Capítulo 75

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Eu: Paulo, não quero falar sobre isso.

Paulo: Vá lá, responde só à pergunta. Se ele viesse falar contigo, falavas com ele?

Eu: Como ele fez comigo? – disse, soltando uma gargalhada sem humor.

O Paulo respirou fundo e abanou ligeiramente a cabeça. Algo me dizia que ele estava farto de falar sobre isto.

Paulo: Eu vou-te dizer algumas coisas que eu acho que precisas de ouvir, está bem?

Eu: Força – disse, cruzando os braços.

Paulo: Desde o dia em que vocês acabaram que o Diogo não tem parado de beber. Os pais dele, a Carla e eu tentamos de tudo para que isso não acontecesse… Então, eu deduzi que alguém o estivesse a ajudar. Era impossível ele conseguir fugir a tanto controlo. Acabei por desconfiar do Rúben. Quando lhe perguntei, ele disse-me que apenas lhe estava a dar a quantidade necessária de álcool para ele conseguir esquecer os problemas…

Eu: Eu não me acredito nisto…

Paulo: O Diogo passa o dia fechado no quarto com umas garrafas que o irmão lhe vai arranjando de vez em quando... Parte tudo o que lhe aparece à frente, não pára de chorar… Tem imensos pesadelos. Ele bateu mesmo no fundo, Guida. Não ouve ninguém e, por isso, ninguém o consegue ajudar. Aliás, só uma pessoa o tem conseguido ajudar – disse, desviando os olhos da estrada para me encarar.

Eu: Olha, Paulo, estás-te a esquecer de um pormenor muito importante. Ele é que não me ouviu.

Paulo: Eu sei, porra. Porque ele está a ser um caralho. Mas tu não és assim. Tu és uma pessoa tolerante. Lembras-te quando ele te contou parte do seu passado? Tu não hesitaste em ouvi-lo e em perdoá-lo…

Eu: Parte do seu passado? Há mais?

Paulo: Sim, há. Mas ele é que te vai contar isso. Se o ouvires.

Eu: Eu não sei se vou fazer isso.

Paulo: Não te esqueças de como eras antes.

Um silêncio fez-se sentir no carro.

Eu: Olha, Paulo, isto é tudo muito bonito, mas eu não vou voltar atrás. Eu não o traí e ele nem sequer se dignou a vir falar comigo! Mandou-me uma merda de uma mensagem… Por isso, eu tive que continuar com a minha vida. E, agora que tudo se estava a compor, ele vem estragar tudo?

Paulo: Desculpa dizer-te isto, mas achas mesmo que a tua vida se está a compor?

Eu: Sim, sinceramente, acho.

Paulo: Guida, olha para ti. As tuas olheiras não enganam ninguém, bem como o teu sorriso amarelo. Passas, também, os dias fechada no quarto. Só que, em vez de beberes, tocas violino.

Eu: Ao menos isso! Não sou uma bêbada que não faz nada da vida. Eu ao menos vou ganhando algum dinheiro.

Paulo: E umas tendinites de vez em quando, para variar… Guida, quantos quilos é que já perdeste, mesmo?

Eu: Não te interessa.

Paulo: A sério, diz-me.

Eu: 5.

Paulo: A tua vida está a compor-se… - disse, ironicamente.

Eu: Pára. Eu estou a fazer tudo aquilo que posso.

Paulo: Também ele! Não percebes, pois não? Ele fez muitas merdas. Coisas que nem te passam pela cabeça. E, agora, está a reviver tudo. Mas eu sei que tu o vais perceber e o vais ajudar.

Eu: Estás a dizer que ele esteve sempre mal? Que eu não sei metade do passado dele?

Paulo: Não… Bem, sim… A questão é que ele sempre se agarrou a ti, percebes? Por isso é que o vias sempre feliz. Porque ele estava a olhar para ti, porque ele estava contigo. Será que vocês não percebem que isto não passa de um grande mal entendido? Queres mesmo que isto acabe assim?

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