Belle
- ̗̀ 𖥸 ˎ'-
Meus olhos se abriram e gradativamente foram se acostumando à atual penumbra do quarto, exceto pela fresta que emanava uma luz branca, de onde eu podia ver Negan aparando sua barba pelo espelho do banheiro. Minha cabeça girava um pouco, não sabia se tinha se passado apenas algumas horas, se ainda era o mesmo dia ou se eu havia acabado de acordar de um coma de 10 anos. Estava exausta demais para continuar tendo noção de tempo. Meus músculos estavam cansados, a sensação que tinha era de ter saído de uma de uma piscina após um longo tempo e ainda estava me acostumando com o peso do meu corpo fora da gravidade limitada.
Ainda estava cansada, dolorida, fodida e nua (mas, curiosamente, satisfeita). Alguns flashs da noite anterior invadiram minha mente, como o som molhado do corpo dele se chocando contra o meu, as batidas frenéticas da cama na parede...
Juntando tudo, há de se chegar à conclusão de que silêncio não combinava com aquele cara. E de que provavelmente gostava de garantir que todos (pessoas ou zumbis) num raio de três quilômetros soubessem daquilo.
Era como um pensamento solto que circulava em minha mente. Mas eu estaria mentindo se continuasse a omitir o fato de que ele não era o único responsável por aquilo, porque eu também participei daquela sinfonia lasciva. Quando ele iniciou sua cavalgada brutal sobre meu corpo, meus sentidos foram tomados por um prazer inebriante e delicioso, tudo que minha mente focava era nele dentro de mim. Mas assim que fui lentamente me conscientizando de meus outros sentidos, fiquei particularmente alerta após perceber um som externo, baixo e áspero. Meros sussurros e grunhidos, mas tinham o tom de desejo e horror. O som inquietante vinha ecoando em meus ouvidos havia algum tempo. Mas o que seria? Fui subitamente tomada de revolta.
Era eu!
Era o som de minha própria voz, meio sussurrante, gemendo os meus desejos ilícitos, repetidamente.
— Mais forte — eu me ouvia gemer. — Mais forte, eu quero mais forte!
Por quanto tempo estaria repetindo aquela afirmação vergonhosa? Quanto mais agüentaria? Mas mesmo inteiramente consciente disso, não conseguia parar; continuava soltando as palavras engasgadas:
— Mais forte... Eu quero mais forte.
- ̗ ̀ 𖥸 ˎ'-
Mais uma dessas memórias sexuais se mantinha especialmente vívida; não me lembro se foi na segunda ou na terceira vez que ele gozou, mas houve um certo momento em que ele sequer estava preocupado com o seu próprio prazer. Me comer era só um pretexto para se manter dentro de mim e me abraçar pelo maior tempo que conseguisse. Ele não tinha pretensão alguma de fazer aquilo acabar rápido. Eu estava por baixo dele, sentindo meu corpo encaixar com o dele direitinho, enquanto era embalada por suas investidas lentas e profundas. Ele olhou nos meus olhos, com seu seu olhar terno e doce e disse:
— Diga que me ama. Diga que é minha mais uma vez — ordenou ele.
Aquela seria só mais uma daquelas bobagens sem importância que alguém diz quando está cego de tesão. Mas ele queria ouvir, como uma exigência terrível para que conseguisse chegar ao ápice de seu prazer. Neste ponto eu retorno a meu principal questionamento sobre ele, das duas uma: ou ele é uma vadia afetiva, porém inofensiva. Ou ele é só um manipulador desgraçado que gosta de manter seus interesses sexuais reféns emocionalmente dele. As duas opções são perturbadoramente possíveis, e, mesmo que eu tenha entrado nessa sabendo de tudo, ainda não deixo de me surpreender.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
ChickLitBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...