Capitulo 65-POV Harry

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É inacreditável a maneira como eu fui cobarde durante todo este tempo, como eu consegui guardar algo tão grave durante mais de dois meses, mesmo sabendo que na maioria das possibilidades tudo acabaria assim. Estar também eu aprisionado não era algo que contava, realmente, nem sabia que haviam também homens aqui, pensava que eram só mulheres. Mas qual era a comparação de estar aqui preso quando também a Blair está, pior que tudo, quando ela conseguiu descobrir tudo e agora pensa que eu não a amo, que nunca a amei. Como é que ela pode pensar nisso? Se fosse mesmo assim nem por uma semana nós tínhamos estado juntos, numa relação, ao primeiro instante ela já estaria presa neste sítio. Lutei tanto por este momento ser anulado nas nossas vidas e agora estávamos aqui os dois. Mas depois de tudo o que aconteceu, o medo que eu tinha por aquilo que lhe fariam era enorme, eu sentia-me furioso pelo pensamento, sentia-me com tanta raiva que poderia destruir todo o mundo num estalar de dedos. Estes homens eram capazes de tudo, ela ainda não viu nada. Esteve aprisionada até agora? Sim, mas por acaso ela já esteve debaixo de um homem enquanto ele... forço as minhas mãos em dois punhos, os nós dos meus dedos brancos de toda a força. Eu não podia nem imaginar alguém a tocar-lhe como só eu lhe posso tocar, como só eu já lhe toquei em toda a sua vida. Ela era minha, por mais que eles pensassem o contrário. E, sinceramente, se ela sofrer mesmo por isso, eu daria tudo por ver a cara do filho da mãe que estiver em cima dela depois de tudo acontecer e não ver uma única gota de sangue debaixo do doce corpo da minha menina. Porquê? Porque ela é só minha e por mais que eles queiram fui eu que a desflorei, que tive o prazer da sua pura virgindade. Ainda assim, mesmo que eu tenha tido isso só para mim, de que é que vale se ela acha que eu não a amo? Riu-me secamente, com sarcasmo, fazendo o som ecoar nas paredes sem vida. Merda, eu dei-lhe tudo o que tinha, ela foi a única que eu amei de verdade, nada de apenas sexo mas sim amor. Não era só a vontade de a ter comigo na cama enquanto ela gemia o meu nome, era uma pedido maior de a poder proteger, cuidar, de poder tê-la sobre os meus olhos enquanto eu podia ver cada um dos seus movimentos sem ela mesmo perceber. Quando ela está nervosa, os dedos. Enquanto vê um filme, a maneira como pouco tempo depois do início os seus lábios estão afastados e ela forma uma carranca na sua testa, a forma adorável como quando ela vê um filme emocional para a sua pessoa, os seus olhos tornam-se menos abertos e ela tenta esconder a sua cara, colocando a mão à frente da boca e sendo visível enquanto ela morde a parte de dentro da sua bochecha, acabando por ser óbvio que ela chora quando pequenos soluços não conseguem ser abafados e lágrimas percorrem sem permissão as suas bochechas. Ou como ela é tão atenta a tudo à sua volta, enquanto percorre as ruas observa cada pessoa por que passa, às vezes as mais insignificantes chegam a ser-lhe as mais interessantes. Uma vez, quando eu pude vê-la ficar triste ao encarar uma menina com problemas físicos, a encarar um parque, a ver a maneira como as crianças corriam e pulavam, baloiçavam e desciam o escorrega e ela não o podia fazer também tão livremente. Ela ficou triste, lembro-me de a ver, depois de muito tempo, desviar o olhar para o chão e agarrar o meu braço enquanto caminhávamos, apertando-me tanto que parecia estar com medo. Ela conseguia ser tão forte. Ultrapassou a morte de alguém que lhe era tão chegado, a única pessoa com quem ela podia contar, seguiu a sua vida depois do acidente... desse acidente... eu ainda lhe guardava coisas, por mais que eu não quisesse eu ainda o fazia. Eu fui tão estúpido nesse tempo, a maneira como eu vi certas coisas como escapatória e a vida acabou por colocar-me sarilhos pela frente. Mas eu tinha esperança de ainda puder tê-la a meu lado, de a fazer acreditar que a amo loucamente e que ela é a única mulher que consegue fazer-me ver a vida com outros olhos. Aí, eu contar-lhe-ia tudo. Mas depois eu apenas estava sujeito a perdê-la e por mais egoísta que isso fosse, eu queria-a.

O barulho de passos toma conta do ar, parece o retorno à vida, como se tudo estivesse parado até então e só agora é que acordou. Alguém aqui, isso era estranho, normalmente só vinham uma vez por dia, para a nossa única refeição e isso já aconteceu neste dia. Haviam homens noutras celas que eu podia reconhecer de vista, eles também estavam infiltrados mas isso leva-me a calcular que devem ter desrespeitado regras e isso levou-os a serem aprisionados. Talvez esta parte do edifício seja para isso, fazia sentido eu estar aqui, então.

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