Capítulo 5

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Quase que não prestei atenção nenhuma às aulas. 

Mariluz: Estás bem, Guida? 

Eu: Sim, estou.

Joana: Nota-se.

Eu: Oh... Sabem o Diogo do karate?

Mariluz: Era impossível... Estás sempre a falar nele.

Joana: Também é compreensível. Se eu tivesse um deus grego a treinar quase todos os dias comigo, também estava sempre a falar nele.

Eu: Ele está a passar por uma má fase e eu tenho que o ir apoiar. A irmã dele teve um acidente de carro e agora está no hospital em coma.

Mariluz: A sério?

Eu: Sim, eu hoje vou ter com ele e vou vê-la. Espero que ela tenha melhorado...

Mariluz: Vais ver que sim. 

Joana: Vai lá, não deixes o rapaz à espera.

Despedi-me delas e fui de autocarro até ao hospital. Quando lá cheguei, liguei ao Diogo para lhe perguntar qual era o quarto e o piso. 

Quando lá cheguei, o Diogo e o Rúben estavam sentados à porta do quarto. Dei-lhes um abraço a cada um. O Diogo teve direito a um beijo na bochecha.

Eu: Olá. Como é que ela está?

Diogo: Está na mesma. Os médicos já acabaram de fazer os exames que queriam, agora temos que esperar pelos resultados.

Eu: Posso ir vê-la agora?

Rúben: Estão lá os nossos pais agora... 

Eu: Ah, ok, desculpem, não sabia.

Diogo: Não faz mal.

Rúben: Bem, vão-me desculpar, mas eu preciso mesmo de ir comer alguma coisa. Tu também devias de comer, mano.

Diogo: Eu não tenho fome.

Eu: Há quanto tempo é que não comes?

Diogo: Há mais ou menos 4 horas. 

Eu: E o que é que comeste?

Diogo: Uma sandes.

Eu: O teu irmão tem razão. Tens que comer.

Diogo: Não consigo - disse, olhando para o chão.

Eu: Anda, eu faço-te companhia - disse, puxando-lhe o braço. Nota-se o quão fraco ele está, porque só com um pequeno puxão consegui fazer com que ele saísse do sítio onde estava.

Rúben: Ai mano, mano, se não fosse a Guida...

O Diogo aproximou-se de mim e deu-me um pequeno beijo na testa. Fomos em direção à cantina do hospital. Era um longo caminho a percorrer. O Diogo colocou o seu braço por cima dos meus ombros, talvez por se sentir demasiado fraco para andar aquilo tudo sem ajuda. 

Diogo: Queria uma sopa, por favor.

Eu: Só isso?

Diogo: Não sejas chatinha. Sim, só uma sopa.

A empregada sorriu para nós e foi buscar a tal sopa.

Sentamo-nos numa mesa e o Diogo ficou a olhar fixamente para a sopa.

Eu: Queres que faça como os bébes, e te dê a sopa?

Ele soltou uma pequena gargalhada.

Diogo: Ok, ganhaste.

Fiz um sorriso vitorioso por o ter conseguido convencer.

Rúben: Eu vou ter com uma amiga minha, está bem? Encontramo-nos no quarto.

Diogo: Sim, Rúben, uma amiga...

Rúben: Não queiras que eu comece a falar, está bem, Diogo?

O Rúben sai da nossa beira.

Eu: O que é que se passou aqui?

Diogo: É o Rúben que gosta de uma rapariga, mas não quer admitir.

Eu: Pois, mas devia.

Diogo: É, ele devia. Mas, sabes, às vezes é muito difícil. Principalmente quando essa rapariga é muito nossa amiga.

Eu: Eu sei, eu percebo.

Fomos para o quarto da Carla. Vejo os pais dela a saírem de lá.

Eu: Olá.

Kate: Olá, querida. Por aqui?

Notava-se que ela tinha estado a chorar.

Eu: Sim, vim ver a Carla. Lamento tudo o que aconteceu.

Kate: Eu sei, querida - disse, dando-me um abraço.

Will: Olá, está tudo bem contigo?

Eu: Sim, está, obrigada. E consigo?

Will: Vai-se andando, querida.

Eu: Vão ver que vai correr tudo bem. Eu tenho a certeza.

Kate: Esperemos que sim. Queres ir vê-la agora?

Eu: Sim, gostava muito.

Will: Diogo, queres ir com ela?

Diogo: Sim, claro. Se ela não se importar...

Eu: É claro que não.

Tens que controlar as lágrimas, Margarida. Senão vais piorar tudo.

Entrei no quarto. Não queria acreditar. A rapariga que eu sempre vi a sorrir, divertida, saudável, está agora aqui, assim, numa cama de hospital. De repente, uma lágrima cai-me pelo rosto. Apresso-me a limpá-la, mas vou tarde de mais. O Diogo já tinha tratado disso.

Eu: Desculpa, só estou a piorar tudo... É que a tua irmã é muito minha amiga. Não imagino por aquilo que tu estás a passar.

Dei-lhe um abraço. O Diogo também estava a chorar. 

Diogo: Obrigado por estares aqui. Sabes, hoje ainda não tinha conseguido entrar neste quarto. 

Eu: Eu percebo-te.

Ficamos muito tempo assim. Era tudo mais fácil. Mas, depois, comecei a sentir-me um pouco zonza e pensei em sentar-me um bocadinho. 

Diogo: Estás bem? Estás um bocadinho pálida.

Eu: Isto já passa. Não te preocupes.

Peguei na mão da Carla e comecei a fazer pequenos gestos circulares.

Diogo: Achas que ela nos consegue ouvir?

Eu: Não sei, sinceramente, não sei.

Ele aproximou-se de mim, e sentou-me numa cadeira a meu lado. De repente, o Rúben entra no quarto acompanhado por uma cara que não me era nada estranha... O que é que ela estava aqui a fazer?

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