55. Acabou

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Camila Cabello |Point Of View



Estamos a três dias presos nesse QG. Estamos um lixo.

— Porra. Seu pai é surtado Tenente Cabello, cortar nossa água e nos deixar sem banho.

— É para aprendermos.

— Nem em cadeia é assim. Seu celular está sem bateria e não abrem as janelas disso faz tempo. Esse fedor está insuportável.

— Eu sei, cabo. Eu estou presa aqui também. Não posso fazer nada. O general está tentando nos ensinar.

— Ele é muito rígido. Sempre leva tudo ao extremo.

— Ele está nos preparando para uma   guerra.

— Falando nisso, falta quanto tempo para voltar para o Iraque?

— Três meses.

— Você vai?

— Prometi a minha esposa que não ia.

— Você vai ser expulsa.

— Eu sei disso, por isso estou muito puta de estar aqui. – Ele sorriu.

— É a primeira vez que ouvimos você falando puta. É estranho. Mas e as honras?

— Não sei. Não recebi nada ainda, nem a medalha. Espero que chegue antes de eu me negar a voltar.

— Com todo o respeito, sua esposa é linda. Ela saiu na capa da revista econômica.

— Saiu. Ela é sim.

— Você vai largar mesmo tudo?

— Ela vale a pena. – Olhei para o pequeno feixe de luz na janela. – Ela vale a pena.

Meu pai entrou na sala e levou a mão ao nariz. Todos ficaram em formação e bateram continência.

— Tenente Cabello, venha aqui fora. – Levantei ficando ali.

— Não. Pode conversar comigo na frente de todos. Aqui no meio de preferência, já que todos são envolvidos. – Ele me encarou sério e ficou no meio da sala.

— Que fedor.

— Estamos sem banho. Você cortou a água.

— Como não devolveram o óculos, Marechal Gomez achou melhor você como tenente e responsável por esse batalhão, pagar outro com o dinheiro do seu bolso. – Murmúrios ecoaram na sala.

— Vou pagar, mas duvido muito que um dos presentes aqui, depois de passar fome, ficar sem banho e nesse fedor, fosse o responsável, não teria devolvidos os óculos. Se fosse eu... Teria General. Mas como você sabe mais. Vamos pessoal. Descasar e dispensados. Vamos logo tomar um banho. – Todos saíram e eu juntei minha blusa, vestindo ela e minha farda. Coloquei minha boina e caminhei até a entrada. – Isso foi muito injusto. Não sei por que você está me punindo, mas eles não tinham culpa.

— Um deles roubou tenente.

— Roubou mesmo? – Ficamos nos encarando. – Não me importa. Só preciso ver minha esposa e tomar um banho.

O deixei e fiquei com pena de entrar no meu carrinho com essa murrinha. Quando cheguei a nossa casa, torci para Lauren não estar e me ver neste estado. Essa farda vai para o lixo. Ela não estava e eu voei para um banho. Fiquei uma hora nele e aquele cheiro parecia grudado em mim. Fiquei mais uma hora escovando meus dentes.

Peguei um saco de lixo na cozinha, coloquei minha farda nele, meus coturnos e minha boina. Ate minha mochila eu coloquei fora. Fui até a esquina do nosso condomínio e coloquei o lixo lá. O carro de Lauren chegou e eu quase voltei correndo pra casa. A saudade era enorme. Ela estava de costas, colocando as chaves na porta.

— Será que uma ex-presidiária tem chance com uma executiva linda dessas? – Ela derrubou a pasta no chão e pulou em mim. Começou a chorar. – Oh Lo. Não chore, estou aqui.

— Senti muita falta... Eu não quero mais ficar longe de você, Camz. É horrível, eu não consegui dormir... Amo tanto você.

— Estou aqui, amor. Fica calma, lembre-se do nosso pequeno tesouro. Não fique nervosa. – Ela ficou abraçada um tempão em mim. Ficava me apertando e me alisando, como se quisesse confirmar que eu realmente estava ali. – Vamos entrar. – Ela abriu a porta e eu juntei as coisas dela do chão.

Contei tudo que havia acontecido e ela achou meu pai um monstro. Depois chorou porque eu fiquei com fome e não pude tomar banho. Depois sorriu quando disse que senti muita saudade dela e depois chorou pelo mesmo motivo.

— Camz! Preciso te mostrar uma coisa. – Ela foi até a TV e colocou um pen drive nela. – Pedi para o Chris conseguir isso pra nós. – Assenti e ela colocou um vídeo do presidente falando.

Fiquei meio atônita quando me liguei sobre o que se tratava e sentei no sofá.

“Esta noite estou anunciando que a missão de combate americana no Iraque terminou. A Operação 'Liberdade Iraquiana' terminou e o povo iraquiano tem agora a responsabilidade primordial pela segurança em seu país”.

“É hora de "passar a página" no Iraque, apesar de reconhecer que "a violência não terminará com o fim da missão de combate”

“Pagaram um preço muito alto para pôr o futuro do Iraque nas mãos de seu povo”.

“Custou aos EUA cerca de US$ 900 bilhões, deixou mais de 4.400 soldados americanos mortos e dezenas de milhares de feridos.”

“Ninguém poderia duvidar do apoio do presidente Bush a nossas tropas, ou de seu amor pelo país e seu compromisso com nossa segurança”.

“A Al Qaeda "continua conspirando contra o povo americano", "e seus líderes permanecem ancorados na região fronteiriça entre Afeganistão e Paquistão”.

Foram os fragmentos que peguei.

— Acabou a guerra?

— Acabou amor. – Ela disse me abraçando. – Você não vai ser mais expulsa. Vai ficar tudo bem.

— Acabou! – A abracei forte.

— Chegou uma carta para você.

Ela me entregou um envelope verde, no mesmo estilo do que continha minha convocação.

— Quando chegou?

— Hoje pela manhã... Bem cedo. Sua mãe deu nosso endereço pra ele. – Assenti e entreguei pra ela.

— Abre pra mim. – Ela abriu.

— Na segunda, sua medalha de honra chegará e o marechal de sua repartição o entregará. Sua comissão mensal será de... Oh Meu Deus! – Ela me mostrou o papel e quase que enfartei com a quantia de zeros. – Levando em conta suas duas participações, nunca poderemos retribuir sua garra por seu país e por um que não é seu. Você pode trabalhar no seu QG, mas essa quantia é permanente. Obrigada por arriscar sua vida pela pátria.

— Acho que eu estou rica.

— Acho que em quatro meses você ficará milionária.

— Vamos ao sexo de comemoração?

— Pensei que não me convidaria nunca.

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