- ̗̀ Capítulo 38ˎ'-

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Belle

       Eu dei uma última oportunidade indireta para ele mesmo me dizer o que estava acontecendo e quais foram as causas do conflito com Rob, até mesmo me abri com ele e revelei uma das coisas mais vergonhosas sobre mim para encorajá-lo. Não havia a menor necessidade, mas ele preferiu manter sua postura e eu sabia que tão certo quanto meus pais foram cretinos na escolha do meu nome, era que havia uma tempestade que lentamente se formava entre nós, e que ela seria devastadora quando ela chegasse ao seu ápice.

       Acordei na manhã daquele dia cinza, sentia a atmosfera pesada como se o ar estivesse estagnado e a umidade estava mais alta que o normal. Mas confesso que acordar ao lado de Negan naquela manhã tornava aquele dia muito mais suportável e mais interessante. Ele era tão lindo dormindo que nem parecia um mentiroso compulsivo. Mas não importava, aquele dia eu aproveitaria ele ao máximo, depois disso só dependeria dele.

       Tomamos um banho juntos e eu o ajudei a preparar uma omelete para o café da manhã. Eu estava um pouco dolorida, mas havia dormido como uma princesa. Negan parecia estar de bom humor e me contou sobre quem o havia ensinado a cozinhar.

      ― Minha mãe era cozinheira. Meu pai, por sua vez... Apesar de ser um homem muito tranquilo, só cozinhava quando estava muito puto, era uma espécie de terapia. Tudo que sei, aprendi com a dinâmica dos dois na cozinha. ― Disse Negan enquanto dourava algumas fatias de bacon na frigideira. ― Enfim... Comíamos muito bem naquela casa.

       Meu coração se esquentou com a história. A minha infância foi toda a base de comida congelada e Fast-food, sendo filha de mãe solo... a gente aprende a valorizar comida caseira e ter alguém para comer com você. E quando eu comecei a cortar alguns tomates para a omelete Negan rapidamente tratou de retirar a faca de minha mão, e me entregou uma xícara de café.

       ― Ah, qual é?! Você vai fazer tudo sozinho? ― Eu questiono.

       ― Vou.

       ― Por que? ― Eu insisto.

       ― Porque você não tem um padrão de corte decente.

       Eu abri minha boca em formato de "o", particularmente ofendida com a frase dele.

      ― Em minha defesa... Eu teria um padrão de corte decente se os zumbis não desperdiçassem tanta comida. ― Eu digo e ele sorri, incapaz de competir com a minha lógica.

       Me limitei a observá-lo cozinhando, sentada no balcão tomando meu café. Ele parecia saber o que estava fazendo, diferente de mim. Quando finalmente pude provar sua omelete, eu me apaixonei. Tudo estava perfeito. E detestei constatar o quão metódico e perfeito era o padrão de corte dele. E enquanto eu comia, ele apoiou os cotovelos no balcão e passou a me admirar com um sorriso bobo estampado no rosto.

      ― O que foi? ― eu pergunto meio desconfiada.

     ― Nada, é que, o seu cabelo...

     ― Ah... Tá. ― Eu abaixo a cabeça meio desconcertada. ― Os fios estão um pouco rebeldes por conta da umidade.

     ― Bem, se for assim, então eu gosto deles rebeldes. ― ele afirma tocando as ondas que caiam suavemente sobre meu ombros.

     ― Tá falando sério?

     ― Tão sério quanto um chute nas bolas.

       Olhamos um nos olhos um do outro começamos a rir. E para evitar que eu o agarrasse e cometesse um ato libidinoso com ele no balcão da cozinha, eu mudo de assunto.

       ― Eu, hum, estive pensando... A gente podia retomar os treinos, o que acha?

       ― Eu acho que você tinha que ficar quietinha porque machucou a mão recentemente, e eu só voltei a sentir o meu nariz três dias atrás.

       ― Mas a gente não precisa lutar nem usar armas hoje. Que tal, começarmos por algo leve, como uma corrida.

       ― Mulher... Pelo amor de Deus, vamos voltar pra cama.

       ― A gente podia apostar alguma coisa. Qualquer coisa.

       ― Não. ― Ele responde com um sorriso.

       ― Hum... É mole demais pra isso ou só está com medo de perder? ― Eu o olhei desafiadoramente.

      Nota mental:

      Não é uma boa ideia provocá-lo, nunca é, já que sempre nos alternamos entre ser o mal perdedor e o vencedor pior ainda.

       Essa é a nossa dinâmica.

       Minha última corrida de cinco quilômetros foi em 16:20 - Digo a ele sem falsa modéstia. - Aposto como não há muitos homens que conseguem superar esse tempo.

       — É verdade — concordou ele com uma risada dançando em seus olhos. — Eu provavelmente não conseguiria.

       — É mesmo? — Eu fiquei intrigada com a ideia de superar Negan em alguma coisa.

       Ele deu de ombros.

       ― Vamos descobrir.

        Quando ele agia daquele jeito, o charme dele parecia uma coisa viva que me atraía e fazia com que eu esquecesse a verdade sobre minha situação. No fundo da mente, eu sabia que nada daquilo iria durar. Mas, a cada dia que passava, isso importava cada vez menos.

      Eu estava disposta a curtir a nossa "despedida" ao máximo enquanto torcia desesperadamente para ele se virar pra mim e dizer: Eu vacilei, foi mal. O que a gente faz agora?

       Mas certamente não foi o que ele fez.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora