De novo naquela cela. Gélida, húmida, escura, assustadora. Sentia o meu estômago roncar por comida, ainda. O meu corpo começou a tremelicar assim que pisei aquele espaço. Apesar de tudo, podia sentir-me limpa. O balneário era amplo apesar de não ter, ainda assim, espaço para todas nós. As mulheres acotovelavam-se por melhores condições de espaço para se lavarem, espalhando a sua sujidade com todo os seus toques nas outras, até chegarmos a chuveiros vagos.
E agora? Seria assim? Acordar, comer, lavar e dormir?
As raparigas das outras celas não me pareciam fazer quase nada. Estavam apenas sentadas nas suas camas, provavelmente com os seus pensamentos, e outras em cima do colchão, a falar com um outro alguém tal como eu fizera ontem com Eveline.
Um ser tapa a minha visão. Um rapaz alto, o do refeitório, Zayn era o seu nome, acho eu. Do seu bolso saem umas chaves e ele abre a minha cela, antes trancada por um homem indistinguível perante todos os outros. Apenas Zayn usava uma roupa diferente dos outros. Calças um pouco rasgadas e pretas, camisola branca e casaco de cabedal negro. Ele disse que tinha um papel importante aqui, se calhar era por isso que se apresentava diferente. Que papel seria esse? Eu talvez devesse ter medo disso, mas quando ele me olhou, no refeitório, eu não me senti desconfortável, mas sim... protegida?
"Blair Morison" soa mais como uma afirmação que uma pergunta
Levanto-me e brinco com os meus dedos. Ele trazia um saco de plástico consigo e a minha curiosidade pelo mesmo era muita. O que é que ele me ia fazer? Sinto os meus pés tremerem contra o chão. Usava agora uns sapatos pretos velhos. Certamente tremia mais de medo que de frio.
"Tens frio?"
"Não"
Era mentira. Por mais que eu quisesse fugir do seu olhar, eu encontro-me conectada com o mesmo. Tinha de parecer destemida nas palavras e nos atos.
"Eu trago aqui umas coisas" aproxima-se de mim, demasiado, e eu não consigo recuar mais quando bato na cama sem ele se aperceber "Tu não podes contar isto a ninguém, ouviste?" o seu hálito fresco contra a minha face
"Para meu bem ou para teu?"
"Para o de ambos" o seu olhar é fogo no meu
Segundos passam e ele decide entregar-me o saco. Espreito para dentro do mesmo. O meu caderno, ele estava lá, assim como os meus comprimidos e um saco pequeno transparente com mais alguns.
"O que é isto?" agarro nos novos medicamentos
"Em relação a isso, eu preciso que me ouças com muita atenção" fala tão baixo que até eu mesma tenho de tentar decifrar as suas palavras "Todos os domingos, eu preciso que tomes um deles logo pela manhã. Se alguma coisa mudar eu avisarei"
"Eu nem sei que dia é hoje"
"Segunda-feira. Ouve-me Blair" as suas mãos agarram os meus braços e ele aproxima-nos ainda mais, o que eu pensava ser impossível "Tu não podes faltar com isto, é para teu bem"
"Como é que eu sei que posso acreditar em ti?" tento
"Não sabes" larga-me e afasta-se um passo para trás "Por agora não sabes"
"Então alguma vez vou saber?" vejo o seu peito subir e descer profundamente, eu não ia saber a resposta agora
"Horas"
Eu precisava de reter o máximo possível. Ele parece pensativo.
"Para ti, algo entre as onze da manhã e as três da tarde"
![](https://img.wattpad.com/cover/23844692-288-k883614.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Shadow-Haunted
RastgeleEsta é a história de Blair, uma rapariga que, na pior fase da sua vida, passa a sofrer de algo surreal, e Harry, um rapaz aparentemente normal, mas com um grande segredo, capaz de destruir todo o amor que ele possa criar. Eles vão mudar a vida um d...