- ̗̀Capítulo 44ˎ'-

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― O quê? ― Eu pergunto.

Negan se aproxima e eu percebo que ele segurava uma rosa em sua destra. Uma rosa de um vermelho tão intenso que possuía contornos negros em suas pétalas, uma perfeição aveludada que fazia as margaridas parecerem um emaranhado de ervas daninhas crescendo em uma boca de lobo.

― Acredito que na verdade você esteja se referindo a grande discrepância entre o comprimento do dedo indicador e o anelar em mulheres homossexuais, sugerindo altos níveis de androgenia. ― Explicou Heathcliff, didaticamente.

― É, pode ser... Nunca fui especialista em lobisomens e lésbicas. ― Disse Negan fazendo pouco caso, como se estivesse entediado com a conversa.

― Acho que já entendi a causa da sua alergia, Belle. ― murmurou Heath.

Eu sorri e os dois trocaram um olhar nada amigável. Uma névoa estranha de tensão paira entre nós.

― Temos um assunto pendente, Belle. ― Negan pigarreou. ― Quanto a você, dê o fora daqui antes que eu o expulse. ― ele disse vagarosamente, olhando para Heath com desprezo. Como se Heath fosse inferior a ele de alguma maneira.

O olhar dele me encheu de ódio, mas Heath não se abala.

― Conversamos depois, Belle. Optchá. ― Ele disse de modo irônico, é claro.

Me despedi de Heath e assim que ele sai pela porta Negan inicia:

― Absolutamente patético.

― Quem? Você? ― pergunto, sem muito interesse, enquanto procuro um vaso para pôr as margaridas.

― Francisbelle flertando com o enfermeiro. Patético.

"Patético" essa palavra me atinge. Ele jamais havia me chamado assim antes. Mas eu estava decidida a não desmoronar, pelo menos não na frente dele. Sabia que Negan podia ser bem cruel ás vezes, mas eu não ia ficar atrás de jeito nenhum. Se ele pensava que podia tratar todo mundo a volta dele como lixo, tudo bem, não ia me meter. Mas que ele nunca se esquecesse de que comigo a história era outra.

― Com o doutor Heathcliff. ― Eu elevo o tom para corrigi-lo, frisando a palavra Doutor. ― Ele tem doutorado.

Eu sorri e ele me encara, chocado com a minha audácia.

― Wow! Doutor... ― Ele repete com escárnio. ― Então estava mesmo flertando? ― Ele cerra o olhar.

Peguei um vaso embaixo da pia, abri a torneira e o enchi com água para as flores.

Eu o encaro: o que é que você acha?

Eu vejo sua garganta se contrair ligeiramente e ele parece estar sendo forçado a engolir algo. Como se ele estivesse provando um gosto amargo. Eu deposito as margaridas no recipiente de vidro cristalino e arrumo as flores um pouquinho. Os olhos dele seguem as minhas mãos em meio as margaridas, e ele me olha como se aquele fosse o ato mais baixo de traição.

― Você veio aqui só para me acusar do que você faz, mais uma vez? Já falamos sobre isso. ― Digo, voltando minha atenção para ele. ― Olha Negan, mesmo sendo a minha vez de te magoar, não tenho intenção nenhuma de te enganar, mesmo assim... Quero que nunca se esqueça de que, muito diferentemente de ti, eu sei como fazer isso. E se acaso eu desejar outro homem, fique tranquilo, pois não farei nada em um lugar de onde você possa ver.

A expressão de raiva que ele fez era impagável.

― Você não está falando sério... Se você está chateada pelo que Kara disse, eu posso explicar...

― Ei, ei, ei. Peraí... Você não me deve explicações de nada. ― Digo e o ego dele foi atingido em cheio. ― Não tem ninguém aqui pra você trair, tampouco ser fiel, "neném". ― Eu sorri.

Ele assentiu, mas a frustração ainda estava em seu rosto.

― Caralho, Belle. Não é porque você está irritada, que você está certa.

Eu ri mais uma vez.

― Tudo bem, então eu estou errada e não temos nada para conversar. Tenha uma boa noite, Sr. Negan. ― Digo e faço menção de sair.

Ele respira profundamente.

― Não, não. Agora é a sua vez de me ouvir. ― Ele barra minha passagem. ― Sobre Rob...

― Você teve tempo demais para falar sobre isso. Quando eu quis falar sobre isso, você mentiu. E agora, de repente... Você decidiu que quer falar sobre isso, mas acontece, que eu não quero mais te ouvir. Não preciso.

― E quando foi que você me perguntou diretamente sobre isso? No dia que me falou o seu nome? O que achou que eu fosse fazer? Estragar o nosso pós sexo por causa do merdinha do seu irmão?

― Perfeito! E com as suas mentiras você conseguiu estragar não só o pós, mas o pré e o ao vivo também. Meus parabéns, seu idiota.

― Mas querida eu...

― Não sou sua querida. Não sou seu amor. Não sou sua Tinkerbell. Me chame pelo meu nome ou teremos problemas.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora