" Blair, vou sair!" ouvi o meu pai do andar de baixo
"Está bem..." respondi indiferente
Quando ouvi o barulho da porta a fechar-se mandei um ligeiro salto na cama e suspirei em seguida. O meu pai sempre foi um homem um tanto problemático, desde que me lembro ele saía à noite e nunca o ouvia a chegar, mas ao longo dos anos fui percebendo que quando ele chegava a casa vinha bêbado. Ele sempre achou que mandava em tudo. Talvez por isso é que me mudei da minha terra natal, San Diego, para o frio de Oxford, com apenas seis anos, deixando na Califórnia toda a minha infância, só por causa do seu negócio e de ele querer que eu começasse desde o inicio a frequentar as escolas da cidade mais conhecida pelo ensino, para um dia mais tarde ir para uma das melhores e mais famosas universidades do Mundo. Mas com a morte da minha mãe tudo piorou. Ele passou a ficar fora durante vários dias e quando voltava nem dormia em casa, apenas vinha buscar algumas roupas e coisas de que precisava. Nem um dia ele ficava a meu lado. Não posso dizer que a relação que eu sempre tive com o meu pai era das melhores, mas ele agora podia ao menos começar a desempenhar o seu papel de pai e apoiar-me.
Será que ele acha que eu também estou a sofrer com a morte da minha mãe? Se ele estivesse pelo menos um dia em casa iria perceber que eu sou capaz de estar a sofrer bem mais que ele, ele iria perceber que eu fico trancada no quarto o dia quase todo, que não como, que simplesmente não consigo dormir com medo de que a minha mãe apareça nos meus sonhos, tornando-os assim em pesadelos. A minha mãe era o meu maior apoio, era ela que tinha sempre um ombro pronto para eu ir chorar, um sorriso para me confortar, ela estava sempre pronta a ouvir-me e a ajudar-me. Ela era a pessoa em quem eu mais confiava e de um momento para o outro deixei de a ter, perdi por completo aquele que era o meu porto de abrigo. Mas não é por causa desta situação que eu ando dias inteiros sem dar sinais de vida e quando finalmente decido aparecer venho completamente bêbada. Não digo que não me apeteça, sinceramente já quis sair à noite e beber para esquecer tudo o que se está a passar, dos dias que passo sozinha, a chorar num canto do quarto sem o apoio de ninguém, perguntando-me do porquê de alguém tão especial, de alguém tão bom ter partido e deixado este mundo sem ter feito mal a ninguém, como é que alguém tão importante para mim me pode ter abandonado assim. Mas eu tento ter força e continuar em frente, tento pensar que ela neste momento está num sítio melhor, ainda que não consiga aceitar a morte dela.
Mas para isso eu preciso de alguém que me ajude, que esteja sempre a meu lado a encorajar-me a ter a cabeça erguida, ter alguém que limpe as minha lágrimas quando eu preciso e isso eu não tenho. Mas o que é que eu podia fazer? Nada. Nada era a resposta. Apenas tinha de aceitar que não ia ser mais a pessoa feliz que sempre fui e que a pessoa mais importante da minha vida tinha desaparecido completamente do mapa e não iria estar mais aqui, para continuar a desempenhar o seu papel na minha vida, o seu papel de mãe, aquele papel que ela sempre tentou desempenhar da melhor maneira possível e conseguiu, porque é graças a ela que eu sou a pessoa que sou hoje.
Já estava há cerca de um mês a chorar por ela e isso não podia continuar a acontecer. Sempre fora uma rapariga forte, sem medo de algo ou alguém, sempre fora uma rapariga feliz, talvez por a minha mãe sempre me ter dado tudo aquilo de que eu precisava e por sentir que nós tínhamos uma relação diferente de mãe e filha, uma relação feliz em que predominavam risos e alegria, não como a minha relação com o meu pai, se é que o devo chamar assim. Em toda a minha vida, só tive apenas um medo. A morte. Ou como eu lhe chamo, o fim. Sempre foi este o meu único medo. Para muita gente pode ser algo estranho, visto que o fim faz parte do ciclo da vida, e é algo que tem de acontecer quer nós queiramos quer não. Mas para mim, sempre foi algo que me faz muita confusão, porque é por causa deste evento que tudo acaba. Acabam os sorrisos, acaba a felicidade, acabam as lágrimas, acabam as saudades, acabam os dias, acabam as noites, acabam os momentos com a família, acabam os momentos com os amigos, resumidamente acabasse tudo. É o fim de tudo. O fim da vida, por que a vida é o tudo. E agora o fim, atravessou-se na minha vida, da maneira que eu menos podia desejar.
Mas agora a minha mãe já não estava aqui para falar comigo quando eu começasse a chorar por pensar no fim e eu não podia ir a baixo, não podia continuar fechada em casa, sem ver o sol, sem ver a luz do dia, sem ver pessoas. Não podia continuar a esconder-me, eu nunca fui assim, sempre enfrentei os problemas e este ia ser mais um que eu ia enfrentar, por muito que custasse.
Levantei-me e decidi finalmente sair das quatro paredes que foram durante aquele mês o meu mundo. Fui até ao meu guarda-fato e troquei o pijama que tinha sido em tempos a única roupa que vestira e troquei-o por umas calças pretas bem justas e uma camisola de malha creme, devido à manhã fria do início do mês de Outubro que devia estar na rua. Penteei o meu cabelo que se encontrava completamente despenteado e calcei as minhas botas. Nunca fui uma rapariga de colocar muita maquilhagem mas acho que estava mesmo a precisar de alguma devido ao mau aspeto que deveria ter naquele momento. Desci as escadas e dirigi-me à porta de casa, tirando primeiro a minha mala preta que se encontrava no bengaleiro colocando-a pendurada no meu braço. Entrei no meu pequeno carro e percorri os poucos cerca de 1,5Km desde a aldeia de Summertown até ao centro da cidade de Oxford.
Quando cheguei ao meu destino deixei o meu carro num parque de estacionamento e percorri as ruas de Oxford. Virei numa esquina e avistei ao longe uma pequena tabuleta onde estava escrito "Turl Street Kitchen". Um pequeno sorriso formou-se no meu rosto ao lembrar-me de quem iria encontrar naquele lugar. Apressei um pouco o meu andar e segundos depois encontrava-me à porta do café, empurrei-a e pude o ouvir o tilintar do pequeno sino que se encontrava por cima de mim a avisar que alguém tinha acabado de entrar. Deixei que a porta se fecha-se sozinha aproximando-me assim do balcão onde apenas dois dos dez lugares à frente deste estavam ocupados. E ali estava ela, Katherine Jones, a secar alguns copos. Não mudava nada. É verdade que a última vez que a vira não fora assim há tanto tempo mas para mim aquele mês foi uma eternidade.
- Era um chocolate quente com uma dose extra de natas, por favor – disse não deixando de ter um pequeno sorriso na minha cara. Era incrível como estar perto dela fazia com que já tivesse a sorrir depois dos cerca de trinta dias sempre a chorar.
Ela parou completamente ao som das minhas palavras e mesmo não vendo a sua cara podia jurar que a rapariga que se encontrava mesmo à minha frente, de costas para mim, estava naquele preciso momento com um grande sorriso de orelha a orelha depois de ter ouvido o meu habitual pedido.
Ela pousou o copo e o pano que tinha na mão e rodou o seu corpo, encarando-me em seguida, e ambos os nossos sorrisos se alargaram. Ela rapidamente deu a volta ao balcão abrindo os seus braços à medida que caminhava até mim e eu correspondi sentindo instantes depois o calor dos seus braços à minha volta. Há muito tempo que eu não sentia uns braços envolverem o meu corpo assim, de uma maneira tão forte e profunda, tão cheia de saudade e afeto.
Bem, este capítulo foi só mesmo para ficarem a conhecer um bocado a vida da Blair, os outros vão ser um bocadinho maiores. Se ao longo da fic tiverem alguma pergunta a fazer ou não estiverem a perceber alguma coisa digam-me, porque esta fic lá mais para a frente pode tornar-se em certas partes um pouco confusa.
Já agora, a página do facebook de que vos falei em que esta fic também está a ser publicada está no link externo.
JMCarmo
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The Shadow-Haunted
RandomEsta é a história de Blair, uma rapariga que, na pior fase da sua vida, passa a sofrer de algo surreal, e Harry, um rapaz aparentemente normal, mas com um grande segredo, capaz de destruir todo o amor que ele possa criar. Eles vão mudar a vida um d...