XXX: Posso entrar?
Revirei os olhos e, por uma questão de respeito, destranquei a porta.
Pai: Trouxe-te o almoço - disse, entrando no meu quarto e pousando um tabuleiro na minha cómoda.
Eu: Não era suposto ser a mãe a trazê-lo?
Ambos os nossos olhos estavam presos no chão. Ninguém pode negar que eu e o meu pai somos muito parecidos neste aspeto. Para nós, o contacto visual é algo bastante complexo, uma vez que os «olhos são o espelho da alma». Para além disso, nós tentamos ser muito racionais, quando, na realidade, podemos ser as pessoas mais sensíveis, emocionais e confusas do Universo.
Pai: Sim, era suposto. Tal como era suposto...
Ah, já me ia esquecendo. Também somos pessoas bastante impulsivas. Dizemos muitas vezes coisas que não queremos.
Eu: Tal como era suposto?
Pai: Nada. Come tudo o que te trouxe, não quero que ele te ponha mal.
Demasiado tarde para isso, pai...
Pai: Eu estive a pensar e disse algumas coisas que não se dizem a ninguém. Peço desculpa por isso. É só que... - disse e engoliu em seco - Ainda há pouco tempo eras uma criança e agora já tens namorado, vais para a faculdade... Eu ainda não aceitei bem isso, mas eu tenho que o fazer.
Eu: Pois...
Pai: Vá lá, dá um desconto ao teu pai - disse, piscando-me o olho - E um abraço.
Eu levantei-me e não hesitei em abraçá-lo.
Eu: Estás desculpado - disse e ele deu-me um pequeno beijo na bochecha.
Pai: Vá, agora come tudo o que te trouxe - disse, saindo muito rápido, mas sem antes uma lágrima se soltar dos seus olhos.
Eu percebo-o perfeitamente. Por vezes, dizemos ou fazemos coisas que não queríamos. Reagimos de uma forma exagerada a algo... Mas é isso que faz cada um de nós especiais. Por exemplo, eu não esperava que o meu pai reagisse assim, apesar de perceber perfeitamente o seu comportamento.
A mensagem do Diogo aparece na minha mente. Também não esperava aquela mensagem. Percebo que ele esteja magoado comigo... Mas, se ele precisasse tanto de mim como dizia, iria acabar tudo cara a cara, com dignidade.
Pai: Guida, esqueci-me de te perguntar... Hoje vais ao treino, certo?
Não tinha pensado nisso.
Eu: Sim, vou.
A minha vida vai ter que voltar ao normal, com ou sem ele. Sempre treinei karate e sempre me ajudou a libertar todas as «más energias» que tinha acumulado ao longo de toda a semana. Por isso, não ia abdicar disso.
O meu pai rapidamente recolheu o tabuleiro que me tinha trazido com cara feia. Não tinha muito apetite. Mas fiz um esforço enorme para comer e ele sabe disso.
Já tinha o fato de karate vestido e estava pronta para ir treinar. Sentia, estupidamente, borboletas no meu estômago. Só o facto de saber que ele iria estar lá, fazia com que todos os meus sentimentos estivessem uma confusão. Mas, uma coisa era certa... Estava disposta a fazer aquilo que ele me tinha «pedido». Estava disposta a esquecer que ele existia.
Antes de entrar no local que sempre me fez feliz, respirei bem fundo. Não ia ser uma tarefa fácil enfrentar todas as recordações que aquele lugar me iria trazer.
Quando entrei no dojo, aprecei-me a fazer uma vénia e a cumprimentar muito rapidamente todos aqueles que me viram a entrar.
Paulo: Então, Guida? O que é que se passa hoje?
Eu: Nada, só estou com pressa para treinar um bocadinho antes do nosso treino.
Paulo: Uau! Não vai haver o cantinho dos pombinhos hoje?
Eu: Não, Paulo, não vai - disse, num sussurro cheio de raiva.
Paulo: Oh... Ok, já não está aqui quem falou. Desculpa. Queres treinar comigo?
Eu: Sim, pode ser. Já venho.
Pronto, consegui sobreviver a um dos muitos desafios... Tirei rapidamente as sapatilhas e fui treinar com o Paulo. Pedi-lhe para treinarmos Kumite, um modo de combate. Assim, podia descarregar alguma da minha tensão. Apesar dele ter ficado bastante admirado, fez-me a vontade, e posso dizer que me ajudou bastante.
O mestre terminou o treino das crianças, que era antes do nosso, e começou a cumprimentar todos os atletas. O Diogo ainda não tinha chegado, e ele costumava chegar sempre à mesma hora que eu. Começo a ficar preocupada...
Não, não posso ficar preocupada, Ele também não quis saber de mim quando mandou aquela mensagem, portanto, eu também não me vou preocupar.
Alguém bate à porta e o Rafael vai abri-la. Era o Rúben. Será que é agora que eu o vou ver? Eu bem esperei, mas o Rafael fechou a porta com um sorriso na cara.
Mestre: Uau, o Diogo a faltar? Deve estar muito mal - disse, mal sabendo que, a brincar, estava a dizer uma verdade.
Rúben: É, está um bocadinho.
Mestre: Estás a falar a sério?
Rúben: Sim, estou - disse, olhando diretamente para mim.
Se o olhar matasse, ambos estávamos caídos no chão. O mestre reparou que o Rúben estava a olhar fixamente para mim.
Mestre: Nós já falámos, Guida.
A preocupação do mestre aquecia, realmente, o meu coração. Eles eram uma segunda família e saber que eles se preocupavam era muito importante para mim. Mas, mesmo assim, hoje não queria falar com ninguém. Hoje só queria esquecer todos os meus problemas.
O mestre começou rapidamente a aula e pôs o aluno mais graduado a dar o aquecimento. Pensei que ele se tivesse esquecido da Conversa que ia ter comigo, mas estava bastante enganada.
Mestre: Guida, eu queria falar contigo, lembras-te?
Oh não...
Eu: Sim, mestre, diga.
Mestre: O que é que se passou entre o meu casal de karatecas preferido?
Ponderei se devia ou não de lhe contar tudo. Afinal de contas, se há alguém que nos conhece é ele mesmo.
Eu: Acontece que nós já não somos um casal - disse, olhando para as minhas mãos.
Mestre: A sério? Mas isso é possível?
Eu: Não estou a perceber a pergunta...
Mestre: Guida, desde que vos conheci que vocês formavam um «casal». Vê só: tu treinaste sempre com ele, andavam sempre juntos aos beijinhos e abraços. Não era por acaso que eu vos chamava de Pombinhos - disse, dando-me uma pequena cotovelada - O que eu quero dizer com isto, é que vocês não vivem um sem o outro. Tenta perceber isto: ele não é ele, sem ti. Não é o mesmo Diogo que eu conheci se não estiveres sempre ao lado dele. O mesmo acontece contigo. Por isso, tentem resolver o que quer que tenha acontecido. Vocês conseguem, eu tenho a certeza disso - disse, com um sorriso enorme.
A sua confiança em nós fez-me sorrir e foi bastante reconfortante ouvir aquilo. Mas eu sei que a vida não é um conto de fadas e que, infelizmente, esta teoria do meu mestre pode muito bem estar errada.
Olá, Olá :D
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bjs
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Who am I?
RomanceMargarida é uma rapariga de 18 anos. A sua vida muda completamente com um rapaz, Diogo. Conheciam-se desde pequeninos, no entanto, nenhum dos dois tinha coragem de dar o primeiro passo. Ambos se amam muito, mas, será que são inseparáveis? Será que...