Capitulo 47

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 Eram aproximadamente as cinco da tarde. Harry caminhava comigo pela cidade. As ruas de Oxford estavam movimentadas naquele momento. Era Natal, haviam as compras esquecidas para a ceia, um fim de almoço num restaurante ou o desejo de uma criança patinar no gelo, tal como eu o fizera na passagem do dia anterior para o de hoje. Foi um momento especial para mim, não por aprender a patinar, mas pela força que Harry me deu e pela confiança depositada mim, por ele acreditar que eu ia conseguir.

  Observava as pessoas a meu redor. Todas elas pareciam ter algo importante para fazer. Um homem engravatado sai de um edifício e entra num carro, ele tinha alguma pressa, possivelmente saíra do seu trabalho e podia voltar para junto da sua família. Um casal tinha uma filha entre si, eles estavam ligados pelas suas mãos e elevavam a menina no ar, por vezes. Ela gargalhava enquanto os cabelos loiros que não eram cobertos pelo seu gorro cor-de-rosa voavam quando ela era elevada. Um casal idoso encontrava-se sentado num banco ao pé de um parque infantil, talvez a observar as crianças que aí brincavam enquanto falavam. Talvez a relembrar a sua juventude ou outras memórias felizes. Eu desejava puder ser assim também, um dia.

  “Onde vamos?” questiono por fim e aperto-me mais ao braço de Harry, apenas para o sentir mais perto do meu corpo

  Ele olha para baixo, para mim.

  “Passear” esclarece

  Não estava muito frio, felizmente. Eu sentia-me bem na rua.

  “Então diz-me” a sua voz rouca começa e eu encaro alto “Tu não devias passar o Natal com o teu pai?”

  Eu esperava aquela pergunta há algum tempo, desde o momento em que ponderámos passar estes dias juntos, mas ela ainda não chegara. Não até agora. Eu não iria mentir muito sobre isso, não haveria muito em que mentir e, para além de eu já achar demasiado mentir sobre o meu problema, talvez me fizesse bem falar com alguém que me era chegado sobre a minha mãe. Alguém com quem eu ainda não falara e que eu amasse. Talvez fosse agora.

  “Ele não está cá”

  “Viagens de trabalho?” puxa-me levemente para um banco vazio ao pé do jardim

  Passamos à frente do casal idoso e contornamos o parque, sentando-nos num local onde mais ninguém se encontrava, apenas uma ou outra pessoa a passar de vez em quando ou uma criança a sair da sua brincadeira, correndo em direção aos pais, cá fora, para lhes contar algo ou simplesmente ir embora.

  “Não. Quer dizer, eu não sei” ele olha-me confuso

  Cruzo as minhas pernas e rodeio o braço de Harry com outro meu. Apoio a minha cabeça no outro braço, fletido sobre o banco. A sua mão pousa na minha perna dobrada e eu sinto uma energia parar desde aí até ao fundo da minha barriga.

  “Ele saiu daqui sem me dizer o destino e tempo que ficaria fora ou a razão para sair. Eu só soube disso depois de ele partir, ele mandou a sua secretária avisar-me”

  Ele não diz nada. A sua expressão tinha a de alguma pena por mim, era o que parecia. Eu não queria isso. Custava-me, mas eu já estava habituada. Eu não precisava do meu pai, podia ser cruel dizer isso mas eu não precisava de olhar para um homem que apenas me trazia más recordações. A única coisa que eu queria era falar com ele sobre a minha mãe, sobre o homicídio, sobre as cartas, sobre toda essa história. Talvez apresentar-lhe Harry, talvez isso eu fizesse, apenas para ele saber que eu tinha crescido e que estava bem, com alguém que me amasse e estivesse a meu lado, ao contrário dele e do seu dever como pai.

  “Eu já estou habituada” tento confortá-lo

  “Não deixa de ser cobardia” ele trava-se “Desculpa”

The Shadow-HauntedOnde histórias criam vida. Descubra agora