- ̗̀Capítulo 63ˎ'-

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Ela sabia a minha resposta, sabia o que eu queria. Nos encaramos por um breve momento com a diplomacia de inimigos antigos, até que eu me deixei vencer pelo ardor que vinha me consumindo nos últimos dias. A tomei em meus braços, praticamente avançando sobre ela com a mesma intensidade de um ataque, a ergui do chão e a pus sentada sobre a mesa. A minha respiração pesada denunciava todo o desejo que eu vinha reprimindo a dias. Belle sorriu do modo mais perverso e safado que seu lindo rostinho permitia. Ela me puxou para mais perto e seu hálito adocicado e quente me saudou como uma tentação. Meus olhos desceram instintivamente para sua boca e a fitei umedecer seus lábios com sua língua rosada. Beijei sua boca e seu colo macio de modo desesperado enquanto a sentia retribuir minhas carícias com a mesma intensidade. Seus lábios quentes percorriam meu rosto com beijos; e ela sussurrava, quase soluçando: "Você é meu, sabe que é".

Aquele beijo não significava nem de longe uma reconciliação. Estava mais para uma ameaça de morte em um idioma romântico.
Enquanto ela revezava entre afagar e puxar meus cabelos, eu sentia todo o meu desejo refletido nela. Queria possuí-la bem ali, naquela mesa.

― Eu odeio você. ― Digo enquanto afundo no decote de seu vestido, me deliciando com os sinais de seus seios e seu perfume.

― Posso viver com isso. ― Ela gemeu enquanto apertava suas pernas em volta de mim.

Belle riu porque não sentiu verdade alguma na minha afirmação e também porque o toque frio de minhas mãos subindo em suas coxas por debaixo do vestido a assustou de leve.

Por experiência própria eu sei ― que ser homem, em grande parte, consiste em saber o quão pouco disso é conseguir o que quer e quando quer. Mas eu não conseguia aplicar isso a minha relação com Belle. A minha ânsia em ter e aproveitar tudo que ela podia me oferecer me deixava mimado e egoísta.

Ela tinha certeza da minha adoração por ela, era isso que a tornava tão confiante para agir do modo como agia.

Sentia suas mãozinhas geladas dos dois lados do meu rosto, freando o meu desespero. Ela se inclinou para encostar seus lábios nos meus, mas dessa vez, seu toque foi estranhamente inocente e incerto, como se estivesse me beijando pela primeira vez. Os beijos hesitantes de Belle eram a coisa mais doce que eu já experimentara em anos, e só intensificaram a vontade que eu tinha de trepar com ela naquele mesmo momento.

Foi quando me dei conta do que estava acontecendo. Senti minhas bochechas queimarem, de desejo, estresse ou raiva. Não conseguia distinguir com certeza, talvez tudo ao mesmo tempo.

Eu havia desperdiçado dignidade demais para ter qualquer opção que não fosse a submissão. Só que alguém naquela sala detinha todo o poder e controle sobre o outro e esse alguém não era eu. Um único beijo de Belle tinha poder para me deixar absolutamente mais perturbado do que qualquer ameaça feita por Kara naquele dia.

― Por que está fazendo isso, Tinkerbell? ― Eu pergunto e a minha voz se torna rouca por conta do desejo.

Ela sorri e faz menção de responder mas é interrompida pelo som de batidas na porta. Após um breve susto, ouvimos uma voz aborrecida que vinha da porta escancarada:

― Licença. Simon e os outros chegaram e só estão esperando você... Bem, vocês, ― Kara pigarreou. ― Terminarem aí.

Kara cruzou os braços e manteve sua postura descontente enquanto eu ajudava Belle a descer da mesa. Antes que Belle conseguisse se desvencilhar de mim, eu a detenho em meus braços e a beijo por uma última vez. Um beijo profundo e só um pouco dominador.

― Me espere no meu quarto. ― Eu sussurro em seu ouvido assim que me afasto de sua boca. ― A reunião será rápida...

― Não. ― Belle respondeu, malcriada.

― Eu não estou pedindo. Isso foi uma ordem.

Ela deu de ombros.

― Leia a carta. ― Ela disse dando as costas pra mim.

Antes de Belle sair pela porta, Kara a analisou dos pés a cabeça com um olhar de desdém. Belle manteve sua cabeça erguida e lhe direcionou seu melhor sorriso a ela. Notei que Kara se sentiu visivelmente afrontada pelo ato simples. Mas subitamente Belle parece se lembrar de algo, se volta para Kara e sussurra algumas palavras em sua direção. Eu não pude ouvir por conta da distância, mas em questão de poucos segundos eu vi o rosto de Kara empalidecer e seus olhos triplicarem de tamanho.

Conforme os homens adentraram a sala e foram tomando seus devidos lugares eu observo o pequeno envelope sobre a mesa. Kara estava sentada na outra extremidade da mesa, e também encarava o envelope com um olhar vazio que eu não sei descrever com exatidão. Ela evitou contato visual comigo pelo resto da reunião, mantendo o tempo todo uma expressão estática em seu rosto que eu não consegui decifrar.

Eu não estava nem um pouco animado com o conteúdo da carta. Apesar daquele último beijo ter me enchido de esperança, não sabia o que esperar nem o que pensar.

Belle me deixou em um estado deplorável, não consegui me concentrar em nada do que era conversado naquele lugar. Por isso terminei a reunião assim que pude. Antes que Kara saísse pela porta eu ainda lhe lancei um: "Você está bem?" Que ela apenas respondeu com um simples "uhum" e um assentir leve. Achei aquele comportamento dela muito estranho, parecia que ela tinha visto o próprio demônio diante de si.

Tão logo todos saíram da sala e então, era apenas eu, a maldita carta e os cliques apaziguadores que não cessaram em minha mente.

𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora