Capítulo 70

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Joana: Guida, chegámos.

Abri lentamente os meus olhos e encaminhei-me para fora do carro. Uma tontura atingiu-me, mas não me impediu de continuar o meu caminho até à porta da minha casa. Tentei alcançar a  carteira para pegar nas minhas chaves, mas ela já não estava pendurada no meu ombro.

Harry: A tua carteira - disse, passando-me a minha bolsa.

Eu: Obrigada - disse, sorrindo fracamente - Vocês podem ir para casa, eu agora fico bem.

Joana: Os teus pais estão em casa?

Eu: Sim, acho que sim.

Joana: Assim fico mais descansada. 

Eu: Vão lá à vossa vida e divirtam-se muito - disse, piscando-lhes um olho.

Ambos se despediram de mim com um sorriso tímido estampado no rosto. Este casal vai ser tão perfeito. Eles ficaram no carro à espera que eu entrasse em casa. Depois de trancar a porta, ouvi o seu carro a distanciar-se.

Tentei fazer o mínimo de barulho possível, mas, mal comecei a subir as escadas, as minhas gatas começaram a fazer uma grande festa por eu  ter chegado. Só me faltava mais esta. Fiz-lhe o máximo de festas que conseguia para as manter em silêncio, mas não estava a resultar. 

XXX: Quem é que está aí? 

Alguém ligou a luz e é aí que eu percebo que estou feita ao bife.

Mafalda: Guida? O que é que estás aqui a fazer?

Eu: Que susto! - disse, num sussurro - Shh, não quero que os pais acordem.

Mafalda: Estiveste a chorar? - eu não respondi, o que fez com que ela continuasse com o seu interrogatório - Tu e o Diogo chatearam-se, não foi? O que é que ele fez?

Eu: Ele não fez nada, ok?! Eu só preciso de me deitar e de não ser apanhada pelos pais. Por isso, deixa-me subir, por favor.

Mafalda: Ok, ok. Também não precisas de ser assim.

Eu: Desculpa - disse, abraçando-a. Ela achou estranho o meu gesto, mas acabou por retribuir o abraço.

Mafalda: Queres que durma contigo?

Eu: Sim, por favor. Podes deitar-te na minha cama, eu vou só à casa-de-banho e vestir o pijama. 

Ambas subimos acompanhadas pelas nossas gatas. Elas devem-se ter apercebido que algo não estava bem. 

Peguei no meu pijama que estava arrumado no meu armário e dirigi-me à casa-de-banho, fechando a porta logo a seguir. Quando olhei para o meu reflexo, percebi o porquê de todos estarem preocupados comigo. Os meus olhos, lábios e bochechas encontravam-se inchados e era possível ver o rasto das lágrimas no meu rosto. O meu cabelo também estava bastante despenteado. Provavelmente apanhei o tique do Diogo de mexer no cabelo. 

Eu não vou chorar mais. Amanhã será um novo dia e tudo se irá resolver. Ele tem que me ouvir.

À medida que ia vestindo o meu pijama e lavando os dentes e o rosto , tentava não pensar naquilo que tinha acontecido, mas sem efeito.

Quando entrei no meu quarto, a minha irmã já estava a dormir. Decidi deitar-me muito devagar para não a acordar. 

Fechei os olhos e tentei adormecer, mas não estava a conseguir. Não conseguia tirar aquela maldita imagem da minha cabeça. Os olhos que eu tanto amava a olharem-me com desprezo, raiva, desilusão. 

Passado o que pareceu ser uma eternidade, consegui acalmar-me e, finalmente, adormecer.

Mafalda: Guida, acorda - senti o meu braço a ser abanado.

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