Capítulo 26

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S/n Grimes

Glenn e Maggie insistiram para que eu descansasse um pouco, mas eu recusei os pedidos. Ao invés disso eu fui até o quarto onde Carl estava, só tinha ele e o senhor lá.

Hershel parece ser um bom homem, está fazendo tudo que pode para salvar meu irmão. Conheci a Beth também, irmã mais nova de Maggie, ela é tão gentil quanto a mulher e me recebeu amigavelmente.

Tem também o Jimmy, namorado da Beth, e a Patrícia, esposa de Otis, mas eu não conheci eles direito. Só me apresentei, então não posso dizer exatamente o que acho deles.

Eles vivem todos nessa fazenda, parece até que o apocalipse não chegou aqui. Tudo nesse lugar é bonito e sereno. Tem muitas árvores e eu imagino que tenha plantações e poços também, afinal, isso aqui é uma fazenda.

Estava sentada na cadeira do meu pai, segurando a mão de Carl e acariciando seu cabelo. Nem meu pai e nem a Lori estavam aqui, os dois conversavam na pequena varanda do quarto.

You are my sunshine, my only sunshine.
You make me happy when skies are grey.
You'll never know, dear, how much I love you.
Please, don't take my sunshine away. - cantarolei suavemente, admirando o rosto angelical de Carl.

Eu cantava baixinho, aquela era sua música favorita. Vez ou outra eu deixava algumas lágrimas caírem, mas as limpei rapidamente ao ver meu irmão abrir os olhos.

— Onde a gente tá? - ele perguntou ofegante, chamando a atenção de Lori e meu pai.

— Oi, meu amor. - digo com a voz calma, sorrindo de orelha a orelha.

— Esse é o Hershel, a gente tá na casa dele. - papai apresentou o senhor, tentando acalmar o garoto. — Você teve um acidente, entendeu?

— Tá doendo muito. - Carl falou, colocando a mão em cima do curativo.

— Amor, eu sei. Eu sei. - Lori murmurou, sentada ao lado do filho.

— Vocês deviam ter visto. - a criança disse, olhando para mim e Lori.

— Visto o quê? - pergunto confusa.

— O cervo. Ele era tão bonito e estava tão perto. - ele respondeu. — Eu nunca estive tão...

De repente ele se calou.

— Carl? - papai chamou pelo garoto.

— O que está acontecendo? - pergunto preocupada.

E então, Carl começou a se contorcer na cama. Entramos todos em desespero, enquanto Hershel nos afastava dele. Eu já me encontrava em puro desespero, chorando sem parar.

— É uma convulsão. - o senhor informou. — Se o segurarem podem machucá-lo.

— Não pode parar isso? - Lori perguntou desesperada.

— Tem que deixar isso passar sozinho. - Hershel falou.

Fomos obrigados a ficar ali, vendo Carl se contorcer naquela cama. Não podíamos fazer nada. Não podíamos acabar com sua dor.

Papai me puxou e abraçou meus ombros, trazendo Lori para perto de nós. Quando a convulsão de Carl finalmente passou, Hershel foi até ele para analisá-lo.

— O cérebro dele não está recebendo muito sangue. - ele disse, me deixando ainda mais preocupada. — A pressão está caindo, ele precisa de outra transfusão.

— Tá, eu tô pronto. - meu pai não demorou em dizer.

— Se eu tirar mais de você, seu corpo vai sofrer. Você vai entrar em coma, ou ter uma parada cardíaca. - Hershel explicou.

— Então tira o meu! - grito no meio do desespero. — Somos compatíveis, pode tirar o quanto for necessário. Só salva a vida do meu irmão, por favor. - imploro.

— Tá bom, senta aí. - obedeço o médico e sento na cadeira ao lado da cama, estendendo meu braço direito.

Fechei meus olhos assim que a agulha foi penetrada na minha veia, sentindo a pressão do meu sangue saindo. Nunca fui muito fã de agulhas, mas estou disposta a enfrentar isso pelo meu irmão.

Ficamos ali com aquela mangueira no meu braço por algumas horas. Me sentia um pouco fraca e cansada, mas não me importei muito com isso.

— Antes disso acontecer, nós estávamos lá na mata e um cervo cruzou bem na nossa frente. - papai começou a contar. — Eu juro. Ele ficou parado lá e olhou Carl bem nos olhos. Então eu olhei para o Carl olhando para o cervo e o cervo olhando para o Carl. E aquele instante acabou. - ele suspirou, dando uma pequena pausa. — Era disso que ele estava falando, quando acordou. Não sobre levar um tiro, ou o que aconteceu na igreja. Ele falou de uma coisa bonita, de uma coisa que vive. Ainda existe uma vida pra nós, um lugar talvez como esse.

Nesse momento, Lori já estava chorando. Eu só tentava focar na voz do meu pai, tentando não pensar que meu sangue estava saindo de mim e indo para outra pessoa.

— Não existe só morte por aí. Não pode ser. - ele continuou. — Nós apenas temos que ser fortes o bastante. Depois de tudo que vimos, eu ainda acredito. Por que é melhor para o Carl viver mesmo nesse mundo? Meus filhos não merecem isso. Nem a gente. - olho para ele de relance, virando o rosto logo em seguida. — Ele estava falando sobre o cervo, Lori. Ele falou sobre o cervo.

Lori não disse nada, apenas permaneceu sentada no chão com a cabeça apoiada no colo do meu pai. Eu rezava para que Shane voltasse logo, nunca imaginei que fosse querer tanto ver a cara daquele cretino.

Papai continuou falando aquelas coisas estranhas por mais um tempo, depois Hershel entrou no quarto mais uma vez para ver como meu irmão estava. Ele vem aqui de minutos em minutos.

— Ele ainda está perdendo sangue mais rápido do que podemos repor. E com o inchaço no abdômen não podemos esperar mais, ou ele vai acabar morrendo. - disse o senhor. — Eu preciso saber agora, se vocês querem que eu faça isso. Porque eu acho que essa criança está ficando sem tempo. Precisam fazer uma escolha.

— Escolha? - Lori indagou.

— Escolha, você tem que me dizer qual é. Tem que me dizer o que fazer. - meu pai bem dizer implorou para a mulher.

— Pode fazer. - Lori respondeu com com convicção.

— Mas... disseram que não podem operá-lo sem o respirador. - digo com os olhos arregalados, confusa e preocupada.

— Há chances dele não sobreviver a cirurgia, mas ele vai morrer de qualquer jeito se não tentarmos. - Hershel foi sincero.

Respirei fundo e tentei não surtar.

"Ele vai ficar bem." - eu dizia para mim mesma.

Ele vai ficar bem. Ele tem que ficar bem.

Carl é um garoto forte, vai passar por isso. Daqui uns dias nós estaremos rindo disso, lembrando e imaginando nossas caras de desespero.

Eu acredito nisso. Eu tenho que acreditar.

Love in chaos - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora