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Belle
Horas depois de terminar o meu chá, fui jantar com Daniel. Nada parecia ter mudado entre nós, mesmo depois do beijo horrível. Ouvi cada história de Daniel sobre o posto avançado do Sul atentamente, e tratei de tomar notas mentais sobre tudo. Daniel me contou sobre uma comunidade nova, Alexandria, se não me falha a memória, ele comentava sobre ela com tanta ansiedade e emoção que não pude deixar de me sentir contagiada pelas maravilhas do lugar também, mesmo que não soubesse o motivo ao certo.
Passado algum tempo, decidi que já estava ficando tarde e me despedi dele.
A conversa com Negan mais cedo me fez constatar que, embora ele não fosse nem um pouco adequado e que suas habilidades sociais tenham se tornado menos que ideais depois de anos vivendo de bajulação, eu adoro a forma como ele me adora. Mas acontece o extremo oposto com Daniel.
A forma como Daniel sempre sabe o que dizer, como seus olhos brilham ao olhar pra mim... É só... desconcertante. Negan havia estragado até isso para mim.
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Tinha acabado de sair do banho, usava meu quimono rose gold, enquanto arrumava minha cama, me preparando para dormir e pensando enfaticamente que mais cedo ou mais tarde eu precisaria cogitar seriamente a possibilidade de abaixar as armas.
O martírio de Negan me conferia poder, mas eu não abusaria disso.
Mas antes mesmo que eu pudesse tomar uma decisão, sou tirada de meus pensamentos por batidas suaves na porta.
― Pode entrar. ― Digo, caminhando de um lado a outro enquanto pegava meus lençóis, travesseiros e cobertores do armário.
Negan surge a porta, usava um roupão cinza e estava com uma cestinha em mãos.
― Você não foi jantar... ― Ele disse em um tom macio, e eu quase me preparei para outra resposta áspera. ― Lucy me ajudou a preparar esses bolinhos e eu pensei que você... fosse gostar.
Ele esperou uma resposta daquelas, mas eu respeitava a tentativa dele de chamar minha atenção. Para a sorte dele eu gostava de bolinhos.
Larguei meus travesseiros em cima da cama, me aproximei dele e examinei a cesta. Eram dois cupcakes de chocolate e dois de morango, todos muito delicados, eu olho para eles durante alguns instantes e Negan me olhou apreensivo.
― Qual você fez? ― Eu pergunto.
― Os de morango. Lucy fez os de chocolate. ― Ele respondeu visivelmente surpreso e esperançoso pelo meu interesse.
Eu assenti levemente e peguei um de chocolate.
Ele sorriu como quem diz: "eu devia imaginar".
Eu dou uma mordida e a massa fofinha e amanteigada se derrete na minha boca, se misturando com o sabor do creme de chocolate perfeitamente. Lucy era uma cozinheira de mão cheia. Eu me casaria com aquele cupcake se pudesse, mas mantive o meu olhar sério e frio. Se ele estava pensando mesmo que iria me comprar com bolinhos, bom, então sou obrigada a dizer que ele tinha acertado em cheio, mas eu obviamente não o deixaria saber disso.
― O que achou? ― Ele volta a me encarar como se eu fosse uma jurada do mastercheff.
― Está ok. ― Eu respondo sem muito entusiasmo.
― Não quer experimentar o de morango? ― Ele tenta soar gentil.
― Não. O seu parece horrível. ― Digo, e ele sabia que minha birra era só para irritá-lo.
Aquela foi a coisa mais cruel e mais mentirosa que eu consegui pensar sobre bolinhos de morango no momento.
Péssimo, eu admito.
Ele comprime os lábios para segurar uma risada e assente levemente.
― Se ofender um bolinho te faz feliz... ― Ele murmura.
Negan deixa a mini cesta de bolinhos em cima da minha mesinha de cabeceira e continua:
― Belle.
― Não fique me olhando com esse olhar de cachorrinho perdido, e diga o que você quer logo, não vê que estou ocupada?
Ele alisa suas mãos de forma impaciente, me olha em silêncio por alguns instantes até finalmente dizer de modo desajeitado, mas um tanto grave e profundo:
― Ensaiei muita coisa pra dizer, mas agora eu... Não consigo me lembrar de nada. E a culpa é desse seu quimono...
Negan sendo Negan.
Não digo nada, creio que minha expressão facial não escondeu minha desaprovação, porquê ele engoliu em seco enquanto trocava o peso do corpo de um pé para o outro, repetidas vezes, até continuar.
― Mas, de modo geral, o que eu tenho a dizer é que... Não sei o que você fez comigo. Se qualquer outra pessoa me tratasse da mesma forma como você vem me tratando, ela provavelmente não viveria o suficiente para me ver pedir desculpas.
Que belo conceito. Reconfortante, eu diria.
― Mas, muito desgraçadamente, consigo viver com seu ódio, convivi com ele durante muito tempo. ― Ele prosseguiu. ― Mas depois que experimentei suas carícias, olhares, seus abraços e seus sorrisos, não posso mais conviver com a sua indiferença. Porque eu a amo. ― A última frase saiu comprometida por uma raiva súbita. Não era algo que ele gostava de ter que admitir.
Ama porra nenhuma.
Mesmo assim, deixo meu bolinho de volta na cesta. Não conseguiria comer mais nada depois daquela revelação.
― Ah é? Jura? E o que eu faço com essa informação? ― Eu digo e observo os cantos dos lábios dele ficarem tensos. ― Quer que eu me jogue nos seus braços?
― Não. Quero que abra os seus para me receber.
Eu ergui a cabeça e o olhei bem de perto, por um momento enxerguei sinceridade no fundo dos seus olhos brilhantes e tristes.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
ChickLitBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...