S/n Grimes
Apenas Daryl, Michonne e meu pai foram para Woodbury, o resto de nós ficou aqui na prisão.
Estava sentada no chão brincando com a Judith, enquanto Carl estava deitado na cama em total silêncio. Achei melhor não invadir seu espaço, quando ele quiser falar comigo eu estarei pronta para ouvi-lo.
— Era pra eu ter ido também. - o garoto disse de repente, o que me fez franzir o cenho.
— Não tô dizendo que você é fraco ou burro, mas você ainda é uma criança. - ouço ele bufar. — Com a sua idade eu ralava o joelho e comia leite em pó escondido.
— Os tempos mudaram. - ele falou, parecia até uma pessoa madura.
— Mudaram mesmo. - digo pensativa. — Ainda assim, os mais novos devem respeitar os mais velhos. - aquilo foi uma indireta, e ele a entendeu rapidamente.
— Foi mal. - se desculpou, sentado na cama.
— Foi péssimo. - o olho com decepção. — Mas eu sei que você não vai fazer isso de novo. Tenho certeza que não quer perder a língua.
— Pode apostar que não. - Carl disse rindo, me fazendo rir também.
— Hershel me disse uma coisa hoje, algo que se encaixa em você. - comento, tendo os olhos curiosos de Carl sobre mim. — "Essa mania de engolir o choro ainda vai matar muita gente afogada."
— Como isso se encaixa em mim? - o garoto perguntou, ainda sem entender muito bem.
— Você se fechou, todos já perceberam isso. - eu disse de maneira séria e compreensiva, sentando ao seu lado na cama. — Não precisa ser forte o tempo todo, pode desabar de vez em quando. Eu sou a irmã mais velha, meu dever é cuidar e proteger você e a Judith. Quando quiser chorar ou conversar, vou estar aqui pra te ouvir. Não vou te julgar, muito menos tentar diminuir a sua dor. Eu vou apenas te ouvir.
— Não preciso conversar. - o orgulho daquele menino as vezes me tira do sério.
— Todo mundo precisa. - digo com mais firmeza. — Se quiser continuar nessa depressão sem fim, é um direito seu também. Só acho que temos problemas de mais, não precisamos de um adolescente rebelde.
— Você é rebelde. - retrucou.
— Cala a boca! - empurro seu ombro com diversão. — Eu sou a mais velha aqui, sempre tenho razão.
— Com certeza. - ele disse de maneira sarcástica.
Horas depois fui levar Judith para dar uma volta pelo pátio, Beth veio comigo. Eu e ela temos a mesma idade, o que é muito bom, mas nós mal interagimos uma com a outra. Maior parte das nossas conversas são sobre a Judith.
— Então, Beth, me conte sobre você. - comecei a puxar assunto, caminhando ao seu lado em passos lentos
— Não tem muito o que falar. - ela disse com aquela sua voz meiga e suave. — Tinha acabado de terminar o ensino médio quando os mortos levantaram. Nasci e cresci na fazenda, fui criada para fazer o bem e ter fé em Deus.
— Ainda acredita nEle? - perguntei com os olhos no chão.
— Em quem? - ela me olhou confusa.
— Em Deus. - respondo. — Ainda acredita nEle?
— Acho que sim, não sei exatamente. - minha pergunta parece ter deixado ela pensativa. — Papai ainda acredita, talvez eu só esteja ajudando a manter sua fé.
— Tá, mas me conte sobre o Jimmy. - resolvo mudar de assunto.
— Conheci o Jimmy no colégio. - ela falou. — Começamos a namorar três meses antes disso tudo.
— Gostava dele? - continuo perguntando, não deixando a conversa chegar ao fim.
— É, gostava. - sua resposta foi rasa e não muito sincera. — Estávamos nos conhecendo ainda.
— Ele parecia gostar de você. - comentei, fazendo a garota sorrir. — Sabe, você teve sorte. De certa forma você foi protegida da dura realidade desse mundo, antes e depois do surto.
— Não tenho tanta certeza disso. - Beth falou. — Cresci acreditando que havia bondade e esperança em tudo, mas não é bem assim que funciona. Nesse mundo, nem as pessoas de bom coração tem bom coração.
— E o Hershel? Maggie disse que ele bebia, nós até o encontramos naquele bar perto da fazenda. - mudo novamente de assunto.
— É, ele tinha o hábito de se embriagar e uma vez até foi parar na cadeia por estar bêbado. Apesar disso, sempre proibiu eu e a Maggie de beber álcool. - ela contou. — Mas, e você? Me conte um pouco sobre sua vida antes de tudo isso.
— Bem, eu também tinha acabado de me formar e estava com vários planos na cabeça. - contei, abrindo um fraco sorriso ao lembrar do passado. — Pensando assim, parece que foi há uma eternidade.
— O tempo está passando mais rápido do que o normal. - Beth concordou comigo. — Qual era sua profissão dos sonhos? - ela perguntou.
— Policial, como meu pai. - respondo, aumentando o meu sorriso. — Sempre admirei essa profissão e o fato de poucas mulheres serem aceitas me deixava muito irritada. Eu tinha o sonho de ser uma xerife como o meu pai era.
— Foi ele quem te ensinou a atirar? - perguntou curiosa.
— Ele e o Shane. - digo com a voz um pouco pesada, pensar naquele homem fazia um nó se formar em minha garganta. — Sabe, o Shane não costumava ser daquele jeito. Meu pai e ele eram melhores amigos, viviam juntos. Shane sempre ia lá em casa brincar com o Carl e me levar hambúrgueres. Eu sempre amei hambúrgueres. - ri ao lembrar das cenas hilárias. — Era um tempo bom.
— Era mesmo. - Beth respirou fundo, olhando para a irmã e o cunhado que estavam perto do portão. — Mas, se isso não tivesse acontecido, nunca teríamos nos conhecido.
— O apocalipse tem seus lados bons. - digo com um pequeno sorriso no rosto, olhando para o casal também.
Se pararmos para pensar, o apocalipse não trouxe apenas dor e destruição. Como Beth disse: nunca teríamos nos conhecido se todo esse caos não tivesse surgido.
Eu nunca teria conhecido o meu melhor amigo.
Nunca teria conhecido o Daryl...
— Eles chegaram! - saio dos meus pensamentos ao ouvir a voz de Glenn.
Segurei Judith com mais firmeza ao ver um ônibus entrar no nosso pátio. Dezenas de pessoas começaram a descer do veículo com ajuda de Tyreese, deixando tudo cada vez mais confuso.
— Me dê ela. - Beth pegou Judith no colo.
Agradeci à garota e corri até o meu pai, esperando do mesmo uma explicação. Papai não disse nada, apenas olhou para todos nós e balançou a cabeça. Pelo jeito, a guerra havia chegado ao fim.
Carl e meu pai foram conversar em um canto mais afastado. Pela cara do meu irmão, ele não gostou nada daquilo. Vi quando Carl saiu de perto dele em passos pesados, fazendo nosso pai colocar as mãos na cintura e abaixar a cabeça enquanto respirava fundo.
— Cadê a Andrea? - pergunto, notando que a loira não estava ali.
Daryl olhou para Michonne e depois olhou para mim, negando com a cabeça. Entendi o que havia acontecido e senti um leve aperto no peito
— E o Governador? - tento manter minha voz firme.
— Fugiu. - Daryl respondeu.
Forcei um sorriso e voltei a olhar para todo aquele pessoal. Havia muitos idosos e crianças, jovens da idade do Carl e bebês como a Judith. É bom pensar que meu irmão poderá fazer amizades, principalmente agora.
Teremos outra chance de viver com mais tranquilidade e humanidade.
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Love in chaos - Daryl Dixon
Fanfiction{ Livro 1 } "𝗤𝘂𝗮𝗻𝗱𝗼 𝗻𝗮̃𝗼 𝗵𝗼𝘂𝘃𝗲𝗿 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝗲𝘀𝗽𝗮𝗰𝗼 𝗻𝗼 𝗶𝗻𝗳𝗲𝗿𝗻𝗼, 𝗼𝘀 𝗺𝗼𝗿𝘁𝗼𝘀 𝗮𝗻𝗱𝗮𝗿𝗮̃𝗼 𝗻𝗮 𝗧𝗲𝗿𝗿𝗮." Quem diria que essa frase fosse fazer tanto sentido? No começo S/n achava que não demoraria muito para enco...