100. Verdades

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Camila Cabello |Point Of View


Após colocarmos os meninos na cama, fomos nos deitar. Lauren pegou o livro dela e ligou o abajur, começou a ler. Abracei-me a cintura dela e repousei minha cabeça no colo dela. Ela ficou fazendo massagem na minha cabeça.

— Vai me contar porque eu cruzei com Alejandro quando fui te visitar hoje? – Me virei para olhar ela.

— Não sei se fiz a coisa certa.

— Me conte...

— Transferi meu pai para África. – Ela fechou o livro e me encarou.

— Qual é seu medo?

— Que ele nem volte para Cuba e fique aqui para me infernizar.

— Mas ele seria expulso se fizesse isso.

— Sim.

— Olha, Camz. Ele viajou até aqui para implorar a filha que ele tratou como nada por anos. Ele não quer perder os benefícios.

— Ele pode morrer por lá. – Eu disse enquanto brincava com os cabelos dela. — E se ele morrer?

— Você podia ter morrido na guerra, Camz. Ele só vai para uma base que passa dificuldades, mas nem perto do que você passou. E você está aqui, pois você é determinada. Não fique se culpando, você está protegendo sua família.

— Preciso conversar com Sofia... Ela não está me atendendo.

— Pare de pensar tanto, meu amor. Descanse essa mente.

— Essas semanas têm sido angustiantes.

— Logo tudo vai ficar bem, amor. – Ela largou o livro e desligou o abajur. Ficamos no escuro e ela me abraçou. Beijou minha nuca e segurei as mãos dela. Peguei no sono enquanto ela fazia carinho com o nariz na minha nuca.


×××


Cheguei ao apartamento de Sofia. Era sábado, por mais que ela não me atendesse, não devia trabalhar.

Toquei a campainha e fiquei esperando. Logo ela abriu a porta.

— Kaki... Ainda está irritada comigo? Se estiver, prefiro não conversar. – Abri meus braços e ela correu para mim. Abraçou-me forte. — Me desculpe... Eu só achei que era o certo.

— Acho que devo te contar algumas coisas.

— Entra. Vou pegar um café para você. – Assenti e entrei. Sentei no sofá e liguei a TV enquanto ela não voltava. Ela chegou e me entregou a xícara. – Sem açúcar e bem forte.

— Obrigada, pequena. – Após três goles, deixei a xícara sobre a mesa de centro. — Conversei com a mama antes e ela concordou que tivéssemos essa conversa. – Ela assentiu. — Você já é uma mulher feita, mas ainda é cedo para namorar.

— Kaki! Já fiquei para titia.

— Mas é cedo ainda...

— Kaki! Não é sobre isso que vamos falar, é?

— Não, mas é bom sempre deixar claro.

— Desisto!

— Ótimo. Vou fazer um resumo, pois nem gosto de falar sobre isso. – Ela revirou os olhos. — Pequena, você sabe que sou intersexual, mama aceitou isso muito bem, mas Alejandro não. E quando você nasceu, ele me deixou ainda mais de lado. Ele sempre quis uma garota, e mesmo que eu tenha aparência feminina, não o agradei.

— Kaki..

— Tudo bem. Conforme fui crescendo, menos o tinha como pai, ele achava que tudo que eu fazia era para desafiar ele, mas não era, eu sempre amei esse universo militar, não tinha culpa se me saia bem. Eu o seguia no QG e ele me expulsava. Pedro que sempre me tratou como filha mesmo, contando histórias... Passando-me tarefas...

— Comigo ele é tão bom.

— Sim, pequena. Não quero que nada mude entre vocês, só estou explicando meus motivos.

— Eu entendo.

— Bom... Depois da guerra, achei que as coisas tinham melhorado, mas errei. Elas pioraram. Ajudei Lauren com um probleminha e ela achou que deveria me retribuir. Foi conversar com ele, só que Alejandro se declarou para ela, disse assumiria o Sebastian e que eu não merecia uma mulher como ela.

— Meu Deus, Kaki. – Ela me abraçou. — Me sinto mais envergonhada por ter me metido.

— Você não sabia, não tem culpa.

— Agora entendo porque você filtrou as ligações dele para mim.

— Como?

— Ele me disse que não ligou porque você o bloqueou. – Franzi meu cenho.

— Não, Sofia. Se ele não ligou, foi porque não quis. A mudança dele para Cuba nem foi minha culpa, foi de Pedro e não existiu isso de bloquear nada. Eu nunca interferi no relacionamento de vocês. – Ela ficou me encarando.

— Ele mentiu. – Assenti. — Acho que ele não é nada do que pensei.

— Ele foi um excelente pai para você.

— E você foi muito forte, Kaki. Sabe que eu te admiro pra caralho, mas agora isso dobrou. Ele não sabe o que perdeu, conviver com uma pessoa doce, sensata e carinhosa como você, é para poucos e eu tenho essa sorte. – Me emocionei e a abracei.

— Não me faça chorar, pequena.

— Obrigada por ter me contado, imagino que seja muito difícil falar sobre isso.

— Já foi muito difícil, mas agora... Se tornou um grande tanto faz. E eu tive que mandar ele para mais longe, Sofia. Ele vai para África. Sinto muito, mas eu tinha que punir ele por me procurar.

— Tudo bem, Kaki.

— Mas ele pode se comunicar e se você quiser ver ele, te levo lá.

— Tudo bem, Kaki. Eu fiquei tanto tempo longe dele que já me acostumei com as cartas no meu aniversário. – Assenti. — Ele foi quem mais perdeu, Kaki. No fundo... Você não precisava dele mesmo. – Eu limpei meu rosto.

— Eu precisei, pequena. Precisei muito dele... Em vários momentos, ele devia ter me orientado. Tudo sobre tudo, eu tive que aprender sozinha. A Mama não sabia como era ter um pênis. Sobre meus sentimentos... Eu não conseguia falar com a mama.

— Vem cá. – Ela me abraçou e ficamos ali... Chorando e nos acalmando. — Eu te amo, Kaki.

— Eu também te amo, pequena. –Beijei o rosto dela.


×××

Dois cabos entraram afoitos na minha sala.

— Permissão para falar, Marechal!

— Permissão concedida.

— Sr. Alejandro entrou no avião, Marechal. Esta hora está a caminho.

— Obrigada. Podem se apresentar para a General.

— Permissão para sair! – Eles ficaram em posição de sentido.

— Concedida. – Eles descansaram e saíram dali.

Liguei para a base de Cuba e pedi a confirmação da chegada dele. Comecei a ligar para lá todos os dias e mandei materiais que estavam sobrando aqui... Então fiz amizade com eles. Assim como estou fazendo com a base na África. Preciso de informações diárias dele para ficar em paz aqui.

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