Tentei ser civilizada (mais ou menos), deu absolutamente errado. Tentei ser honesta, alguém diferente dele, não deu em nada. Agora, eu seria igual.
O próximo passo do plano seria o mais difícil...
Sou arrancada de meus pensamentos quando ele diz:
― Mais uma coisa... ― retomando a discussão. ― Todas as vezes que dormimos juntos, não usei preservativo.
Puta merda.
― Sim, eu sei. Algo que eu deva me preocupar? ― Perguntei.
― Não, não é isso. Heathcliff pode confirmar, faço exames com frequência. Mas não é sobre isso não... ―, Sabe, eu, em todo esse tempo, nunca havia esquecido de usar camisinha, mas você tomou a iniciativa na nossa primeira vez. Depois eu... Me deixei levar nas outras vezes, porque... Foi especial pra mim.
Ele admitiu com uma melancolia que parecia que eu tinha tirado a virgindade dele de novo.
Eu o encarei como se aquela fosse a pior conversa que eu já tive em toda a minha vida, o que de fato, era.
Eu sabia onde ele queria chegar com aquilo. Mas não sabia se ria, se ficava chocada ou se ficava triste. Por via das dúvidas eu fiquei tudo ao mesmo tempo.
― Olha, você também foi o meu primeiro homem depois de muito tempo, mas isso não significa nada agora. Não pra mim. Então faça o favor de ir direto ao ponto.
Ele engoliu em seco.
― E se você estiver grávida?
Eu ergui as sobrancelhas, chocada.
― Eu tenho DIU. ― Eu argumento.
― Nenhum método é 100%. ― Ele contra-argumenta.
― É, você tem razão. Mas prefiro acreditar que Deus não me odeia ao ponto de me fazer ter um filho com você.
A ênfase no "com você" atingiu ele em cheio. Encerrando aquele ping-pong de argumentos ridículos.
― Vamos fazer o teste amanhã, de qualquer forma. ― Ele tentou buscar um pouco de resignação.
― Ótimo, vamos fazer. Mas já que você criou até um filho hipotético na sua mente, eu sinto que preciso perguntar... O que te faz pensar que ele seria seu?
Eu insinuo e observo a estrutura daquele homem ruir mais um pouquinho.
― Porque na sua mente eu sou uma vagabunda que dá pro Daniel no meio do mato, que flerta com Heathcliff, ao mesmo tempo que dorme com você. Não é isso que acha de mim?
Ele faz uma negação com a cabeça.
― Só está dizendo isso porque está brava e quer me machucar. Vou fingir que você não disse isso.
Eu ri, ácida.
Nos encaramos silenciosamente por mais um tempo.
― Eu queria muito viver no mundo que você acha que está vivendo. ― Digo, o observando com certa curiosidade.
― Do que você está falando? ― Ele franziu o cenho.
― Deixa eu refrescar a sua memória... Eu fui arrastada até aqui como uma moeda de troca, um prêmio de consolação, longe de todos que eu conhecia e amava. O nome disso é cárcere. Você pode tentar o que você quiser. Me aprisionar, me chantagear, me conquistar, brincar de "papai e mamãe" comigo... Faça o que quiser. Tudo que terá de mim é ódio.
― Ótimo! Fique com seu ódio. Mas você permanecerá aqui até que eu decida que não a quero mais. ― Ele faz uma pausa e parece se lembrar de algo. ― E antes que eu me esqueça... Aquele maldito vestido não é um pedido de desculpas, muito menos uma tentativa de te "comprar", sei que é o que sempre pensa. Aquilo foi antes dessa conversa aqui. Faça o que quiser com ele, rasgue, dê para alguém, que seja. E...
― Eu sei... Eu sei... ― Eu o interrompo. ― Eu não sou insubstituível. ― Eu completo a frase.
Dito isso, eu me retiro.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
Literatura FemininaBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...