ser absurdo, mas eu acho que talvez preferia ter morrido, porque eu acreditava que assim iria voltar para os braços da minha mãe. Porque é que tudo se tornou, de um momento para o outro, num pesadelo do qual eu nunca mais acordo?

  “ Mais valia ter morrido” sussurrei segundos depois virando-me para o lado contrário ao da voz que ouvia

  “Não diga isso. Você ainda é muito nova, ainda tem uma longa vida pela frente” fiquei em silêncio por momentos mas logo me virei de novo para o homem que aparentava ser pouco mais velho que eu pela sua voz

  “Não interessa se nós somos muito novos ou muito velhos. A verdade é que nós morremos quando tem de ser. Não importa se temos oitenta, quarenta, vinte ou até mesmo cinco anos, porque se Deus achar que nós não temos mais nada para fazer na Terra e somos mais precisos ao lado dele, então nós morremos e pronto”

The Shadow-HauntedOnde histórias criam vida. Descubra agora