𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚

- ̗̀ Capítulo 57ˎ'-

Ainda assim, não era comum vê-lo tão sério e carrancudo em uma comemoração. Era como se ele preferisse estar até no inferno, menos ali. Em dado momento, logo no início da festa, um climão se instaurou quando Simon se aproximou dele, muito provavelmente com seu típico tom de passivo-agressividade. Negan, por sua vez, sem paciência para a insistente importunação de Simon, tratou de encerrar aquela conversa o quanto antes. Simon foi ainda mais insistente quando Negan o dispensou. E a resposta definitiva de Negan para as queixas de Simon foi audível a quilômetros de distância.

― Você já sabe o que eu quero que faça, então não me questione! ― Negan gritou.

― Mas eu não quero que... ― Simon tentou igualar o tom e falhou miseravelmente.

― Então você só pode estar querendo é uma rola bem grande nesse teu cu, meu parceiro. ― Ele disse, extremamente sério e eu segurei uma crise de riso. ― Você vai fazer o que eu disse, Simon. E eu acho melhor você parar com essa sua insubmissão.

Todos ficaram em silêncio absoluto, assustados, apreensivos e chocados com a rigidez com que as palavras anteriores foram proferidas. Mas eu estava me segurando ao máximo para não gargalhar descontroladamente. Heathcliff tocou em meu ombro, fazendo o papel da minha consciência, fez uma negação com a cabeça e me olhou como quem diz: não faça isso.
E eu comprimi os lábios com ainda mais força.

Não sei ao certo o motivo da crise de riso, talvez porque eu já estivesse meio alta após alguns martínis. Eu sabia que devia ter parado no primeiro, ou melhor, nem ter começado.

Apesar do breve momento de tensão, o climão se dissipou rapidamente. Negan continuou bebendo, beijando e agarrando outras mulheres enquanto me encarava, conferindo se eu estava assistindo a cena. Estava cercado das mulheres mais bonitas do santuário. Algumas de suas "esposas" e outras operárias. Todas lhe oferecendo carícias, beijos e agrados. Mas ele não era um mentiroso tão bom ao ponto de fingir que estava se divertindo.

Ele parecia incomodado com algo, me observando com uma expressão cruel estampada em seu rosto. Eu quase me senti desconfortável com aquele contato visual tão intenso, quase. Exceto pelo fato de que aquilo me deixou irremediavelmente vaidosa.

Dançar com outro na frente dele foi uma experiência energizante, senti rios de adrenalina fazerem meu corpo formigar. Porque eu sabia que ele não faria nada a respeito, unicamente porque estava fora de cogitação demonstrar interesse demais em alguém tão substituível quanto eu. Não fazia sentido para alguém como ele, no alto de sua grandeza, se colocar na posição inferior de sentir ciúmes.

Afinal, o que as pessoas iam pensar?!

E eu me aproveitei disso, a certeza da impunidade é inebriante. E sem querer, eu o deixei em um impasse:

Demonstrar sentimentos pela vagabunda (eu), e ser desmoralizado por todos em um nível social. Ou manter sua imagem de líder fodão e viril para todos, enquanto é secretamente desmoralizado pela vagabunda na qual ele nutre sentimentos.

Bem, as duas opções eram igualmente ofensivas para sua masculinidade. E quando ficou clara qual tinha sido sua escolha, lembro-me de murmurar que ele era um cuzão antes de aceitar a maldita bebida de Daniel.

Estava tão submersa em sentimentos ruins que não me preocupei em perguntar o que era aquilo que eu estava tomando.

Não sentia ciúmes, não tanto quanto eu supus que deveria sentir.

Eu senti raiva.

Talvez porque eu entendia perfeitamente o que estava acontecendo.

Não precisava ter mais que dois olhos que enxergassem para entender que ele estava encerando sua imagem para todos ali. Negan queria que todos soubessem que ele poderia ter quantas mulheres ele quisesse, que não se amarrava a ninguém. Aparentemente, isso demostra algum tipo de poder num nível primitivo e causa respeito em outros machos da espécie humana.

Deprimente, eu sei.

Mas essa foi a escolha dele. Manter a postura que o permitia exercitar sua superioridade imaginária do alto do seu trono de pó. Como só um deus insignificante faria.