- ̗̀ Capítulo 54 ˎ'-

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Se ela sóbria já é imprevisível, ela bêbada é um inferno nuclear pós-apocalíptico.

Eu finalmente cedi a ela.

Me viro e a permito se aninhar ao meu corpo, ela deita sua cabeça em meu braço, suas costas contra meu abdômen. Eu a abraço e ela se aquiesce animadamente sob meu toque. Belle involuntariamente mexe os quadris esfregando-se em mim, parecendo buscar a posição perfeita e mais confortável para dormir. Eu deixo escapar uma respiração pesada, quase um gemido. Aquela movimentação toda me estimulou por algum motivo. Tentei me afastar dela, torcendo para que ela não percebesse meu estado, mas ela fazia questão de dormir colada em mim. Toda vez que eu recuava ela tratava de acabar com a distância entre nós, forçando seu quadril contra minha pélvis. Eu estava excitado, ela sentiu e deu uma risadinha maliciosamente cruel. Os movimentos de seu quadril, até então despretensiosos, se tornaram reboladas fortes e intensas propositalmente. Eu me seguro para não lhe dar uma boa palmada, sabia que isso só a incentivaria, ao invés disso, eu apenas seguro seu quadril com firmeza, forçando-a a parar.

― Para com isso, porra. ― Eu ordeno.

― Parar com o quê? ― ela questionou, fingida.

― Belle... ― Eu chamei seu nome com um tom profundo, repreendendo-a.

― Mas daddy... Brinca comigo por um minuto. Vai ser rapidinho, juro... ― Ela voltou a choramingar.

― Não vou transar com você nesse estado. Tá ficando doida?! Vai dormir.

― Mas daddy... ― Ela gemeu.

― Não! Sem mais. Se continuar com a palhaçada eu vou embora.

― Ok, ok.

Ela suspirou longamente e se virou pra mim, fitando meus olhos em um silêncio leniente. Eu geralmente não lido bem com longos silêncios desconfortáveis, mas não me sentia assim com ela. Era como se compartilhássemos segredos que não precisavam ser ditos, como se já soubéssemos tudo um sobre o outro.
O que, de fato, era só uma sensação sem fundamento, porque eu tenho absoluta certeza do meu profundo desconhecimento sobre ela.

Se tudo que eu sei sobre Belle fosse só o que ela me conta, eu não saberia de porra nenhuma. E quanto mais eu descobria, menos eu tinha certeza.

Em pouco tempo, as pálpebras de Belle pareceram cada vez mais pesadas, mas ela ainda se mantinha relutante em dormir. Até que ela finalmente fechou os olhos.

― Eu odeio você. ― Ela resmungou. E eu não sabia se ela estava tendo um pico de realidade, sonhando ou delirando. ― Te odeio tanto que gasto toda a minha energia nisso. ―, Te odeio tanto que... te amo.

Eu emudeci por alguns instantes, parecia que uma corrente elétrica tinha atravessado todo o meu corpo de repente.

― Fala isso de novo ― Eu pedi.

Ela sorriu e manteve seus olhos fechados.

― Não vou te dar esse gostinho. ― Ela sussurrou.

― Seria bom se desse. ― Eu admito.

Eu sabia que o que ela tinha dito era verdade, mas eu queria ouvir da boca dela mais uma vez. Apenas para me convencer de que aquilo era real, que eu não estava sonhando e que ela ainda estaria ali comigo pela manhã.

― Eu te amo. ― Ela murmurou. ― Infelizmente, eu te amo.

A regra de não me envolver mais que o suficiente com aquele momento tinha ido direto pra casa da porra, na rua da puta que pariu, em frente a casa do caralho.

Lutei contra a vontade de acaricia-la, mas perdi, portanto, acariciei seu rosto, seus cabelos e seu pescoço. Por alguns minutos, fiquei deitado lá, sentindo a pele quente dela contra a minha, a respiração suave de Belle e observando a forma como os longos cílios repousavam projetando sombras em formatos semicirculares em suas bochechas.

— Por Deus, Belle. — Eu deixo escapar uma respiração pesada. — Isso foi lindo, só queria que você estivesse sóbria para poder ver isso. — Eu digo e ela dá uma risadinha sonolenta.

Depois de Lucille, eu nunca quisera tanto dormir ao lado de uma mulher, e só depois de Belle eu passei a entender o apelo de ter outra pessoa na cama para outra coisa que não fosse trepar. Acredito que isso mudou dentro de mim logo depois da nossa primeira ducha juntos, foi a primeira vez que eu tomei banho com uma mulher e não fizemos nada. Eu não tenho ideia do porque fiz aquilo, talvez eu só quisesse tocá-la, satisfazer minha curiosidade sobre ela, queria provocá-la, deixá-la com vontade e não dar nada a ela no final. Como ela sempre fez comigo.

Mas tudo que consegui com isso foi perceber que eu nunca fui bom nisso tanto quanto ela, uma vez que o imbecil apaixonado fui eu.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora