Qualquer palavra podia ser dita, um mínimo suspiro, uma mínima pergunta ou resposta, algo que me fizesse perceber se é certo eu sentir alívio ou confusão. O seu rosto está como eu não me lembro de ver algum. Uma ou outra ruga, mas ainda assim uma pele vistosa, algo que aparenta bem-estar, que faz qualquer um perceber que era literalmente impossível uma pessoa assim estar aqui. Um sorriso perverso, quase invisível, é o que cresce quando ele baixa os seus olhos e os volta a elevar para o meu rosto. Quando o Harry ficava irritado perante ele, quando o seu estado mudava imediatamente assim que ele ouvia o nome deste homem, quando ele me implorou para mudar de psicólogo, para ao menos lhe explicar o motivo de estar a ser acompanhada. As inicias. "A.D.", Andrew Dixon. Meu Deus, isto era pior do que aquilo que eu pensava. Mas se é mesmo ele então... foi ele que me violou da última vez, que me chicoteou e que e acho que me drogou. Ele é a última coisa que eu podia ter imaginado e agora eu percebo a constante preocupação do Harry. Eu fui tão egoísta, apenas me preocupei com o meu problema e não tive um momento em que parasse e apenas o obriga-se a contar-me o que o atormentava. Eu tentei, mas nunca foi o suficiente e eu culpo-me por isso. Agora eram possivelmente nulas a hipóteses de o Harry também já ter sido acompanhado por este homem, foram cúmplices de toda esta porcaria e se o Dixon me violou naquele quarto que é obviamente dele então... isto é tudo dele.
"Levem-na" e surgem dois dos homens de macacão preto que atiram a minha arma ao chão e as minhas mãos são presas para trás das costas
Sou levada para fora do escritório, vou para lá das duas grandes portas, a área de saída em breve, mas quando eu por algum motivo viro o meu olhar para o corredor que eu percorrera antes surpreendo-me. Um rosto sardento na esquina, encostado pesadamente à parede. Dakota. Carrega um olhar triste e ao mínimo contacto visual ela encara o chão e eu sinto pena por ela, porque por algum motivo teve necessidade de me mentir, não tentou até por uma vez dizer-me a verdade. Por dinheiro, ameaça, o que fosse, ela podia ter-me segredado a mínima verdade mas eu parva fui nos últimos minutos iludir-me de que afinal ela era uma boa pessoa. Era por isto que não queria amizades, ultimamente elas têm tendência para desaparecerem por obra da Natureza ou do Homem. Posso jurar ver ainda um pedido de desculpas surgir nos seus lábios. Se calhar aconteceu o mesmo que com Eve... mas é diferente, ela era apenas uma menina que não sabia como se defender, assustada, a Dakota podia ter feito mais que isto, muito mais.
Consigo sentir a presença de Dixon atrás de mim. O meu coração palpita duramente quando ao invés de seguirmos para uma das portas laterais damos com as duas grandes de saída. Eu vou sair... não, não é por uma boa causa, ele é mau, as iniciais são a prova disso. Então só há uma hipótese. Aqueles leilões. O meu pé faz força no chão e eu luto por ficar. Em primeiros momentos os meus braços escorregam pelas mãos dos homens mas eles logo tomam atos para me parar. Sou obrigada a endireitar-me e parar de lutar. Grito, só queria ver a cara dele e perguntar-lhe que mal lhe fiz eu, o porquê de tudo isto me estar a acontecer.
"Para quieta" recebo um pontapé na minha perna e caio no chão, gemendo de dores
"Eu não vos mandei bater-lhe" dois novos pés surgem à minha frente, voz bem alta e autoritária, zangada
Não há mais nada a ser ouvido. Eles levantam-me novamente e eu não tento lutar agora, estou sem força. Uma venda cai nos meus olhos e em breve estou de novo dentro de uma carrinha, a ser levada certamente para mais um dos meus piores pesadelos.
É a minha vez de entrar e engulo em seco. Já sabia como era e talvez isso fosse pior. Memórias de como o outro homem me tocava, como batia a palma da sua mão no meu rabo, quando o meu corpo foi coberto de chupões dolorosos, cada um mais forte que outro, são horriveis. Parecia um animal faminto. Há um vestido vermelho no meu corpo. O corpete é vistoso com um decote acentuado e a parte de baixo tem uma saia pequena que eu sinto tapar pouco mais do que o meu rabo. Uns saltos altos pretos nos meus pés e sinto que sou mais pele que roupa. Uma nódoa negra no meu joelho, uma marca já arroxeada de um chupão na barriga da minha perna e algo idêntico mais perto das minhas nádegas. No músculo do meu braço uma grande nódoa negra, eu nem sabia como tinha sido feita e imagens horríveis de aquele homem, do quarto de hotel, ter feito mais algo inadmissível depois de estar inconsciente entram na minha imaginação. Para além disso, o meu braço direito tinha ainda um corte que se alastrava desde o cotovelo até metade da parte superior do braço, devido à minha tentativa de fuga. Era uma mulher mal tratada aos olhos de qualquer um.
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The Shadow-Haunted
De TodoEsta é a história de Blair, uma rapariga que, na pior fase da sua vida, passa a sofrer de algo surreal, e Harry, um rapaz aparentemente normal, mas com um grande segredo, capaz de destruir todo o amor que ele possa criar. Eles vão mudar a vida um d...