— Você foi mordida? — A voz de Negan soou fria e cortante após um breve minuto de silêncio.Ele encarou a quantidade de sangue nas gazes no cesto de lixo ao lado de Heath e rapidamente associou as coisas. Ele se volta para Heathcliff e repete a pergunta:
— ELA FOI MORDIDA? — Ele elevou o tom ao ponto de sua voz quase se tornar um rosnado ininteligível.
Negan soou puto como poucas vezes eu o vi estar. Heathcliff se afasta.
— Não! Eu não fui mordida. Se acalma! — Eu respondo tentando não transparecer o quanto estava assustada. — Foi uma bobagem, eu só não queria te preocupar.
— O tiro saiu pela culatra, ela precisou de alguns pontos e nada mais. — Heathcliff falou com mais tranquilidade.
— Ótimo. — A voz dele deixou escapar uma ponta de alívio, mas não durou muito. — Já terminou? — Ele perguntou, retomando seu tom rude para com Heathcliff.
— Bem, sim, mas... — Heath tentou se explicar.
— Então saia. — Disse ele e Heath obedeceu.
Vê-lo tratar Heathcliff daquela forma me indignou.
— Heath, você não precisa... — Eu tento dizer.
Entretanto, Heathcliff me olhou como se não tivesse outra escolha senão obedecê-lo, antes de sair pela porta a fora. Negan me olhou incrédulo e veio em minha direção, parou em minha frente, sua postura era imperiosa e o olhar flamejante. Seu porte nunca me intimidara tanto como naquele momento.
— "Heath"? — Ele repetiu com escárnio. — Já está dando até apelidos carinhosos para outros homens? Que lindo. — A voz dele deixou escapar uma cachoeira de mágoa.
Eu não iria dignificar aquela acusação infantil com uma resposta. Mas ele traduziu a minha ausência de reação como se eu tivesse dito: "sim, e aí, vai fazer o quê?'' E o observei se empertigar todo.
— Você vai continuar me encarando ou vai me explicar o que está acontecendo? — Ele me disse em um tom duro.
— Explicar o quê? — Eu pergunto de forma genuína.
— Ah, não sei. Vejamos... — Seu tom era irônico, ele cruzou os braços e uma energia sombria e acusatória pairou entre nós. — Que tal começar por, apesar da noite de ontem, ter saído do Santuário sem a minha autorização, ter se machucado e estranhamente ter encontrado o caminho de casa com o "Senhor Gentileza". Eu acho que é um ótimo começo.
Ele estava falando alto, mas eu não entendia nada do que ele estava dizendo. Eu só conseguia me perguntar quem poderia ter destilado todo aquele veneno para ele, quem poderia ter contado a ele tudo aquilo de forma tão distorcida?!
Eu estava em choque.
— Você sabe o que isso parece, não é? — Ele correu a mão direita pela barba de forma impaciente. — Parece que estava fugindo, se machucou e só por isso voltou. Agora, antes de me acertar com o Daniel, — Ele pronunciou o nome de Daniel como se estivesse dizendo "filho da puta" - preciso saber qual a participação dele nisso tudo. Qual foi? Agora você é amante dele ou foi puro acaso? — Sua voz soou afetada, indeciso entre se manter contido e colapsar.
— Negan? Participação? Do que diabos você está falando? — Minha voz começa a soar um tanto engasgada. — Não é nada disso, você está completamente enganado...
— Ótimo! Então me explica. — Ele comprimiu os lábios com força, se encostou na escrivaninha atrás de si e continuou aguardando uma explicação.
Eu não esperava ter que explicar aquilo tudo assim que chegasse ao santuário, pensei que teria pelo menos um ou dois dias antes dele voltar. Só conseguia pensar que ele tinha fodido toda a minha programação. Não podia confrontá-lo sobre a mentira dele, pelo menos, não enquanto ele me acusava de o tê-lo enganado. Era inviável, iria parecer que eu estava dissimulando e desviando o foco, quando, na verdade, o maior e único mentiroso era ele. E quanto mais eu pensava sobre, mais puta eu ficava.
— Eu saí para uma ronda com o grupo da Kara, pensei que eu pudesse ajudar e... — Eu tento dizer em um tom apaziguador.
— Ah, você só estava querendo ajudar, como você é boazinha. E quanto a Daniel? Deu uma mãozinha pra ele também? — Sua voz soou tão amargurada e enraivecida que eu já não tinha certeza se conhecia o homem que estava em pé diante de mim.
Eu não sabia se ficava brava com suas acusações ou se ria de sua infantilidade monumental. Mas por via das dúvidas eu decidi encerrar aquilo ficando puta com suas insinuações sem fundamentos.
— Já acabou? — Digo dando tanta importância ao drama dele quanto uma professora do jardim de infância mal paga dá a um aluno birrento.
Ele respirou fundo e fez um gesto com a mão para que eu prosseguisse.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
ChickLitBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...