- ̗̀ Capítulo 82ˎ'-

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― Sabe, eu ainda estou muito puto e preciso descarregar isso em alguém, então me diga, onde está Daniel e o resto das minhas armas?

― Você pode, por favor, me deixar falar? ― Belle tentou argumentar. — Eu preciso que entenda o que aconteceu antes de…

― Não, eu não quero saber de conversinha, me diga apenas o que eu estou perguntando ou cale a porra da sua boca. Você entendeu?

Belle ficou genuinamente assustada com o tom de Negan e se encolheu, o homem de alguns dias atrás que chorava dizendo amá-la jamais diria aquelas coisas horrendas.

— Você está me assustando. — Disse Belle, sentindo seu sangue congelar nas veias.

     ― Gostei disso, já que você não me deu o devido respeito, alguma coisa você tinha que sentir por mim. — Negan sorriu. — Vou te dar duas opções simples. ― Ele levantou dois dedos e os abaixou conforme explicava as opções. ― A primeira, você me fala onde Daniel e o resto das minhas armas estão, me pede desculpas, e eu permito que volte para o santuário como uma serviçal qualquer, tem trabalho sobrando na lavanderia, mas acredite, depois de lavar algumas camisas suadas dos Salvadores com restos de mortos vivos, você vai querer morrer. Mas claro, se quiser se humilhar para mim e prometer ser bem obediente, talvez… e só talvez eu possa reconsiderar e melhorar um pouco a sua vida, que tal, empregada pessoal de Kara? Ela me pediu algo assim recentemente.

     Se Belle não estivesse tão enraivecida, ela teria esboçado algum sorriso de escárnio.

     ― A segunda, você fica aí sem dizer nada, eu encontro Daniel por mim mesmo, e eu farei questão de que você veja o que eu farei com ele, vou fazer o mesmo com todo mundo que você se importa e vou me certificar de que você jamais se esqueça do que causou.

     O olhar de Belle finalmente se encontrou com o dele. Negan sentiu seu coração se apertar ao notar a melancolia molhada nos olhos da jovem, seus cílios encharcados e a tristeza quase o fizeram não querer continuar mais com aquilo. Belle percebeu o quão afetado ele estava com Daniel, ela abaixou a visão, encarou suas mãos atadas e esboçou um sorrisinho de canto.

     ― Você não tem mais nada para fazer ao Daniel, acredite. ― Belle resmungou provocativa. ― E eu não tenho nada para me desculpar, porque me desculpar implicaria em arrependimento. Mas eu e você saberíamos que não seria genuíno. ― Belle sorriu orgulhosa.

     Negan comprimiu os lábios com força, franziu seu nariz e assentiu levemente a contragosto, ele desistiu de tentar encontrar explicações melhores do que as que ele já tinha.

     ― Essa é a sua escolha então?! Ótimo. Espero que saiba que vou respeitar sua escolha, apesar de ser uma escolha burra pra cacete, e também que é muito bonitinho ver você agir como se não fosse tão substituível quanto este móvel que você está sentada. ― Ele disse e Belle parou imediatamente parou de sorrir. ― Sabe, Francisbelle. A Kara, ela sim é uma mulher que tem vários motivos para me matar e me odiar profundamente, não essa merda que você precisa fingir e se forçar a acreditar para fazer sentido. Eu fui um filho da puta e fodi com ela de todas as formas que você pode imaginar e eu senti um prazer fudido em cada uma das vezes. Mas ainda assim, apesar das ameaças diretas dela, Kara nunca precisou ser tão baixa e mentirosa quanto você. Ela nunca me traiu, e não me traindo, por conseguinte, ela não traiu a porra do meu sistema. Os problemas que ela tem comigo são expressos verbalmente e são rapidamente resolvidos, e Deus sabe o quanto eu a adoro por isso. Essa honestidade... Essa sinceridade que ela tem com seus próprios sentimentos, essa praticidade, apenas mulheres adultas de verdade conseguem transmitir, esse é o tipo de prazer que você nunca conseguiu me dar. Então me diga, Tinkerbell, quando você vai crescer?!

Aquilo feriu de forma irremediável o ego de Belle.

     ― Não perca seu tempo comigo, se é Kara que você quer desde o início, vá atrás dela. ― Disse Belle, ressentida.

     ― É. ― Negan pega as armas da mesa e faz menção de sair. ― É exatamente o que eu vou fazer.  Mas antes, mais uma coisa, eu vou te dar 15 minutos pra pensar, quando voltar eu espero ter algo convincente pra ouvir, eu quero saber de tudo. Caso eu volte e você continue em silêncio eu vou matar cada uma das pessoas que supostamente deixaram você levar essas armas, tudo isso ocorrerá na sua frente, uma a uma, até você ter algo a me dizer.

Ele disse tudo aquilo com tanta convicção, Belle não sabia dizer se aquilo era um blefe sujo ou não, e tinha medo de descobrir.

— Ninguém facilitou nada pra mim, eu sou a única responsável por tudo. — Belle gritou rouca e com um choro preso na garganta. — Negan por favor, eu sei que no fundo você não gosta de matar pessoas e você não vai matar gente inocente por minha causa.

— Quem disse pra você que eu não gosto de matar pessoas? ― Negan disse e Belle enfraqueceu, o medo tomou conta de seu ser e ela não reconhecia aquele homem diante de si. — A questão Belle, é matar as pessoas certas, no momento certo. —  Dito isso ele lhe lançou um sorriso fingido e saiu pela porta, batendo-a com força.

     Belle se sentia pesada e zonza, desesperada e vazia por dentro. Mas sabia que não podia deixar a sensação de esgotamento vencê-la, o que a mantinha viva era a responsabilidade de manter as pessoas que ela amava vivas e naquele momento ela entendeu que ele machucaria qualquer pessoa que ela amasse apenas porque ele queria machucá-la, porque ele era cruel, e feri-la fisicamente não era o bastante, ele precisava pegá-la pelo seu emocional e psicológico, ele iria ferir onde não havia possibilidade de cicatrização: sua alma. A jovem respirou fundo, encarou suas mãos amarradas e pensou.

Ela estava amarrada e não morta, o que significava que ela ainda possuía uma chance de se salvar e salvar as pessoas que ela se importava. A mulher começara a se sentir confiante novamente, apesar de inúmeras dúvidas circularem em sua mente.  Enquanto ela conjecturava a respeito de toda aquela situação, Belle sabia que precisava se soltar daquelas amarras. A ideia inicial foi encontrar algo pontiagudo para cerrar as fitas, mas não obteve sucesso, enquanto procurava, um pensamento a atingiu: ―, como Negan saberia que ela estava ali se não soubesse mesmo do plano?! Alguma coisa não encaixava. Kara havia deixado passar alguma informação importante?! Era improvável, Kara precisaria se desvencilhar de todos os seus neurônios para crer que entregando Belle, ela mesma sairia ilesa de tudo aquilo. Mas apesar de improvável, ainda era uma possibilidade.

     A jovem decidiu parar de refletir sobre, pois sentia que estava começando a enlouquecer devagar. A primeira ideia que teve para se livrar rapidamente daquelas amarras foi aquecer a fita para soltar a cola aos poucos e fragilizar sua estrutura. Belle inspirou profundamente, enchendo seus pulmões de ar e levou seus pulsos até a altura da boca, seus lábios formaram o formato de “o” e, por fim, liberou o ar quente. Conforme suas mãos recebiam aquele calor agradável, ficavam mais e mais úmidas, o que serviu para enfraquecer a cola, tornando-a menos resistente e adesiva. A mulher aproximou seus punhos da quina da mesinha e raspou as extremidades, após alguns minutos de fricção, a fita rasgou e finalmente ela voltou a sentir seus pulsos novamente, seu sangue fluía de livremente e a sensação de liberdade a fez sorrir momentaneamente. Mas sua alegria só durou até ela ouvir o som do trinco da porta se abrir e uma voz conhecida ressoar em tom de sussurros irritadiços.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora