Capitulo 42

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Fecho a porta à minha frente e suspiro, fechando os olhos e de cabeça baixa.

  Eu tinha sido estúpida ao deixar que, novamente, a minha curiosidade interferisse na minha relação com Harry. Desta vez foi diferente porque tive azar pelo facto de Harry estar mal e, assim, ouvi a verdade, a verdade que me custava porque eu sabia que estava errada. Mas já não havia nada a fazer.

  Faltavam meros minutos para as nove da noite, ao que resolvo ir até à cozinha, pronta a cumprir a minha nova rotina.

  Quando alcanço, finalmente, o meu quarto posso lembrar-me do meu pequeno caderno. Eu não escrevia nele há bastante tempo, tinha-o até esquecido.

  Pego no objeto e começo a traçar a caneta no papel. Faço algo diferente das outras vezes. No canto superior direito, na linha do topo, é escrita a data.

  “15/11/2014

    É difícil saber que erramos, principalmente quando o fazemos com as pessoas que amamos. Ele é o único que eu tenho, sem contar com alguns amigos. Mas é ele que eu realmente amo. É ele que despertou algo em mim, tão rápido quanto os ponteiros dos segundos de um relógio percorrem o mesmo finalizando os sessenta segundos. Foram dias para eu perceber o que sentia por ele. E agora eu errei, eu estupidamente errei.

  A minha mãe foi assassinada por vingança. A minha mãe sofreu nas mãos de um homem misterioso, sem ter feito nada. O meu pai foi ameaçado durante dias, meses ou até anos, por algo que deve a alguém. Agora o quê? O que é que ele deve para fazer alguém matar assim, sem um pingo de pena, uma pessoa inocente. Uma mulher. Uma mulher de família, com uma filha que veio a sofrer mais que ninguém por esta morte. Por uma filha que neste momento precisava da mãe, mais do que alguma vez precisou, por a sua vida se ter tornado em algo completamente novo negativamente. Por essa simples adolescente estar instantaneamente a sofrer da observação de um ser fantasmagórico, que a atormenta sem dó nem piedade. Por a sua filha errar e precisar de conselhos, conselhos que só uma mãe pode dar, que nem um psicólogo o consegue fazer.

  Esquizofrénica. Será que eu o sou? O meu coração diz-me que não mas é certo de que não é normal o que me tem acontecido. Eu sei que a vejo, eu sei disso, mas e se for realmente verdade que isso é tudo a minha imaginação? Mas isso era impossível. Ela não era clara, sim, mas eu sentia-a, sentia-a de uma estranha maneira.

  Como é que eu vou estar daqui a meses ou até anos? Irei eu estar finalmente bem de saúde, com amor na minha vida e felicidade? Ou então num hospício por eu a ver mais regularmente e daí alguém achar que isso irá ser o melhor para mim?

  Como é que vai ser a minha vida quando eu tenho cada vez mais problemas?”

  Podia sentir o meu rosto húmido mas isso passa-me sem qualquer importância.

  Arrumo de novo o caderno e acabo por me deitar na minha cama. Os meu olhos mantinham-se abertos a observar a profunda escuridão.

  Como é que ia ser realmente daqui para a frente? Com o meu problema psicológico, com a minha relação, com o meu trabalho, comigo mesma, com toda a minha vida?

  “Sim Kath, eu estou a chegar” digo mais uma de tantas vezes

  “Disseste isso há cinco minutos Blair”

  “E tu perguntaste-me isso por umas dez vezes” eu gargalho ligeiramente e posso ouvi-la através da linha telefónica a fazer o mesmo

  “Onde é que estás?”

  Saio, por fim, do carro e avisto imediatamente o corpo da rapariga junto ao edifício

  “Olha para trás” sorrio ainda que ela não me possa ver

The Shadow-HauntedOnde histórias criam vida. Descubra agora