Capítulo 68

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S/n Grimes

Carl, Michonne e meu pai voltaram com várias armas, munição, suprimentos médicos e muitas outras coisas. Fiquei surpresa quando vi tudo aquilo, assim como todo o resto do pessoal.

Eles encontram o Morgan, aquele velho amigo do meu pai. Pelo visto, o homem estava mais do que bem armado.

— Esse Morgan, é aquele cara que te salvou no começo? - pergunto, ajudando meu pai a separar as armas.

— Sim, é ele mesmo. - papai respondeu, focado no que fazia.

— Por que não o trouxe então? - olhei para ele com curiosidade, vendo o mesmo passar as mãos pelo rosto.

— Ele não está muito bem. Preferiu ficar onde estava. - ele disse com pesar.

Preferi não fazer mais perguntas, me calei e voltei a organizar as armas. Eu ainda sentia minha virilha arder, mas estava me esforçando para manter a naturalidade. Mas meu pai é muito bom em notar coisas erradas.

— Tá tudo bem? - ele perguntou, me olhando por cima dos ombros.

— O quê? - pergunto confusa.

— Você tá mancando. - disse meu pai, me fazendo gelar. — Aconteceu alguma coisa?

— N-não! - nego rápido demais, fazendo meu pai estranhar. — Eu só... só bati minha perna mais cedo. Foi isso!

Papai deu de ombros e não disse mais nada, o que me deixou aliviada. Deixei o refeitório e fui até a minha cela, não ia ficar ali esperando meu pai fazer mais perguntas.

— Oi! - sento ao lado do meu irmão, bagunçando seu chapéu. — O que é isso? - olhei para o pequeno porta retrato em suas mãos.

— Encontrei naquela lanchonete perto de casa. Aquela que o papai nos levava todas as sextas. - respondeu, me entregando o porta retrato.

Era uma foto antiga, uma linda foto na verdade. Eu, Carl, Lori e meu pai. Estávamos tão sorridentes, tão felizes. Era como se não houvesse problemas, muito menos tristezas.

— É a última que restou. - disse o garotinho, olhando fixamente para a foto. — Queria que a Judith tivesse algo pra lembrar de nós.

— Você é um ótimo irmão mais velho. - sorri e arrumei o chapéu em sua cabeça, secando uma pequena lágrima que molhava as bochechas rosadas do meu irmão. — Lori ficaria orgulhosa.

— Não tenho certeza disso. - fecho imediatamente o meu sorriso, o encarando com estranheza. — Não sei se posso fazer o que a mamãe me pediu. Sabe, aquele lance de vencer do mundo.

— Que merda você tá falando? - franzi o cenho.

— Não sei se sou forte, esperto e corajoso o suficiente. Não como minha mãe disse que eu era. - ele falou. — Acho que não consigo vencer do mundo como ela disse.

— Não fale besteira. - o repreendo. — Nós somos os Grimes, esqueceu? E os Grimes são fortes, eles nunca desistem e nunca perdem. - olhei em seus olhos não muito inocentes, não como costumavam ser. — Você viu o que aconteceu com o nosso pai. Ele renasceu. Nosso pai veio dos mortos e sobreviveu por todo esse tempo. Ele manteve a gente vivo e não desistiu. Você também não vai desistir, entendeu?

Carl apenas concordou com a cabeça, sem dizer uma única palavra. Puxei o garoto para um abraço e o apertei contra meu peito.

Odeio pensar nas coisas horríveis que meu irmão está tendo que enfrentar sozinho. O pior de tudo é que eu não posso fazer nada, nada além de estar aqui com os braços abertos para abraçá-lo enquanto digo coisas positivas.

Eu queria poder dizer mais coisas. Gostaria de dar esperança para ele, mas isso seria egoísmo da minha parte. Porque é cruel dar esperança quando não se tem nenhuma.

Mas eu tinha que permanecer confiante, pelo menos fingir.

Carl precisa de mim, mais do que nunca, e eu preciso estar aqui para ele.

— Tá, agora repita comigo: "Meu nome é Carl Grimes e eu não terei medo." - eu disse de maneira séria, apertando suas mãos.

— Meu nome é Carl Grimes e eu não terei medo. - ele repetiu com o mesmo tom sério que o meu.

— Ótimo. - sorri novamente, fazendo o garoto também abrir um fraco sorriso. — Eu te amo, Cowboy. - o abracei.

— Eu também te amo, namorada do Daryl. - arregalei os olhos e empurrei seu corpo com cuidado.

— O que disse? - começo a respirar pesadamente.

— Namorada do Daryl. - Carl repetiu como se não fosse nada. — Vi vocês dois se beijando mais cedo.

— O que mais você viu? - começo a ficar preocupada.

— Só isso! - fez cara de nojo. — Não ia ficar lá parado vendo vocês dois trocarem saliva.

— Carl, você não pode...

— "Contar pro papai." - tentou imitar a minha voz. — Relaxa, eu não vou dizer nada.

— É bom mesmo. - o ameacei com o olhar.

— Eu até gosto do Daryl. - deu de ombros. — Ele é gente boa.

— É mesmo. - acabo abrindo um sorriso bobo.

— Mas também não precisa ficar aí parecendo uma idiota apaixonada. - Carl me repreendeu. — Não sou obrigado a ver isso.

— Você é um pirralho chato! - empurro seu ombro.

— E você é a namoradinha do Daryl! - ele provocou, me empurrando também.

Assim, uma pequena guerra entre irmãos foi formada. Eu e ele ríamos enquanto fazíamos cócegas e jogávamos travesseiros um no outro.

Eu amava aqueles momentos. Os momentos em que nós não estávamos lutando ou discutindo. Eu amava os momentos em que ríamos e esquecíamos do mundo lá fora, das ameaças que tínhamos que enfrentar.

Mas não podemos nos esquecer das ameaças que nos esperam, nunca.

Love in chaos - Daryl Dixon Onde histórias criam vida. Descubra agora