- ̗̀ Capítulo 4 ˎ'-

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- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

       Por mais estranho que pareça, o meu maior problema no Santuário não era Negan, e sim o estigma associado a mim e a minha família. As únicas que não me julgavam como sendo uma vadia traidorazinha medíocre naquele lugar eram as outras "esposas" de Negan, em especial Frankie e Amberly.

       Frankie tinha uma teoria, só existe uma coisa mais pura e genuína capaz de unir três mulheres desiludidas e apáticas: ódio. (Ou vodka, depende muito da situação).

       No momento em que nos conhecemos houve uma empatia imediata, descobrimos compartilhar muito mais que apenas o marido, nós também compartilhávamos do mesmo ódio por ele.

- ̗̀ 𖥸 ˎ'-

       Naquela manhã de clima ameno, o céu possuía um azul pálido que se assemelhava a uma calça jeans que fora lavada com ácido. Estávamos todas na sala de estar, Amberly e Frankie jogando cartas e eu bebendo religiosamente meu café enquanto lia A interpretação dos sonhos, de Freud.

       — Minha vez! — Amberly iniciou, deixando sua xícara de chá em cima da mesinha de centro. Sentada no sofá como se estivesse iniciando uma reunião de 12 passos. - Nunca tive a oportunidade de perguntar a vocês o que faziam antes de toda essa merda acontecer.

       Amberly é uma mulher alta de cabelos ondulados e com um tom de ruivo singular. Negan a tomou como sua esposa anos atrás. No início, ela acreditava estar vivendo uma espécie de troca de favores, afinal, ele cedia completamente os tratamentos médicos para sua mãe hipertensa. Porém, conforme os dias foram se passando, Amberly descobriu que não seria nada fácil cumprir aquele escambo, já que tinha vontade de enfiar um garfo de frutas em seus tímpanos todas as vezes em que ele abria a boca.

       — Eu começo — disse a ruiva, em uma animação quase infantil — Eu trabalhava como colunista da revista Poise, eu era responsável pelas matérias sensacionalistas. — confessa, erguendo as mãos como quem se declara culpada de um crime, então, pega as cartas da mesinha de centro e começa a embaralhá-las.

       — Eu era professora do jardim de infância. — falou Frankie, enquanto se deliciava com sua tigela de frutas vermelhas de café da manhã, e esperava que Amberly dividisse as cartas.

       Frankie, por sua vez, é uma mulher de estatura mediana, pele pálida e traços marcantes, sua voz rouca provém da quantidade diária de cigarros que ela consome e também explica o cheiro de suas roupas. Ela possui olhos cansados e uma melancolia natural que faz parecer que ela já nasceu sendo uma professora de jardim de infância mal paga.

      Continuei concentrada em meu livro, limitando minhas ações a somente respirar e existir.

       — Belle? — Amberly chamou, tomando de volta da mesa sua xícara de chá de camomila.

       Sentada no recamier, encaro pela janela os portões do Santuário. Estava me forçando a lembrar, pois, eu não pensava sobre isso há muito tempo.

       —  Eu era bailarina, me apresentava no Teatro Municipal. — Respondi, e finalmente me volto para Amberly e Frankie. — Vocês sabem... Lago dos cisnes, Coppélia, Dom Quixote, Romeu e Julieta, a porra toda.

       A realidade é que eu só fiz ballet por insistência de minha mãe. No final, nunca me serviu de nada. Mal conseguia pagar as contas com o que ganhava, tudo que ganhei foi um perfeccionismo patológico e estragar meus pés.

      — Pensei que você fosse psicóloga. — Disse Amberly apontando para o livro que eu segurava.

      — Eu estava no primeiro semestre quando tudo aconteceu. — assumo, um pouco frustrada.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora