28. Explodiu

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Camila Cabello|Point Of View

Desta vez, nos jogaram no pior ponto da cidade. Deram-nos instruções na van e nos jogaram lá. Se protejam e tentem proteger os outros. Foi à última frase antes de partirem. Nos juntamos a uma pequena tropa e entregamos uns mantimentos pra eles. Eles quase brigaram para comer, estavam famintos. Desta vez, não quis saber o nome de ninguém, tentei o mínimo de contato com todos. Avistei uns mendigos se olhando e conversando perto. Um fio estava aparecendo na roupa de um deles. Atirei na cabeça dos quatro, fui até eles e cortei os fios. Os corpos foram cobertos por tiros e percebi que estava sendo alvejada por eles. Eles estavam entre vinte e nós oito. Corremos para trás dos destroços e nos organizamos. Tudo isso na primeira hora... Um ano é muito tempo.


Lauren Jauregui|Point Of View

Dois meses é muito tempo. Pedi licença do trabalho, não estou com vontade de nada. Tenho ficado um tempo na casa dos Cabellos. Eles me acolheram bem, até Sofia está se entrosando comigo. Ela tem muito ciúmes de Camila, fico pensando no dia em que Camila tiver um filho, Sofi surtará.

Estou deitada na cama de Camz, o travesseiro não possui mais o perfume dela... Por pouco tempo. É só pegar o frasco e borrifar pela cama. Deprimente e ao mesmo tempo confortador. Às vezes fechos os olhos e quando abro, a imagem dela deitada de frente pra mim me encarando com um sorriso no rosto, vem em minha mente, tão forte que sinto a respiração dela. Ficamos sorrindo uma pra outra. Por isso prefiro a casa dela. Sempre quando sussurro “Sinto sua falta" ela beija minha testa, some e eu volto à realidade.

Camila Cabello|Point Of View

Estamos na casa abandonada que usam de esconderijo, pois tem um porão onde dormem os que estão a mais tempo aqui. Estou escorada no pilar de sustentação da casa, por mais cansada que esteja, está muito frio e não consigo parar de tremer. Estou suja e sem comer a dois dias. Na próxima equipe, vou ter que entrar na briga por comida. Há quatro meses, minha vida era um paraíso e agora...

Estou com pouca munição, essa roupa é pesada demais, bem que ela podia ser quentinha. Escutei um barulho e me levantei. Fui até o andar de cima e eram os colegas da outra tropa chegando.

— Não dormiu Cabelo?

— Não consegui.

— Também não consigo há dias.

Depois de conversar um pouco, voltei ao porão e tentei dormir novamente, mas o dormir aqui é coisa de uma a duas horas, porque a noite é mais fácil de invadir casa e pegar os terroristas.

Quando todos levantaram, me junto a eles e fomos até a cidade. Invadimos três casas e sem sucesso. A quarta estava vazia, isso era comum, já que as maiorias das famílias saíram daqui por conta deste inferno.

— Olhem... O telefone está bom. – Ele discou um número e falou com os pais. Todos ligaram e eu também, mas o telefone da casa de meus pais deu na caixa.

— Droga. Deu na caixa.

— Deixe um recado, não sabemos quando teremos outra chance como essa. Já avise que não voltaremos antes do ano novo. – Assenti e deixei o recado. Foi terminar a ligação e duas granadas foram jogadas pra dentro da casa. – Corram. Quando saímos somos almejados de tiros.

— Vamos subir. – Falei juntando as mãos para dar impulso e sair no telhado. Depois eles jogaram uma corda e escalamos. Posicionei uma metralhadora no pedestal e comecei a atirar. Matei todos. Passamos a noite assim, matando quem se aproximava e torcia pra a munição não acabar. Durante o dia, é onde dá mais medo. Durante o dia, eles ficam iguais a nós, tem a mesma luz e bombas. Durante a noite, com o toque de recolher das 8h às 6h, se alguém está na rua nesse horário, já sabemos que você é um terrorista. Pela manhã o meu general falou.

— Deixe-me ficar no seu lugar.

— Estou bem. – Nesses dez meses, estou toda machucada e vi de tudo... Não esqueci um detalhe desde que cheguei. Não sei se estou pior por fora ou por dentro.

— Não está. Já ficou muito tempo aí. Descanse um pouco. – Assenti e me joguei do posto. Ele sorriu. – Isso que você estava bem. – Gargalhei. Fazia tempo que não sorria.

O sorriso ficou comigo por pouco tempo. Um tiro acertou em cheio a cabeça do general. Explodiu na minha frente, jorrando sangue pra todos os lados. Quatro conseguiram subir e nos renderam.

Lauren Jauregui |Point Of View

Quando chegamos ao apartamento depois um jantar mexicano, me sentei junto a Sinu e começamos a conversar.

— É mórbido esperar uma notícia ruim? – Sinu disse.

— Nesse caso não. – Alejandro falou.

— Durmo o dia todo pra poder sonhar com ela. – Falei. A secretária apitou.

— Alguém ligou. – Ele foi até o telefone e apertou.

— Droga. Deu na caixa. – Era Camila. Sinu e eu corremos para o telefone.

— Deixe um recado, não sabemos quando teremos outra chance como essa. Já avise que não voltaremos antes do ano novo. – Uma voz de homem.

— Oi mãe, pai está um caos aqui, estou firme. Ontem um garoto jogou uma granada em mim, tentei correr, mas não deu tempo e ela explodiu. Fiquei sem nenhum arranhão, nem meu ouvido se feriu. Estou sendo protegida, mas sei que não passo de uma criança aqui... Ando por essa cidade apenas tentando sobreviver. Pai... Não se preocupe, não matei nenhum inocente, minhas mãos estão limpas. Não vou poder voltar antes do Ano Novo. Sofi... Estou morrendo de saudade, bonequinha. Feliz ano novo e Feliz natal. Estamos juntos. Lauren... Estou pensando em você cada segundo do meu tempo aqui. Eu te amo demais. Mande um beijo a sua família. Beijo a todos. Estou com saudade... E viva.

Não olhei para os lados, estava chorando como criança. Senti minha jaqueta ser puxada, era Sofia. Peguei-a no colo e ela me abraçou forte.

×××


Era domingo e estávamos na casa dos Cabello's almoçando. Quando a campainha dele tocou, um oficial entrou.

— Junte-se a nós. – Ale falou animado, mas o oficial se manteve sério. O que fez Alejandro levar as mãos à cabeça. – Não. Não me diga...

— A tropa dela sumiu. Eles estavam na primeira base, o senhor sabe como é. Eles foram rendidos e só encontramos um rapaz, que fica repetindo “a cabeça do general explodiu". Sinto muito.

Olhei para o lado e depois de ver Sinu caindo, eu apaguei.

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