- ̗̀ Capítulo 56ˎ'-

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- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

Belle

Acordo com o som das argolas deslizando violentamente nos trilhos da cortina. A luz do sol me atinge tão suavemente quanto um chute no rosto. Uma ressaca infernal dominava todos os meus sentidos. Após alguns minutos, eu me dou conta de onde estava. Aquele não era o meu quarto, aquela cama não era a minha e a camisa que eu estava usando tinha um cheiro gostoso que me fazia lembrar um certo alguém.

Me revirei na cama um pouco, me recusando a levantar e despertar completamente. Me forcei a lembrar de como havia chegado ali até sentir minha cabeça latejar.

E nada. Só me lembrava de ter aceito uma bebida de Daniel e tudo que se seguiu após isso se tornou um borrão de memórias enevoadas.

― Bom dia, Belle adormecida! ― Disse Negan.

Mas que caralho.

Eu mereço.

― Consegue ficar um dia sem fazer alguma piadinha com o meu nome? ― pergunto, mesmo sabendo a resposta. ― Você é tão previsível.

― Previsível? isso doeu. Vou tentar algo diferente hoje. Um poema talvez. Lá vai... ― Ele pigarreou e eu juro que eu nunca quis tanto um tiro em toda minha vida.

O filho da puta fez uma poesia sobre o meu porre.

UMA POESIA.

Se eu não fui bem clara na minha descrição, irei soletrar para que fique explícito o que eu tive que ouvir naquele lugar:

U M A P O E S I A.

Belle querida,
Quer ficar deitada onde ninguém a vê?
Chapada porque usou LSD?
Fazendo coisas que ninguém imagina?
Tomando ecstasy? Cheirando cocaína?
Completamente sem vergonha.
Tomando chá de cogumelo? Fumando maconha?

― Pelo amor de Deus, eu já entendi que você me odeia. Apenas pare! ― Eu imploro.

Ele ri, uma risada cruel que machuca meus tímpanos, mais até do que a sua poesia ruim.

― Sabe o que vamos fazer hoje, não sabe?! ― Ele perguntou.

Eu olhei pra ele, apesar de sentir a luz natural queimar minhas retinas. Negan estava sentado na poltrona do outro lado do quarto. Seu rosto estava estranhamente iluminado e ele parecia de bom humor, é claro, teve tempo até de pensar em umas rimas engraçaralhas.

― Não tenho ideia. ― Eu admito.

― Tenho três palavras pra você: Teste. De. Gravidez. ― Ele confere o relógio em seu pulso e se levanta da poltrona. ― Tenho alguns assuntos para tratar agora, mas te encontro daqui uma hora na enfermaria. Então, trate de despertar e se hidrate. Já deixei ordens para o doutorzinho te atender, sei que você deve estar com uma ressaca fodida. Alguma dúvida!? espero que não. Nos vemos daqui a pouco, princesa.

Dizendo isso ele se despede rapidamente e se retira do quarto. Eu me pego mostrando a língua raivosamente pra porta.

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

Negan não parecia bravo comigo, não do modo como eu achei que ele ficaria. Aquilo não fazia sentido nenhum. Achei que acordaria com ele me expulsando do santuário e gritando desesperadamente comigo. Sem trocadalhos do carilho e rimas fracas.

Eu não sabia o que tinha acontecido. E nada me aterrorizava mais.

Apesar da minha amnésia alcoólica, ainda conseguia me lembrar do começo da festa. E um pensamento frequente tornou a circular em minha mente, dando algumas voltas e mais voltas, mas sempre acabava em uma mesma conclusão:

Negan, perto de mim, é uma coisa.

O Negan com outras pessoas é outra história completamente diferente.

Um dos flashs de memória da festa se mantinha especialmente vívido:

A comemoração foi boa. Lembro-me de ver todos bebendo, se divertindo e conversando entre si, numa energia caoticamente alegre.
Mas Negan? Não, Negan tinha ido para a parede, afastado do centro do átrio. As sombras escuras que são seu habitat natural. Ele estava conversando com Kara. Passei por eles para pegar algumas bebidas, e ela imediatamente calou a boca, por isso eu sei que eles estavam falando de mim, fazendo algum tipo de piadinha cruel talvez, mas eu não dava a mínima. Então olhei bem no fundo dos olhos do Negan, só para ele saber que eu sabia que ele estava falando de mim.

Ele não fez nada. Apenas continuou a me encarar com seu olhar julgador, repreendendo a felicidade alheia, vivendo dentro de sua própria atmosferazinha repressiva, na qual Kara e algumas outras mulheres se prestavam a orbitar, enquanto competiam pela atenção daquele cretino.

Percebia o modo como a maioria esmagadora das pessoas ali presentes não se sentiam necessariamente confortáveis com a presença dele, naquele dia em especial.

E eu entendia o porquê.

Negan passou muito tempo cultivando e exercitando uma personalidade desprezível e temível. Foi assim que ele chegou ao poder, era isso que mantinha as pessoas sob suas rédeas e impunha respeito.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora