Talvez fosse errado o que eu ia fazer, mas para mim era simplesmente impossível não virar cada um daqueles objetos. Eu sentia que estava li algo que ia mudar muita coisa, talvez fosse só imaginação minha, mas era isso que eu sentia e eu não ia conseguir viver os próximos dias a pensar no que eu poderia ou não ter visto se pegasse em cada uma daquelas pinturas.
Agarrei naquela que se encontrava no topo. Respirei fundo antes de mover o objecto entre os meus dedos. Quando as poucas cores que formavam aquele tão trabalhado mas explícito trabalho, o meu queixo caiu por completo. Havia uma grande mancha vermelha no centro e por cima desta estava um papel. Este parecia estar queimado nas pontas, devido às diferentes tonalidades de cor escuras que a minha mãe colocou e também por o papel estar sem a forma rectangular de deveria ter. Depois deste, a minha mente obrigou-me a virar os outros quatro objectos. Virei cada um o mais rápido que podia e enquanto isso a minha respiração tornava-se cada vez mais ofegante. Era como se eu tivesse de virar cada tela para descobrir tudo, e o pior era que eu simplesmente não sabia o que era o tudo. A minha mãe tinha morrido num acidente de automóvel, era uma razão simples, não havia nada para descobrir. Mas este era o lógico porque aquilo que eu sentia, aquilo que o meu coração me dizia, não era isso.
Quando dei por mim os diferentes desenhos estavam espalhados na mesa, uns ao lado dos outros. Olhei-os rapidamente enquanto puxava o meu cabelo para trás, de forma desordenada. Aquilo era como uma história, era como se cada desenho fizesse parte da ordem cronológica de algo. Mas eu não sabia o que era o algo, não sabia qual era a razão de cada um dos desenhos, mas algo bom não era. Cada pintura era diferente, mas era como se todas representassem um só coisa. O fim. Será que a minha mãe já sabia que ia morrer? Eu não tinha passado tanto tempo com ela antes da sua morte devido ao meu curso, mas durante o tempo que estávamos na companhia uma da outra, ela parecia-me completamente normal. Voltei a olhar para cada um dos quadros com mais atenção e ouve um que me captou a atenção. Era o penúltimo. Aproximei-me dele e tentei perceber o que lá se representava. Na tela encontravam-se o lado de dois rostos. Ambos me pareciam ser de homem pela forma robusta que apresentavam e por os seus cabelos serem ambos curtos. No meio havia uma linha irregular, pintada a vermelho, que separava cada metade dos rostos. Olhei para o do lado direito. Tentei encontrar parecenças com alguém que conhece-se mas foi em vão. Em seguida olhei para o rosto do lado esquerdo e tudo foi diferente. Eu conhecia aqueles olhos azuis e de imediato levei a minha mão à boca por perceber de quem era aquele rosto. Como é que é possível ele estar no desenho da minha mãe? Será que ele tem alguma coisa a ver com a sua morte? Não, não pode ser, é impossível. Ele não seria capaz de a matar, apesar de tudo o que aconteceu entre eles e tudo o que eles passaram, isto não é possível. Peguei na tela e pensei se a deveria levar para o meu quarto e esconde-la, ou se a deveria deixar ali. Eu não queria que o meu pai visse isto, ele poucas vezes vem até aqui, mas eu não podia correr riscos. Pequei em todas as telas e dirigi-me até às escadas, mas antes que pudesse pisar o primeiro degrau, algo me interrompeu. Aqueles sons, outra vez. Cada vez me perguntava mais o que eram. Não podia ser só o vento. Eu já ouvi bastantes vezes este som e ele é sempre o mesmo e apesar de tudo, as quatro janelas do sótão encontram-se fechadas. O som vinha de trás de mim, novamente. Eu não me queria virar, eu sabia que mais uma vez não iria ver nada ou simplesmente iria cair no chão e ficar inconsciente durante uns minutos.
Instantes depois o som mudou de localização e este vinha da minha frente. Ergui o meu rosto que se encontrava ligeiramente baixo de maneira a encarar as escadas. Mas daquela vez não eram só os barulhos. Havia uma espécie de escuridão na parede, que se movimentava de um lado para o outro. Ainda no topo das escadas, rodei o meu corpo de maneira a encarar aquela espécie de sombra que tinha mudado de posição, agora para trás de mim. Era impossível saber o formato daquilo que os meus olhos viam, era com se fosse algo desfocado, mas que ao mesmo tempo se conseguia ver com uma perfeita nitidez. Aquilo que eu decidi ser uma sombra movimentava-se por todas as paredes. Tentava seguir o seu trajeto, mas este cada vez foi feito com mais velocidade. Nunca havia uma sequência ao certo, ela mudava de localização aleatoriamente e isso fazia com que alguns calores estranhos percorressem todo o meu corpo. Eu estava a ficar maluca. Não era normal uma pessoa ver e ouvir aquilo que eu via e ouvia. A única explicação que havia para eu presenciar tudo aquilo era eu estar maluca, era o meu cérebro não estar devidamente organizado e criar a ilusão de coisas que são impossível existir. Mas eu sabia que eu não estava a sonhar e que estava mesmo a ver aquele ser fantasmagórico. A um certo momento um grito que eu não sabia que guardava foi liberto. Tentei correr até a um canto do sótão mas fui interrompida a meio do meu caminho por uma forte dor de cabeça, que fez com que eu caísse no chão tal como os quadros da minha mãe.
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The Shadow-Haunted
RandomEsta é a história de Blair, uma rapariga que, na pior fase da sua vida, passa a sofrer de algo surreal, e Harry, um rapaz aparentemente normal, mas com um grande segredo, capaz de destruir todo o amor que ele possa criar. Eles vão mudar a vida um d...