Capitulo 57

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Medo, medo e medo. Um medo incondicional e incansável. Que lugar era este? Que pessoas eram estas? O que me queriam fazer? E a pergunta que mais me atormentava, que parecia gozar de permanecer na minha cabeça, em que estado é que eu sairia daqui? Ou até mesmo quando é que eu sairia daqui.

  A manta que me cobria era de lã, mas a sua espessura era tão fina que eu podia sentir o meu corpo frio. Abro os olhos e o sítio onde estava assusta-me. Era como uma cela. Era uma cela, na realidade. O espaço era pequeno e eu estava numa pequena cama, que rangia a cada mínimo movimento meu, na parede paralela à da entrada do espaço. Olho para o fundo, não sendo este muito distante, e havia uma sanita claramente suja. Fecho os olhos em nojo e afasto o meu olhar daí. Olho então para cima. A parte de trás da cama estava encostada a uma outra parede, estando assim eu deitada num canto. À minha frente haviam grades e uma porta formada pelas mesmas. Para lá disso era um curto corredor e conseguia alcançar mais celas do lado de lá. Elas eram escuras, apenas minimamente iluminadas pela luz do corredor, assim como a minha.

  Eu tinha de procurar algo para sair daqui. Eu tinha de sair daqui, eu não queria nem conhecer este lugar, aquilo que aqui acontecia, eu sentia-me zonza com as hipóteses que a minha cabeça colocava. Sentia-me única ali, perdida num espaço de tamanho indefinido mas que eu sentia ser tão grande que nem em dias eu o podia percorrer todo. Sentia-me num beco, escondida de todo o mundo. A luz daqui era claramente de uma ou outra lâmpada fraca, nada de luz solar.

  Não me conseguia lembrar de como aqui cheguei. A última coisa que me lembro é de entrar numa sala que me causava arrepios. Eu não conseguia perceber o que aí aconteceu. Nós eramos cinco raparigas, nenhuma parecia ter mais de 30 anos. Estávamos num comprido banco de madeira, numa sala vazia. Haviam mais de nós sentadas no lado oposto da sala. Eramos semelhantes e mutuamente divergentes. Lembro-me de todas no meu banco não falarem, sentia-me desencontrada ali, mas quando eu levantei o meu olhar eu vi-as. Elas usavam roupa diferente da nossa, também eram vestidos, mas enquanto que os nossos eram pobres os delas eram bonitos. As do meu banco tinham a pele simples, nada de maquilhagem, penteados ou algo do género. As outras não. Lábios vermelhos, olhos escuros, cabelos apanhados e ondulados. Era como se no centro da sala estivesse um espelho que tornava o feio em belo. Eu estava no lado feio e tinha medo de como chegaria ao belo. Mas depois nós parecíamos estar relativamente bem, apenas assustadas. Elas surpreenderam-me, assustaram-me. A sua maquilhagem não podia esconder o cansaço, a magreza em algumas já muita, a pele descuidada e, quando elas se levantaram, eu pude ficar boquiaberta. Mal se conseguiam manter de pé, nunca tinha visto alguém ter tão poucas forças. Pareciam quase... mortas.

  O outro lado da sala tornou-se vazio. Uma a uma, no meu banco, foram depois chamadas. Eu seria a última. Mas com o passar do tempo elas apenas iam, não vinham. Um homem chamou o meu nome. Como é que ele o sabia? Talvez fosse um dos que me apanhou, um dos da carrinha azul, e depois de eu adormecer ele viu os meus documentos.

  Levantei-me e ele abre uma porta. Alguém chama o meu nome. Pela primeira vez falei. "O que há ali?". Eu estava assustada, muito, mas eu sabia que estava a conseguir esconder isso. Talvez seja quando temos mais medo, algo novo, que conseguimos lidar melhor com isso à visão dos outros. Apenas me disse que tinha de entrar, era bruto a falar. Neguei. Aí ele tentou puxar-me para lá e começou uma luta de puxões em que eu tentava ficar na sala e ele queria-me no outro lado. Por fim ele atira-me.

  O que senti naquele novo sítio foi assustador. Eu senti algo forte naquele espaço e quando elevei o olhar foi apenas uma parede cinzenta que vi. Eu podia jurar estar lá alguém. Pensei em Harry por momentos. Onde é que ele estará? Certamente já estava em casa há horas e preocupado comigo.

  Depois disso eu mostrei-me forte, comecei a senti-lo até por momentos, mas houve um pequeno deslize emocional. Não sabia o quê, mas houve.

  Todas nós voltámos depois para a sala. Vamos novamente uma por uma a uma outra porta. Seria mais daquilo? O que aí aconteceu eu não posso alcançar, foi quando uma dor atingiu a minha cabeça e me levou até a esta cela imunda.

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