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Em uma madrugada fria de nevasca e ventania, uma insônia infernal dominava meus pensamentos e o silêncio do meu quarto foi perturbado por batidas sutis, porém insistentes, na porta. Por curiosidade me acheguei a fonte do barulho, um tanto receosa, para ouvir quem batia.
— Belle? Está aí? — A voz de Daniel não passava de um sussurro baixo.
Eu abri a porta e rapidamente o puxei para dentro, não podia arriscar que ninguém nos visse juntos naquele horário.
— O que houve? — Eu pergunto em um sussurro igualmente baixo.
Ele me olha com os olhos arregalados, como se tivesse vivenciado o fim dos tempos. Daniel estava tenso e pesaroso, ele olha para os lados como se estivesse verificando que estávamos mesmo a sós.
Ele abaixa a visão por um breve momento e suspira.— Há algum tempo eu venho tentando buscar um modo de dizer algumas coisas a você. Algumas óbvias e outras nem tanto. — Ele disse enquanto se aproximava de mim.
Eu fitei atônita o rosto pálido de Daniel, com uma vermelhidão excessiva nos pontos altos da face. Ainda tinha alguns flocos de neve em seu cabelo dourado e seus olhos claros estavam escuros por conta de toda sua confusão interna.
—Daniel, eu não estou te entendendo. — Minha voz saiu trêmula, mas irritada com seu suspense. — Que coisas são essas?
Daniel segura minhas mãos e olha no fundo de meus olhos. Suas mãos geladas me causaram um desconforto terrível.
— Belle, preciso que venha comigo até Alexandria, quero protegê-la de Negan e consequentemente do fim eminente do Santuário.
— Me proteger de Negan? Fim eminente? Daniel, eu não sei o que dizer... Eu... — Digo tentando me desvencilhar dele inutilmente.
— Não diga nada, eu só preciso que confie em mim. — Ele apertou minhas mãos com mais intensidade.
Ah, claro. E por que não, não é mesmo?!
— Daniel, você está muito exaltado, por que você faria isso? Eu não entendo. — Eu tento dizer mas sou rapidamente interrompida.
— Belle, eu a amo! Eu a amo desde antes do nosso primeiro beijo. Não preciso que me ame de volta, tudo que peço é que me deixe cuidar de você e libertá-la daquele... — Os lábios de Daniel se repuxam com nojo. — daquele crápula infernal que a mantém presa aqui. Eu não conseguiria viver se a deixasse aqui com ele.
Após um breve momento de choque eu consigo repassar tudo que ele disse e tento formular uma resposta.
— Acalme-se, eu entendo que você odeie Negan, mas...
— Por acaso vai defendê-lo? — Ele ergueu uma de suas sobrancelhas, questionadoramente.
— Não! Bem, não, mas... Veja bem, hum... — Eu estava confusa demais para terminar minhas frases.
Ele segura meus ombros, suas mãos estavam dos dois lados do meu corpo, apertando-me com firmeza, seu olhar estava vidrado no meu. Seu rosto expressava um medo extremo.
— Belle, eu vi coisas. Coisas que ele fez. Acredite quando digo que você não o conhece, você não sabe do que ele é capaz. As coisas vão ficar insustentáveis em pouquíssimo tempo...
Eu permaneci atônita, enquanto ele me chacoalhava e me desorientava com suas palavras desconexas.
— Daniel, o que vai acontecer em breve? Me conte isto direito!
— Rick jurou se vingar de Negan pela morte brutal de dois de seus melhores amigos. Vai atacar o Santuário dentro de alguns meses e eu não quero que esteja aqui quando tudo isso vier abaixo.
Era só o que me faltava....
— Rick vai começar uma guerra? — digo em uma espécie de sussurro-grito indignado.
— Não, quem começou foi Negan. — O tom de voz dele se agravou subitamente. — Belle, escute-me. Conversei com Rick, ele é o homem bom que cedeu ao seu irmão moradia e proteção. Rob não queria que eu te contasse nada a respeito do que ele está fazendo em Alexandria até que tudo estivesse certo, mas Belle, acho que finalmente o momento chegou. Rick se uniu a Rob e eles conseguiram poder de fogo e o apoio de outras comunidades para acabar com Negan. Muito em breve todos nós seremos livres. E eu quero que venha comigo para essa comunidade, quero que venha ser livre. Livre desse cretino.
Eu fiquei pensativa. Aquilo não me parecia liberdade, era mais como "sob nova direção". Se Rick fosse mesmo um homem tão bom e justo quanto Daniel diz que é, não seria ele o primeiro a iniciar uma guerra e muito menos teria se juntado ao inescrupuloso meu irmão.
Merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda merda
— Quem mais sabe disso, Daniel? — Eu o questiono friamente.
— Só você e eu. Nem mesmo Kara sabe disso. Ela é muito fiel a Negan apesar de tudo, a devoção dela a ele não a está permitindo pensar ultimamente.
Eu fiquei pensativa. Aquilo fodeu todo o meu planejamento.
— Daniel, isso tudo é demais para mim, não entendo... — Digo tentando me afastar dele.
— Eu só preciso que diga sim para mim. Deixe-me cuidar de você. — Ele disse enquanto beijava carinhosamente minhas mãos.
Meu estômago revirou inteiro com tudo que eu acabara de ouvir e principalmente com o gesto nojento e desconfortável de Daniel.
— Quando você vai partir? — Eu pergunto.
— Daqui 15 dias. Preciso juntar armas e munição o suficiente para os dias de viagem até Alexandria.
— Ótimo! Eu vou com você. — Digo decidida. — mas antes eu preciso que consiga algumas coisas pra mim também.
Ele me olhou com um olhar iluminado e esperançoso.
— Qualquer coisa. — Ele respondeu prontamente. — Do que você precisa?
Aquela foi a minha primeira mudança de planos, eu não tinha mais tanto tempo para pensar e tinha que agir rápido.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
ChickLitBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...