— Talvez, a minha função seja me submeter a cada desejo seu, o que acha?! — digo em tom jocoso — Talvez eu devesse mesmo chupar você todas as noites em troca de alguns morangos e implorar por suas investidas, apenas para reafirmar sua posse imaginária sobre mim e fingir que nada disso é aterrorizante.
Ele não conseguiu falar, gaguejou algumas tentativas de palavras, mas desistiu todas às vezes, sua garganta se apertando enquanto ele engole em seco e seus olhos descem pelo meu vestido. Aquele homem, que tinha sempre uma piadinha erótica na ponta da língua, agora tinha dificuldade para gesticular uma frase simples.
Negan mordeu a minha isca e agora se debate no meu anzol, um peixe enorme, agitando-se, sem dúvida preso. Posso sentir o ar entre nós vibrando de tensão.
Será que quer que eu o provoque ainda mais?
Ele olha para meu decote com uma expressão tão atormentada que quase me faz sentir pena. Engraçado, nunca na vida, um homem ao alcance de um taco de baseball me pareceu tão indefeso.
— Você só pode estar muito fodido da cabeça se pensa que vai conseguir isso de mim. — Digo com escárnio.
Uma expressão insolúvel de vitória se fez presente em minha face. Ele trava o maxilar, suas sobrancelhas espessas e o canto dos lábios tensos evidenciavam sua frustração e uma pitada de raiva.
Eu aproveito seu breve momento de fraqueza para me soltar de seus braços.
Sem aviso, a brisa gelada se tornou uma chuva torrencial, as gotas d'água pareciam agulhas de gelo que machucavam ao tocar em minha pele nua. Eu estava disposta a sair daquele lugar, de perto dele, o quanto antes. Eu ando, tentando fazer o caminho de volta para algum lugar seguro, por um reflexo eu olho para trás e percebo que ele estava me seguindo. Meu andar se transforma rapidamente num caminhar apressado, para em seguida se transformar em uma quase corrida. A sensação de perseguição bombeou ondas e mais ondas de adrenalina em minhas veias. Sentia minhas pernas bambas, meus dedos formigarem e uma ansiedade eletrizante, ainda estava longe do meu destino, quando, de repente, meu pé falha e uma fraqueza repentina vem acompanhada de uma dor insuportável. Quando me dou conta já estou deitada na grama. Eu havia pisado em falso e muito provavelmente havia torcido o tornozelo.Assim que eu me viro, Negan está sobre mim, ele passa seu braço por trás de minha cabeça, apoiando-a. Ele me examinou por alguns instantes, temeu que eu tivesse alguma lesão mais séria.
Sentia a grama pinicante sob minha pele, a voz dele se tornou um sussurro abafado, e um som de "piiii" ecoou na minha cabeça por alguns segundos.— Caralho, Belle! Pare de tornar as coisas impossíveis pra mim — ouço assim que a minha cabeça volta aos eixos.
Não lhe dei resposta alguma, o que o perturbou mais que qualquer outra coisa. Ele queria ter o controle de tudo, sempre. O encarava como quem diz: você pensa que eu não te conheço, mas eu te conheço.
— Ei — ele chama mais duramente. — não me obrigue a ter que...
— Faça o que quiser! — grito deixando escapar uma enxurrada de sentimentos acumulados enquanto esmurro seu peito freneticamente. — Mas eu te asseguro que não tem nada que possa fazer que vá me induzir a aceitar você ou esse futuro de merda. — Eu respiro de forma agressiva.
Ele respirou fundo, e me encarou como quem preferia mil vezes que eu tivesse lhe dado um soco no estômago.
Me sentia imunda, molhada e dolorida demais para um único dia. Ele afagou meus cabelos molhados enquanto eu sentia minhas lágrimas se misturarem com a chuva.— Diga que me odeia então. — A voz dele saiu rouca e ríspida.
A chuva estava tão forte e tão alta que quase não o ouvi direito.
— E-eu... — Hesito.
Ele me silencia com um beijo, um beijo ávido e molhado, um estranho langor se espalhou pelo meu corpo, acabando com a vontade de lutar. Ele me beijou lentamente, como se tivesse todo o tempo do mundo. A língua dele duelou com a minha e ele mordeu de leve meu lábio inferior, lançando uma onda de calor diretamente ao centro do meu corpo. A mão dele soltou meus cabelos e apoiou minha nuca. Era quase como se estivesse fazendo amor comigo, naquela relva molhada.
Vi que minhas mãos seguravam os ombros dele. Eu não fazia ideia de como elas chegaram lá, mas agora estava segurando-me nele, em vez de empurrá-lo. Não entendi minha própria reação. Por que eu não me afastava do beijo dele com desgosto?
Mas a sensação daquela boca incrível era muito boa. Ele não parecia mais furioso. Em vez disso, parecia faminto. Eu vi desejo e gentileza no rosto perfeito e não consegui afastar os olhos. Passei a língua nos lábios e os olhos dele desceram para minha boca por um segundo. Ele me beijou novamente, apenas encostando os lábios nos meus.— Eu não sei você, mas eu não beijo meus inimigos, Tinkerbell. — Ele sorriu, e mesmo com a barba, pude ver suas covinhas gentis. — Você não me odeia porra nenhuma.
Em seguida, pegou-me nos braços e carregou assim durante algum tempo, até chegarmos no quarto dele.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
أدب نسائيBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...