Capitulo 7

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 "Eu não posso" digo rapidamente, não o encarando, com medo de me arrepender e voltar com a minha palavra atrás

  "Mas... mas porquê?" a sua voz está mais rouca do que o normal.

 É tão estranho. Eu simplesmente não conheço bem o rapaz à minha frente e custa-me tanto dizer-lhe um não. Era como se o meu coração me dissesse que isso iria ser errado, que rejeitá-lo me iria deixar magoada, ainda que a minha mente me dissesse o contrário. Ainda que a minha mente me dissesse para eu pensar naquilo que me persegue e tornava o meu dia-a-dia diferente de todos aqueles que eu já tivera passado.

  E então eu penso. Eu penso no que iria acontecer se tudo isto se tivesse passado há dois meses atrás. Eu certamente iria falar com a minha heroína assim que abrisse a porta de casa, e iria perguntar-lhe se tinha agido bem. E era aí que ela me ia dizer o que eu devia fazer, era aí que ela iria desempenhar o seu papel, o seu papel de melhor conselheira que eu poderia ter, mas principalmente, o seu papel de mãe. Ela iria fazer aquilo que qualquer mãe faria. E porquê? Porque é isto que uma mãe é. Uma mãe é alguém indispensável a um filho, não só na sua infância e adolescência, mas sempre. Por mais velhos que nos fiquemos, uma mãe é sempre tudo para nós. É ela que cuidou, cuida e sempre cuidara de nós, até ao fim das suas vidas. Mas se eu pensar ainda melhor, se tudo isto acontecesse há dois meses atrás, eu nem estaria nesta sala. Eu nem teria conhecido Harry. Porque se isto fosse antes, e não depois do fim de minha mãe, eu não iria precisar de um psicólogo, porque ele estaria em casa, sentado no sofá à minha espera, para me ajudar, como sempre ajudou.

 Quando dou por mim um pequeno soluço é escapado por mim e noto que já varias lágrimas percorrem o meu rosto.

  "Blair" Harry senta-se ao meu lado e agarra nas minhas mãos, tentando olhar para a minha face escondida. "Blair, tu estás a chorar?" ele levanta o meu rosto e as nossas faces ficam frente a frente.

 Fecho os olhos, numa tentativa de empurrar as lágrimas para dentro e até para que o rapaz à minha frente não visse os meus olhos que com certeza estariam vermelhos, mas isso apenas faz com que o meu corpo seja envolvido pelos seus grandes braços.

 Ainda que estivesse mal, aquilo sabia tão bem. O seu calor reconfortante aquecia-me e enquanto isso, pequenos soluços acompanhavam as lágrimas que eu deixava cair. Eu não queria chorar assim, à frente de um desconhecido, mas se virmos bem, ele já não é um desconhecido ou até mesmo um simples conhecido. Para mim, ele neste momento é um amigo. É um amigo por estar aqui, a abraçar-me, quando eu mais preciso.

 Por instinto, abri os olhos, e encarei uma das paredes da sala. E lá estava ela, mais uma vez. Era por isto que eu não poderia estar com Harry. Ele ia achar-me maluca se eu de repente começasse a gritar e caísse no chão, acabando por desmaiar, como nos últimos dias.

 Mas então algo estranho acontece. Algo que nunca acontecera. A sombra deixa a parede onde se encontrava e encaminha-se para o corredor que dava lugar à receção. Ela estava a deixar-me? Estava a desaparecer? Porquê? Quando pensava que esta iria continuar o seu caminho e ficar fora do meu alcance, esta vira-se e então eu consigo ver. Eu consigo ver uma forma e a habitual voz chama pelo meu nome. Ainda era algo pouco concreto, mas agora já não era como se aquele ser estivesse atrás de um vidro translúcido, agora era a sombra da forma de algo que me parecia um corpo.

 De repente, o calor do qual já estava habituada afasta-se e eu encaro o rosto de Harry. Era impossível cansar-me dele. Parecia que cada vez que olhava para ele era diferente, que cada vez era mais especial. Um leve sorriso cobriu o seu rosto e os seus olhos brilhavam. Aquele brilho que me encantara finalmente tinha voltado.

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