O dia estava cinzento, ao contrário de ontem, e o som da chuva contra o telhado da casa era audível na sala. Estava literalmente estatelada no sofá, com a minha cabeça sobre as pernas de Harry enquanto víamos um filme que passava na televisão e ele mexia calmamente nos meus cabelos.
Não conseguia prestar grande atenção à televisão, apenas me encontrava focada no que acontecera há horas atrás. Eu entreguei-me a Harry e eu sentia-me feliz por não sentir uma ponta de arrependimento por isso. Eu tinha dores e Harry estava minimamente preocupado com isso. Mas depois o pensamento da minha passagem de ano ser com Harry e no estrangeiro toma conta da minha mente e não parecia querer abandonar-me. Sentia-me já irrequieta com a ideia do que poderíamos fazer no Brasil, eu acreditava que era algo que eu me fosse relembrar bastantes anos mais tarde. Queria aproveitar ao máximo os três dias inteiros que ia lá ficar.
“Acabou” posso vê-lo agarrar no comando e circular pelos diferentes canais da televisão
“Bem, eu vou fazer o jantar” destapo-me e caminho até à cozinha
Agarro em carne do frigorífico juntamente com alguns vegetais. Procuro o arroz na despensa e consigo agarra no último pacote. Tinha de ir ás compras. Ouço os passos de Harry e vou até à zona do fogão. Começo a cortar os vegetais, depois de ligar o lume, para que a panela pudesse aquecer para o arroz e vegetais.
“O que posso fazer?” os seus braços circulam a minha cintura enquanto ele apoia a sua cabeça sobre o meu ombro
“Se quiseres podes grelhar a carne”
Aponto para o local onde o grelhador de fogão estaria e posso senti-lo deixar o meu corpo, não sem antes beijar a minha bochecha e deixar um pequeno sorriso no meu rosto.
Não muito depois a comida parece estar pronta. A mesa encontra-se devidamente posta e finalmente nos sentamos. Sinto uma nova dor tomar conta da minha intimidade e não consigo evitar uma cara de sofrimento. Vejo Harry suspirar e eu dou-lhe um sorriso abafado, acabando por massajar a sua mão, levando-o a compreender que não fazia mal. Ele acaba por começar a servir-nos.
“Gostaste da minha surpresa?” não desvia os olhos da comida que ia transportando para os pratos
“Eu amei”
“Tinha medo que preferisses outro sítio” os seus olhos encontram por momentos os meus, quando ele pousa o prato na minha frente já com comida
“Está ótimo assim”
Começamos ambos a comer e o silêncio instala-se, o que parece intrigante logo pelos primeiros segundos.
“Tu já lá foste alguma vez?”
“Sim, algumas” mantém-se focado em apanhar algum arroz no seu garfo
Mais que uma vez, então. Eu sinto-me por momentos interessada ao o que o levou às suas viagens até ao Brasil, se ele tinha ido sozinho ou não. Eu podia deixar essas perguntas comigo, eu devia até, mas por favor eu não aguentarei para sempre tudo isto. Eu não poderei ter uma relação assim, por mais que ele goste ou não.
“Com quem?”
Não consigo olhá-lo daquela vez, o medo da sua expressão mudar tomava conta de mim e eu sentia-me intimidada com isso. Ouço-o suspirar. Ia ser mais uma repreensão sobre eu não dever perguntar-lhe coisas assim sobre ele, um lembrete daquilo que ele me avisara se eu deixasse soltar a minha curiosidade?
“Com uns amigos” a sua voz é pesada
Consigo sentir-me esperançosa quando ele me responde. Eu acreditava que daqui a algum tempo ele começa-se a contar-me tudo aquilo que por vezes me escondia. Mas eu penso então que ele pode não me contar certas coisas devido à sua gravidade. Era uma razão suficiente para isso e eu ficava já nervosa por antecipação.
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The Shadow-Haunted
RandomEsta é a história de Blair, uma rapariga que, na pior fase da sua vida, passa a sofrer de algo surreal, e Harry, um rapaz aparentemente normal, mas com um grande segredo, capaz de destruir todo o amor que ele possa criar. Eles vão mudar a vida um d...