"Ninguém vai te tratar tão bem quanto homens arrependidos, homens que tem algo a esconder, e homens arrependidos que tem algo a esconder".
Continuei a provocá-lo sempre que podia, flertava com ele descaradamente e depois o tratava como um completo desconhecido. Negan ficava completamente desorientado com meus joguinhos mas se manteve firme na promessa de respeitar meu tempo. Muito embora, a culpa que o rodeava o impedisse de ser verdadeiramente indiferente e distante. E isso explica a quantidade de mimos e flores que eu recebia diariamente na porta do meu quarto.
Eu poderia ter parado por aí, ele já havia aprendido que brigar comigo não era tão vantajoso para ele quanto me agradar.
Mas eu realmente não sei quando parar.
Com o passar dos dias eu simplesmente cansei de ser fria e má com ele, por isso, passei a ser insuportável.
Negan agora passava mais tempo no campo de treinamento do que em qualquer outro lugar. Exercícios estavam para Negan tal qual o chocolate estava para mim. Era uma ótima forma de se manter distraído durante grande parte do tempo, além de mantê-lo em excelente forma física e ser bem menos calórico do que o meu método, eu admito.
Certa noite, eu estava preparando um chá de hortelã, fazia apenas alguns poucos minutos que estava na cozinha, tinha acabado de pôr a chaleira no fogo quando ele adentrou o ambiente depois de um treino intenso, estava sem camisa, sua pele ainda apresentava algumas gotículas de suor, sua respiração estava pesada e os cabelos levemente molhados caindo sobre a testa, de um modo muito sedutor.
Apenas observá-lo naquele estado me parecia estranhamente obsceno, fazendo aflorar meus pensamentos mais sujos. Ainda de costas para mim, ele abriu a porta da geladeira, pegou e bebeu uma garrafa d'água em poucos instantes, de forma sedenta. Eu engoli em seco enquanto fitava todo aquele soft porn de uma distância segura.A visão das costas dele encheu meus olhos, eram mais do que lindas, eram perfeitas. A pele estava bronzeada, mas não muito. De onde eu estava, conseguia ver seus músculos rijos e fortes se flexionando suavemente conforme ele se movimentava, parte do abdômen com músculos bem definidos. Notei os pêlos escuros na parte inferior do abdômen, que desciam até a cintura e um pouco mais abaixo. Quando me peguei pensando demais no que a sua bermuda escondia, me recompus, tentei não ficar olhando tão fixamente para o corpo dele igual uma ninfomaníaca. Rapidamente, voltei minha atenção para a água da chaleira e percebi que já podia desligar o fogo.
Se ele ficou surpreso ao me ver ali, não demonstrou, era quase como se ele nem tivesse se dado conta da minha presença até ele lentamente se virar para mim. E num esforço para ser educado e em respeito à nossa coabitação forçada, ele me cumprimenta:
― Olá.
― Olá. ― Respondo, após um momento constrangedor.
― Você está gostando? ― Ele pergunta e dá um sorriso de canto.
― De quê? ― Eu pergunto, meio confusa.
― Olhar pra mim. ― Ele respondeu prontamente.
Oh, meu Deus...
Quando eu vejo um sorriso safado aparecer no rosto dele, sinto meu rosto ficar vermelho.
― Não sei do que você está falando ― digo, tentando disfarçar enquanto retiro a chaleira de cima do fogão, transferindo-a para o balcão de mármore negro.
― Ah, desculpe. Acho que me enganei ― diz Negan, ainda com o maldito sorriso na cara.
Ele não se enganou com meu disfarce. Que audácia!
Espiar é uma coisa. Acusar-me abertamente de fazer isso é outra. É... bom, arrogante, para ser honesta. Mas deixei pra lá. Ele se vira mais uma vez, parece procurar algo na geladeira, se abaixa após alguns instantes e diz:
― Quer um refrigerante? ― Diz ele ainda encarando os itens da geladeira.
― Não, obrigada. Não tenho seis anos. ― Digo, em um tom passivo agressivo.
Ele não se ofendeu, assentiu, fechou a porta da geladeira com o pé e não desistiu de continuar tentando engatar um diálogo. A água da chaleira ainda estava fumegante, tratei de deixar as folhas de hortelã em infusão por cinco minutos e fui pegar uma xícara, no armário em cima da pia.
― Não é engraçado como existe refrigerante de tutti frutti misturado como alguma outra coisa?! Tipo esse, ― Diz Negan com sua latinha de Dr. Pepper de cereja e tutti frutti em mãos. ― Sendo que a definição de tutti frutti é "todas as frutas", mas que frutas são essas? E porque cereja está a parte? Cereja não é fruta também? Porra, quer dizer...
Meu Deus?
Isso é só açúcar puro misturado com veneno e uma quantidade de conservante suficiente para durar até o próximo apocalipse. Qual é cara, para de refletir tanto sobre isso. — Eu pensei.
Mas dizer tudo aquilo estava fora de cogitação, porque ia contra a minha nova política de não me importar o suficiente para responder ele com mais de três frases. E isso significava dizer que, sempre que precisava dizer algo a ele que necessitasse de mais que três frases eu reformulava a informação até caber em uma só, ou simplesmente não falava.
― Isso é você tentando parecer casual? Porque se for, para! Tá me assustando. ― Digo, muito seriamente.
Ele fechou os olhos por alguns instantes e apertou o osso do nariz. Pareceu estar tentando não rir. Ou não gritar. Uma pequena veia saltitante em seu pescoço evidenciava o esforço que ele estava fazendo para ser gentil comigo. E enquanto eu me esticava e ficava na ponta dos pés para alcançar minha xícara amarela de porcelana na prateleira mais alta do armário, ele solta a seguinte frase:
― Você pode parar de agir e me olhar como se eu fosse extremamente obcecado por você? Porque isso não é verdade.
Ah, jura?!
― Você está tentando me convencer ou se convencer disto? ― Digo, insolente.
Não houve resposta.
Ele me fitou despejar meu chá na xícara, como se estivesse pensando em uma punição apropriada para minha indocilidade. Abriu a latinha e a levou a boca, deu um gole sucinto enquanto olhava fixamente para mim, mas nada fez. No fundo ele estava gostando daquilo, e não era totalmente fora de questão que ele estivesse encarando minha indocilidade como se fosse algo extremamente sexual.
Minutos depois Lucy adentrou a cozinha com seu avental preto, cabelos loiros comumente presos em bobs médios e seu olhar frio de quem não tem paciência pra mais nada.
E Negan rapidamente voltou suas atenções a ela.
― Lucy! ― Ele disse em um tom exageradamente animado. ― Está aí a mulher que eu queria ver. ― Ele disse, chegando bem próximo dela com um largo sorriso.
Apesar de parecer que ele estava flertando com ela para chamar a minha atenção eu não dei importância. Sabia que aquele era um dos traços característicos da personalidade dele: Flertar com tudo e todos a sua volta. Suas esposas, seus subordinados, pessoas que ele precisava intimidar, e até mesmo... As esposas de pessoas subordinadas na qual ele queira intimidar.
Não iria ficar ali vendo aquela ceninha, me despedi de Lucy e fui para o meu quarto com minha xícara de chá em mãos.
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𝐕𝐚𝐝𝐢𝐚 𝐚𝐟𝐞𝐭𝐢𝐯𝐚
ChickLitBelle descobriu que amar e odiar alguém são duas coisas perturbadoramente parecidas. Negan, por sua vez, descobriu na prática que o contrário de amor não é ódio e sim indiferença. Um cretino convicto e uma mulher geniosa (e um tanto dramática), vive...